Capítulo 5: Andrew Minyard

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Neil estava sentado com as pernas cruzadas em cima do capô do carro e um cigarro queimava em seus dedos, ele esperava pacientemente Ichirou dar o ar de sua graça para irem embora daquele lugar logo.

Já passava das uma da manhã quando ele havia voltado para seu carro no estacionamento do Castelo Evermore, havia alguma confraternização entre as equipes universitárias de Exy, então o estacionamento estava lotado de ônibus coloridos. Um em especial (cujo Neil não sabia como tinha conseguido ignorar quando estacionou ali mais cedo) era laranja florescente com a pata de uma raposa em branco, aquilo podia ser visto do espaço.

A essa altura, Neil já tinha tirado o terno e a gravata sufocante, usando apenas uma camisa branca com as mangas enroladas até os cotovelos. Felizmente a camisa não havia se manchado de sangue, ele não queria ter que jogar algo tão caro fora por causa de uma coisa tão banal.

Neil estava tão entediado a ponto de notar duas figuras saindo do estádio, um homem e uma mulher, mas ignorou aquilo rapidamente, não estava interessado em pessoas e no que elas faziam em seu tempo livre, tudo que queria era dar o fora de Evermore. Ele esticou as pernas e se encostou no para brisa do carro, não era possível ver as estrelas por causa das luzes fortes do estacionamento e do estádio, mas ele as imaginou mesmo assim. Antes que o cigarro queimasse até o filtro, ele deu outra tragada e então o jogou descuidadamente no chão.

Depois de vários minutos sem ter o que fazer, com pensamentos sombrios ameaçando tomar a sua mente, Neil procurou pelo maço de cigarros no bolso.

-Porra-xingou ao ver que estava vazio. Quantos tinham sido naquele dia, 15 ou mais? Ele não tinha certeza. Ele desceu do carro, decidindo ver se Ichirou havia morrido ou algo assim, já que estava demorando tanto. Mas algo o fez parar antes que entrasse pela porta lateral, ou melhor alguém.

Era loiro, usava uma camisa preta e braçadeiras, uma calça preta rasgada com uma corrente na cintura ligada ao bolso e botas pretas. E estava fumando. Neil sentiu um sorriso crescer no rosto, ele sabia quem era aquele.

Neil se aproximou, os ombros do loiro ficaram tensos, mas ele passou um olhar entediado para Neil.

-Ei! Você não teria um cigarro para me dar, teria?

-Não-respondeu enquanto soltava lentamente a fumaça.

-Não é o que parece.

-O que você quer?-perguntou o loiro depois de notar que Neil se encostou na parede ao seu lado.

-Já disse: um cigarro.

-Vá embora.

Em um gesto rápido Neil arrancou o cigarro das mãos do loiro e o colocou entre os lábios, em um gesto mais rápido ainda, o loiro se colocou a sua frente segurando uma faca sobre a sua jugular, seu corpo se arrepiou com a proximidade, mas ele nada fez para afastar o loiro.

Tirando o cigarro dos lábios e soltando a fumaça no rosto de Andrew Minyard, Neil sorriu.

-Você é rápido.

O sorriso de Andrew podia se comparar ao seu.

-E você parece não ter amor a vida.

-Como eu iria imaginar que você teria uma faca escondida?-Neil zombou-Pessoas normais não fazem isso.

-Quem é você?

-Talvez eu responda se você tirar essa faca do meu pescoço. Foi só um cigarro.

-Talvez eu enfie essa faca mais fundo no seu pescoço. Responda a pergunta.

Neil soltou uma risada. Há muito tempo ele não tinha uma conversa divertida como aquela.

-Pode me chamar de Neil, raposa.

Andrew afundou um pouco mais a faca, algo quente escorreu pelo pescoço de Neil.

-O que você quer? Riko não teve coragem o suficiente de vir e mandou você?

Neil se sentiu ofendido.

-Claro que não. Riko não manda em mim. Agora, me faça o favor de se afastar antes que as coisas fiquem feias.

Neil usava a mão livre para segurar uma faca na barriga de Andrew, fazendo uma leve pressão. Os olhos de Andrew nunca deixaram o seu.

-Vamos ver quem morre primeiro.

Neil se moveu e inverteu as posições, torcendo o punho de Andrew e fazendo com que largasse a faca, o cigarro já perdido no chão. A faca que segurava contra a barriga do loiro já ha ia sido guardada e Neil colocou a mão livre ao lado da cabeça de Andrew e contra todos seus instintos, inclinou a cabeça contra ele até que seus narizes quase se tocassem.

-Quem está no controle agora?

Os lábios de Andrew se repuxaram em um sorriso predatório.

-Eu.

E então a cabeça de Andrew acertou seu nariz com um crak violento, assim que Neil recuou para trás, um punho atingiu o ponto bem acima de seu diafragma fazendo com que todo ar escapasse do seu pulmão.

Neil levou um minuto inteiro para se recuperar e assim que parou de se curvar sobre si mesmo, viu que Andrew tinha acendido outro cigarro e o observava com um sorriso feroz.

-Filho da puta, você podia ter quebrado meu nariz-Neil xingou, depois de tocar no nariz e descobrir que não tinha quebrado, por algum milagre.

Sangue pingava do nariz de Neil, sua boca cheia de um gosto de ferrugem. Sua camisa, que ele a poucos minutos se vangloriava de ter mantido limpa, se sujava com seu próprio sangue.

-Você começou.

Neil fez uma tentativa fracassada de limpar o sangue.

-Eu só queria um cigarro.

-E agora você está me devendo um cigarro -Andrew gesticulou para o cigarro que havia caído no chão.

-Minyard, que porra é essa?-alguém perguntou ao lado deles, Neil estremeceu, ele havia se distraído ao ponto de não escutar os passos do homem.

-Ah, treinador!-Andrew exclamou- Não é nada. Diga que estamos indo embora.

Então aquele era David Wymack, o técnico das raposas. Neil já havia visto entrevistas dele e tudo o que diziam sobre ele. Um homem que resgatava crianças de lugares e casas problemáticas e usava o Exy como forma de redenção ou segunda chance.

Wymack era um homem grande, e Neil tinha um desconfiança generalizada com homens grandes e com mais de 30 anos.

Wymack deu uma boa olhada em Neil e viu que ele sangrava profusamente pelo nariz.

-Eu disse que você não tinha permissão para bater em ninguém, seu anão psicopata.

-Ei treinador, por que está assumindo que a culpa é só minha?

Antes que Wymack pudesse dizer mais alguma coisa, Neil interrompeu com um sorriso e fez uma saudação usando os dois dedos.

-A gente se vê por aí, Minyard. Da próxima eu devolvo seu cigarro.

-Não vai ter próxima-escutou Andrew dizendo enquanto caminhava para o carro, desistindo de ir atrás de Ichirou.

Guns, rackets and foxesOnde histórias criam vida. Descubra agora