IX

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                  Point Of View Sheilla Castro

Os dias aguardando a mensagem de Gabriela foram frustrantes, principalmente por estar totalmente fora do meu controle, então nada me sobrara além de aguardar e torcer para que a mulher não me esqueça. Modéstia à parte, com certeza ela sabe o meu Instagram também e ainda que sem o costume de entrar lá, esperei que pudesse ser uma forma de receber sua mensagem. Mas nada. Nenhuma ligação, nenhuma palavra, nenhum sinal. E a cada hora que eu olhava o celular na esperança de ter alguma tentativa de contato, me sentia ainda mais indesejada por não ver nada. Não faz parte da minha personalidade me sentir mal pela indiferença de alguém, contudo, nesse caso, me sinto desesperada por sua atenção, mesmo que mínima.

Sem as crianças em casa, a ansiedade é ainda pior, me deixando quase que metódica. Para não me manter sozinha, aceitei todos os convites de Thaisa dos últimos dias, até os que não combinavam comigo: Beber em bar de adolescente em um domingo de noite, ir para uma tabacaria, uma degustação de doces e hoje, por não ter sua presença, uma exposição de artes sozinha. Diferente de como são os nossos programas de sempre, os de agora estão sendo em dupla, já que a terceira parte está com programas melhores. Carol sempre fora muito grudada com a sua garota, agora noiva, e aproveitou uns dias para viajar em celebração ao "Sim!" do último fim de semana. Adoro sua relação com Rosamaria, o estado mais puro de respeito: Rosa pede, Gattaz, sem relutar, obedece. E assim seguem, se entendendo em suas loucuras.

Inconscientemente ou não, tudo o que me importunava antes, sumiu no mesmo momento em que recebi sua notificação. Mesmo que tentando disfarçar, ainda que somente para mim, era evidente - e constrangedor - o meu descompasso. Li suas palavras algumas várias vezes antes de responder e pensei que deveria demorar para dar uma resposta, apenas para não parecer tão desesperada, mas não me sinto mais tão nova para joguinhos. Esperei pelo seu contato, ainda que demorado, estou feliz que veio e de certa forma, só isso importa.

- O evento estava assim tão ruim? - Thaisa praticamente me interrogava no caminho até sua casa, que contra minha vontade, estava dando-a uma carona.

- É, não parecia como arte.

- E arte precisa de uma aparência? - Indagou novamente, quase que rindo.

- Para mim, sim. - Respondi simples, mais concentrada em enxergar se a minha floricultura de sempre estava aberta. - E o jantar, não foi bom?

- Prefiro não falar sobre isso. - Escondeu o rosto com as mãos suspirando, não pude segurar a risada. - Não tem o direito de rir disso. O que vai comprar, planta mãe?

- Planta mãe? - Parei o carro na frente e descendo mesmo antes da sua resposta.

- É, algumas loucas se intitulam assim agora. - Riu de forma debochada do seu próprio comentário ácido, caminhando ao meu lado.

- Não seja tão julgadora.

- Você julgou as artes e eu não posso julgar pessoas, provavelmente desempregadas, que tratam plantas como seres vivos? - Indagou enquanto passávamos pela entrada, que por sorte estava aberta.

- Plantas são seres vivos, Thaisa. - E minha amiga se contentou apenas em balbuciar um: "É verdade" e caminhar ao meu lado. - Dona Eugênia, que alegria saber que ainda está aberto.

- Querida, quanto tempo. - A doce senhora me deu um abraço que, ainda que rápido, demonstrava todo o zelo que tinha por todos. Mesmo sem nunca ter visto Thaisa anteriormente, presenteou a mais nova com um abraço também.

- Estava um pouco ocupada os últimos tempos. - Cocei a nuca tentando disfarçar a culpa que me atingiu, praticamente abandonei a mulher que tanto me ajudou na época do casamento. Desde que entramos em crise, passar por aqui me lembrava o casório, as brigas e o desrespeito. Mas agora, por algum motivo, não mais. O motivo era mais especial. - Como está? A senhora continua linda como sempre.

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