XIX

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    Point Of View Gabriela
                              flashback on

- Agora me diga o que acha dessa. - Dei uma volta para minha melhor amiga enxergar toda a roupa, como uma criança mostrando para a mãe.

- Fenomenal! - Bateu algumas palminhas, me abraçando por trás no espelho e ajeitando a calça no meu corpo. - Tão fenomenal como estava nas outras cinco anteriores.

- Estou nervosa, Lorenne, você devia me ajudar. - Virei para frente para te abraçar, enrolando meus braços em seu pescoço.

- Estou te ajudando desde 17 horas da tarde, já não é o bastante? - Separou o abraço para me fitar mais uma vez. - Mas já estamos aqui embaixo, não vou te esperar mais muito tempo.

- Mas não acho que estou muito formal para a ocasião?

- E que ocasião? - Perguntou risonha, nem eu tenho a resposta. - Acho que está muito arrumada para ir consolar a namorada, mas também nunca compraria tantos doces para uma só pessoa, não acho ser a melhor pessoa para opinar. - Apontou para a caixa cheia de coisas que preparei.

- Você entenderia, se amasse alguém. - A provoquei, deixando um beijo na minha aliança e tomando a caixa no colo.

- E quem te garante que eu não ame alguém? - Ainda tinha aquele olhar nostálgico. - Adiante logo, eu quero minha blusa de volta.

- Será engraçado se não estiver lá. - Comentei, rindo de sua irritação.

- Está brincando? Eu mato aquela feia.

- Não a chame de feia. - Reprovei sua atitude.

Por algum motivo, Lorenne nunca vai com a cara das garotas que eu crio interesse, sempre acha algum problema. Acha defeito na personalidade, na aparência, na forma como falam, em tudo. E por um tempo achei que talvez ela gostasse de mim e essa fosse sua forma de demonstrar, mas não é isso, só é superprotetora e ciumenta demais para disfarçar.

- Mas ela é um pouquinho feia mesmo. - Me empurrou pelos ombros para fora de casa, moro há 2 minutos de Ju, ótimo para ir andando.

Sei que ela odiará quando eu chegar com Lorenne, detesta que sejamos tão próximas e fiquemos todo o tempo juntas. É ciumenta, quase controladora, mas isso não me incomoda ao todo, eu sei que ela me ama; só precisarei entrar e sair rápido com a blusa de Lorenne e então, ela nem mesmo verá a garota. Não quero que se irrite em um dia que já está estressada, hoje não deve mesmo ter sido um dia fácil e não quero ser quem piora.

- Se demorar mais que 2 minutos, vou entrar e te beijar apenas para que ela fique ainda mais triste. - Semicerrou os olhos para dizer quando estávamos na porta, ignorei sua ameaça mesmo sabendo ser verdade.

- Por que a odeia tanto, hein? - Indaguei já na porta.

- Porque ela está tentando te roubar de si. - Confessou. - E você não percebe.

- Me roubar de mim ou me roubar de você?

- Os dois. - Riu sem humor, se encostando no muro. - Por que eu gostaria de uma pessoa que me odeia? E odeia sem motivos.

- Não é sem motivos, você não ajuda. - Girei a maçaneta, já abrindo a porta e virando apenas para lhe falar uma última coisa. - Talvez não precise esperar, é melhor que vá e te entrego depois.

A garota nada disse, apenas revirou os olhos e ameaçou dar as costas; não esperei para ver o que faria, apenas entrei na casa. Bagunçada como sempre, caixas de pizza por todos os cantos, roupas sujas em cima do sofá e o seu gato deitado na mesa, esticado como um acessório. Liguei uma segunda luz da sala para não tropeçar em suas tralhas que, carinhosamente, ela chama de coleções. Para mim, é apenas sujeira.

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