XXII

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    Point Of View Narrador

- Thaisa. - Sheilla tentou, disfarçadamente, ter a atenção de sua amiga. - Você está ao menos enxergando o rosto dele?

- Não por completo. - A mais nova comprimiu um pouco mais os olhos para ver, mas a bebida e a distância nublavam sua visão. - Mas adoro homens cabeludinhos.

- Cabeludinho? - Tirou a taça de vinho da mão da amiga, sorrindo fraco para o rapaz e virando o rosto da mulher em sua direção. - Aquilo não é cabelo, querida.

- E o que é então, sabichona? - Indagou retórica, sorrindo convencida e transbordando o quanto estava alcoolizada.

- Um turbante preto, Thaisa. - Inclinou a cabeça na direção mais uma vez, a mais nova murmurou um: "Oh" e sorriu com a sobrancelha franzida, notando que não estava mesmo em seu melhor estado.

- Agora eu entendi. - Deu mais um sorriso travesso para o rapaz e ele retribuiu confuso. - É bonito?

- É bonito, sim. Parece ser alto. - Caçou características fáceis para descrever, mas a distância não ajudou muito.

- E sobre a boca?

- O que tem a boca? - Retirou o copo da mão da mulher, empurrando para o canto da mesa.

- É uma boca bonita? - Sheilla voltou a olhá-lo, mas desviou a atenção antes de ter a resposta, ele já estava a encarando.

- Não importa, já tem muito álcool no sangue para ficar com alguém. - Sorriu para a amiga e deu dois tapinhas acolhedores em suas costas. - Não vou permitir.

- O que? - Indagou risonha e só percebeu ser sério porque a morena manteve a posição. - Espera aí! Está falando sério?

- Claro que sim.

- Eu só fiquei bêbada para tomar coragem, Sheilla. - Precisou usar o máximo de concentração para entender o que ela dizia, sua voz travava entre algumas palavras.

- Mais um motivo. - Pegou sua bolsa no colo e se preparou para levantar. - Vou pagar a conta e te levar para a casa, deixe isso para um outro dia.

Com a bolsa em mãos, Sheilla levantou-se da cadeira, olhando ao redor para verificar onde ficava o caixa, mas nada além da banca do bartender, que estava vazia. Metade dos seus instintos procuravam um funcionário, a outra metade tentava caçar Gabriela. Queria a ver uma última vez antes de sair, apenas para guardar a certeza que ela está bem e se receber uma positiva, poderá então seguir seu caminho.

Encostada na bancada, bate o dedo polegar na parte superior de sua bolsa apoiada na coxa, enquanto aguarda uma pessoa que possa a atender para sair o quanto antes dali. Mesmo não tão perto, pode enxergar bem o rapaz anterior na frente da mesa de Thaisa e ainda que a conversa pareça descontraída e gesticulada, Sheilla não se sente confortável por saber o quanto a mais nova está fora do seu estado normal e as investidas parecem se intensificar. Seis minutos de espera foram o bastante para ela desistir de aguardar que alguém viesse, voltando a procurar qualquer pessoa para a atender, mesmo que seja Mia.

Rodou sobre os tornozelos para, por uma última vez, ter toda uma visão do ambiente só para guardar a certeza que não tinha mesmo ninguém ali para poupar seu tempo. Suspirou exausta pela noite cansativa, não queria estar naquele lugar e tão pouco estava satisfeita em sair sem nem falar com a mais nova e mesmo pesarosa de deixar a amiga sozinha por alguns segundos, resolveu caminhar para o último cômodo o qual ela não tinha visto ainda e, finalmente, poder sair daquele bar que não pretende voltar nunca.

O bar não é assim tão grande, além dos banheiros, pista de dança e a bancada de preparo de bebidas, há apenas um pequeno mezanino na parte superior do pseudo-palco. Se não fosse uma necessidade, Sheilla nunca subiria ali. A escada era giratória, feita em metal preto e ainda que sendo muito bem cuidada, limpa e brilhosa pela recente pintura, a mulher encontrou mil e um problemas para aquilo. Negou para si própria enquanto se dirigia para a escada, meio chocada com sua própria decisão. O corrimão não está sujo, ainda sim, a morena não encosta e dá cada passo acima sem ajuda, degrau por degrau. No degrau 5, exata metade, decidiu olhar para baixo e fiscalizar se tudo continuava bem ou se pelo menos seus olhos encontravam Gabriela, mas a única coisa que notou foi: Thaisa disputando quem bebe uma garrafa de cerveja mais rápido com um senhor, enquanto recebe motivações de três ou quatro pessoas. Sheilla sabe que precisa acelerar os passos. Em uma quase corrida, subiu os últimos 5 degraus.

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