XIV

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                       Point Of View Narrador

Se Sheilla tivesse a opção, optaria por nunca descobrir sobre a vida dupla do seu ilusório marido. Assim, pelo menos, poderiam continuar a se ignorar em casa, fingindo estar tudo bem. Mas agora isso não é mais uma possibilidade, por sua parte. A descoberta foi como a última gota d'água que faltava para apagar um fogo que não esteve aceso por muito tempo, não obstante, que deixou vítimas queimadas por todo o caminho. Diferente da faísca que Gabriela acende, Sheilla não está incendiada de um bom jeito agora.

Brenno sempre fora uma pessoa de aparências, isso nunca se tornou um incômodo, ela apenas não ligava o suficiente. Desde quando comprou um Whisky Glenfarclas, mesmo tendo o mesmo sabor que todos os outros, apenas para se sobressair entre os amigos. Ou quando trocou de carro após dois anos só porque não se sentia mais o centro das atenções quando esse era o assunto. E Sheilla não era assim tão diferente para ele, era conveniente ser o membro da família com a esposa mais estruturada e linda.

Ele não sente orgulho de tê-la como mulher, sente orgulho do que tê-la como mulher o proporciona.

No entanto, Sheilla demorou muito para perceber isso, e agora, o casamento que já estava condenado a um fim, é impulsionado para uma volta por cima, unilateralmente. Brenno a compra joias caras, que ela não se importa; compra vestidos, que ela nunca usaria; renova a aliança, sem mesmo ela usar a antiga e tenta, a todo o custo, comprar a mulher de volta. Sheilla, por sua vez, não se importa assim com o material e ignora todos os presentes, os elogios pela metade, as tentativas de conversa.

Vez ou outra, o homem espreitava a mulher cozinhando e se sentia satisfeito. Ela cantarolava, sorria largo, mesmo que sozinha, meneava a cabeça no ritmo da música e então, rodava e bailava seguindo a batida. Ele achava estar fazendo efeito, pensava ser o motivo da morena estar tão em outro mundo, tão anestesiada. E quando ele passava pela porta, ameaçando a dar um beijo, se confundia quando ela desviava e partia para outro cômodo.

"Mulheres são confusas.", ele dizia para si mesmo, "Ela deve estar querendo ser difícil."

Menos de 6 semanas para o Natal e Sheilla sabe que não pode entrar com pedido de separação agora, nem mesmo conseguiria um advogado bom o suficiente. Sabe também que esse será o primeiro Natal que suas filhas irão se lembrar e não quer que seja problemático, não quer que ganhem brigas e traumas como presente. E sabe também que é a primeira vez, em dois anos, que reunirá toda a família, desde os mais queridos até as tias narcisistas, nunca poderia lidar com toda a pressão de ser a que deu errado. Mesmo que ela se sinta dando muito certo.

- Bom dia, querida! - O estômago de Sheilla revira pela voz que soa atrás de si, respira fundo buscando um pouco de paciência. - Trouxe isso para você.

E a estendeu o terceiro presente da semana, uma caixa enfeitada em um laço lilás. Ela sempre odiou lilás, a lembra flores murchas no outono e ela já o confidenciou isso, ele não deu tanta atenção.

- Já disse que não precisa me comprar nada. - Tenta ao máximo não ser ríspida, suas filhas estão presentes e não quer que elas vejam nada fora do tom.

- Não irá abrir? - Seus olhos de filhote não a mexem o coração mais, diferente disso, a faz se sentir ainda mais irritada.

E então ela abriu a caixa, sabendo que nada que visse a faria se sentir feliz. E notou estar certa quando enxergou a caixa de bombons suíços, 70% cacau e com noz-moscada. Ela é alérgica a noz-moscada, ele nunca soube, ela sempre preferiu chocolate ao leite e ele não se lembra. "Gabriela se lembraria.", pensa a mulher.

- Obrigada. - Não quis se prolongar, nem avisar que não iria comer, apenas queria que ele saísse dali o quanto antes.

- Vamos, coma um.

Coffee Break | SHEIBI Onde histórias criam vida. Descubra agora