XX

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Point Of View Gabriela
flashback on

- Ei, garota, passe para dentro. - Uma voz aguda gritou atrás de mim, dentro de um bar aberto pela metade. - Venha logo, a chuva vai piorar.

- Quem é você? - Estava receosa, mas decidi entrar. Parece ser tarde, não vejo mais ninguém nas esquinas; até mesmo os pedintes parecem ter alguém hoje.

- Você está no meu bar. - Riu me esticando um pano para me secar, não tive forças o suficiente para levá-lo até a cabeça. Ela tomou-o de volta, secando meus cabelos. - Você quem deveria me dizer quem é.

- Só estou aqui porque me chamou. - Retruquei.

- Chamei porque não quero me sentir culpada quando noticiarem alguma tragédia com você no jornal da manhã. - Enxugou meu rosto e deixou a toalha no meu colo, passando para o lado de dentro, onde ficavam as bebidas. - Me diga logo quem é.

- Gabi. - Não gosto tanto da ideia de ser chamada pelo apelido por uma pessoa que acabei de conhecer, mas me sinto uma traidora dizendo Gabriela para um outro alguém que não seja Sheilla. Ela estragou até o meu nome. - Gabi Guimarães.

- Se é Gabi, sou Mia. - Correu o dedo por todas as bebidas, colocando uma garrafa de Vodka na bancada da minha frente. - Estou te analisando agora. - Encheu uma dose e empurrou para mim.

- Não tenho dinheiro para isso. - Empurrei de volta, impedindo que continuasse falando. - Se meu nome fosse outro, não seria Mia?

- Não sei se seu nome é Gabriela ou Gabriele. Não sei se há um ou dois L, nem sei se há algum Y. - Disse risonha, empurrando a dose de volta e pondo na minha frente. - Nada mais justo que eu ser apenas Mia.

- Qual o sentido disso? - Estou impaciente para ouvir a mulher, sua voz me irrita um pouco e sua felicidade não combina com a noite. É Natal e não há nada bem.

- Para mim tem. - Finalizou. - Me deixe adivinhar: tem problemas com os pais, fugiu de casa e está gastando tempo? - Segurou a dose mais uma vez. - Ao menos tem idade para beber?

- É uma piada?

- Se tivesse te feito rir, sim. - Soltou o copo. - Me diga o que aconteceu.

- Nada aconteceu. - Engoli em seco para não voltar a chorar, me desviando dos seus olhos avaliadores. Bebi o líquido de uma vez.

- Não vai mesmo dizer? - Me mantive quieta. - O silêncio também é uma ótima resposta. - Encheu o copo de novo. - Oh, não tem coragem de me dizer o que está sentindo, mas não vê problema em chorar na minha frente?

- Posso controlar minhas palavras, não os meus sentimentos. - Tirou o copo da minha mão, pondo atrás de si e colocando uma caixa de guardanapos no lugar.

- Não é de bebida que precisa. - Sugeriu os papéis. - Me desculpe, mas não parece ter alguém para te buscar aqui hoje, o que me diz que teremos toda a noite.

Independente de não ser sua intenção, suas palavras agem como navalhas, abrindo os cortes recém feitos em meu coração. Andei por algumas horas, pensei sobre estar sozinha quando passei pelo café e, quando cheguei no restaurante, chorei por saber que outra pessoa tem a melhor companhia do mundo essa noite. Não é ciúmes, seria fácil se fosse. Era para eu ajoelhar em sua frente, eu beijar sua boca, eu colocar um anel em seus dedos. Devia ser eu no seu lado pelo resto da noite. Por que ela não escolhe por mim?

- Isso é um gatilho? - Não sei se não a dou atenção o bastante para entender o que diz ou se suas palavras são mesmo difíceis. - É uma expediência traumática não resolvida, quando algo te lembra, desencadeia algumas lembranças. É o caso?

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