Point Of View Narrador
- Dengo. - Sheilla não a olha, murmura um "Hm" e aguarda alheia o que quer dizer, muito mais concentrada em desvendar o jogo em sua frente. Não há mistérios, é apenas sorte, contudo, Sheilla não acredita nisso e busca, incansavelmente, descobrir o segredo.
Jogou o dado de novo e mais uma vez, para no dois. Anda só mais duas casas e continuou atrás da outra dupla, já estavam com quase três pinos na frente e o último não demorará muito mais para finalizar a volta. Juma resmunga, ela revira os olhos e volta a inspecionar a textura da mesa e analisar se de alguma forma há algum relevo diferente do seu lado. Nada.
- Isso não faz o menor sentido. - Elevou o dado até em frente dos seus olhos, semicerrou os mesmos para enxergar melhor, mas de perto parece a mesma coisa que de longe. Não mudou nada, apenas um dado vermelho fluorescente em detalhes pretos; Gabriela encomendou, lembra o de clube da luta. - Como podem sempre tirar seis enquanto eu e Juma não passamos do três?
- É sorte, Sheillinha, nada mais que isso.
- Não é só isso. - Sheilla retrucou encarando o tabuleiro, ela sabe estar fadada a derrota independente de que atitude tome. De qualquer forma, não é um jogo com tantas opções de ação. - Tem mais alguma coisa que eu ainda não consegui entender.
- Certo. - Gabi disse risonha e antes que pudesse falar mais alguma coisa, Sheilla continuou.
- Mas vou descobrir.
O tom de voz ameaçador normalmente não combinaria com uma noite de jogos tradicional, mas as garotas já estão acostumadas com o quanto a mais velha leva isso a sério. Há alguns dias ganhou uma rifa de broches personalizados, eram de séries e filmes que ela nunca assistiu e nem sabia os nomes, mas gostou tanto de ter ganho que passou todo o restante da tarde sorrindo. - ela não sabe, mas Gabriela comprou todas as fichas da rifa em seu nome. ela era a única capaz de ganhar. - E está há algumas semanas invicta no dominó, mas esse fator ela deve a Gabriela. A garota a ensinou a contar as peças e mesmo jogando na dupla rival, a parabeniza por estar se saindo bem nisso.
Mas Sheilla não quis dominó hoje, quer se tornar boa no ludo e provar sua teoria: sorte não, técnica!
- Tenho certeza que vai. - Deixou um beijo em sua mão e retribuiu o sorriso largo que Sheilla a deu. Primeiro sorriso desde que o jogo iniciou, inclusive. - Enquanto não descobre, pode me buscar um pouco de água?
- Por que não pega sua própria água? - Juma já é parte da casa, não tem mais nenhuma vergonha em incomodar Gabi e a importunar sempre que pode. Um riso zombeteiro nos lábios, um pino azul entre os dedos e uma sobrancelha erguida, aguarda a resposta de Gabriela. Sheilla responde antes.
- Porque enquanto eu estiver aqui, ela não precisa pegar nada. - Deixou um selinho demorado na boca da sua garota, causando o maior sorriso que ambas deram no dia. Gabriela estava orgulhosa por ela, finalmente, estar perdendo a vergonha de agir na frente de suas amigas. Sheilla não tem um motivo tão significativo assim, só acha fenomenal o contraste que suas bocas fazem em contato. Quente com frio vira paixão; quem diria? - Gelada, mais ou menos ou morna?
- Hm. - Fitou o teto pensando na opção que mais iria demorar, analisou suas possibilidades e decidiu. - Morna, mas morna mais para gelada do que para quente.
- Então não é morna. - Bagunçando os cachos da mais nova com os dedos, Sheilla se levantou. Não passou pela porta de entrada da cozinha, olhou mais uma vez para as garotas na sala; se encantou com o cabelo de Gabi desgrenhado e voltou correndo para arruma-lo, mesmo que a dona nem tenha se incomodado. Deixou um último beijo no topo de sua cabeça, com os cachos ajeitados agora, e balbuciou. - Desculpa! Não queria estragar as ondinhas. Deu muito trabalho para fazer, imagino.
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Coffee Break | SHEIBI
RomanceGabriela é uma jogadora de vôlei bem sucedida, a melhor da sua posição, mas em decorrência da pandemia teve que sair da Turquia e voltar para o Brasil. Na intenção de não ficar parada e nem sozinha, Gabriela aceitou um emprego em uma cafeteria no Mi...