XXVII

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                  Point Of View Sheilla Castro

Deitada de bruços e com parte do corpo sobre mim, sinto o ar quente de sua respiração aquecer o meu pescoço e com os pequenos lábios entreabertos, deixa murmúrios escaparem enquanto ainda dorme. Fenômeno esse que, na minha cabeça, batizei de transcritora de sonho. Nunca entendo nada que diz, mas espero que sejam sonhos bons. A narração soa boa.

Delírio pensar que conheço o bastante da mulher ao meu lado para conseguir descrever, antes de fazer, todas suas atitudes. Sua respiração começa a se tornar rarefeita e sei que mudará de posição, suas mãos se fecham e percebo que está com frio e, quando seus pés se esticam muito sobre a cama, já sei que falta pouco para despertar. Conheço sua atuação e escolhas.

Com a ponta dos dedos, conheço suas curvas; com a ponta da língua, conheço seu gosto e gostos.

Apenas na percepção, entendo seus sons. Afoito quando quer ágil; mimado quando quer mais e desesperada quando, durante todo o tempo, acertei o que pediu. Gabriela não me pede em palavras, dá-me aqueles olhos negros como breu, morde o lábio inferior, sorri indecente e me impulsiona com a mão. Apenas com uma mão, a outra não desgruda da lateral do colchão, quase como se tivesse medo de afundar. Eu nunca permitiria.

Ela sempre pede mais. Eu nunca me canso.
Acho que já entrei mais em Gabriela do que entrei em jogos.

Não interromperia seu sono e então, mesmo com a vontade me consumindo, balbucio um: "amo você!" por cima de sua cabeça e espero que chegue até os seus pensamentos. E não há pressas, independente do tempo perdido, porque a amo aqui, mas a amo em outros lugares também. Há sempre tempo.

A entendo bem, no entanto, às vezes ela me entende ainda melhor. Elogio sua beleza com a boca ocupada em prestigiar, fisicamente, as suas vontades, mas ela me entende. Enquanto minha língua se cansa em seu corpo, tento pronunciar algo que massageie seu ego. Sai caloroso, embolado e às vezes nem eu entendo o que clamei, mas ela me entende. E então, mesmo sabendo que voltará a bagunçar em instantes, ajeita o meu cabelo sem parar de sorrir em nenhum segundo.

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- Você é tão gostosa. - A metade da minha frase foi cortada por suas pernas que, subitamente, se fecharam contra o meu rosto. A outra metade soou baixa demais para ser ouvida, seu gemido abafou.

Receei, como sempre, apertar muito forte seu quadril, mas seus pedidos aumentam toda vez que deixo minhas mãos exercerem mais força. E quando folgo os dedos, vejo a marca exata que eles deixam ali e não me resta nada além de torcer para que suma. Isso não parece um problema para Gabriela.

Os movimentos incessantes de entra e sai dos meus dedos médio e anelar, acompanhados da minha boca, se tornam mais rápidos a cada segundo. Reage de uma forma diferente a cada estocada e não para de me surpreender em como é vasta suas opções de espasmos. Aperta e puxa meu cabelo, pressiona minha nuca, tenta controlar minha mão e, pouco depois, se abre ainda mais sobre a cama enquanto geme manhosa.

Tão boa.

- Por favor, Sheilla! Por favor! - Suas palavras desconexas soam bem para os meus ouvidos, apesar de não fazer muito sentido.

Obedeço seus pedidos, mais como ordem, e entrego o que pede. Mais força, mais pressão.

Senti tanto a falta desse corpo.

Sei que se aproxima mais do orgasmo a cada vez que treme o corpo e traz mais, se é que é possível, a intimidade para minha boca. Uma de suas pernas sobre meu ombro me impede de ter muita movimentação. Me sinto presa em meu maior refúgio.

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