Capítulo 33: Medo de altura

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Após o treino de sexta-feira, Neil foi ao escritório de Wymack com o celular apertado firmemente no punho e com um desespero evidente tomando conta de si. Ele tinha se certificado de que seu desempenho naquele dia fosse ruim e que estivesse se distraindo constantemente, o que arrancou xingamentos de Seth quando ele acidentalmente atirou uma bola em seu capacete e discursos irritados de Kevin.

—Treinador—ele disse entrando sem bater, apenas para enfatizar seu nervosismo—posso falar com você?

—O que foi?—Wymack perguntou, desviando sua atenção para Neil.

—Sei que disse que minha vida pessoal não iria interferir, mas...

—Corte a enrolação, Josten.

—Minha cunhada grávida caiu da escada e teve que ir ao hospital, meu irmão está desesperado. Eu queria saber se poderia visitá-los nesse fim de semana.

Wymack estreitou os olhos.

—Não sabia que tinha um irmão.

—A família dele me adotou quando meus pais... uhn... faleceram.

—Nova Iorque, certo?—Wymack passou a mão no rosto quando Neil confirmou—Você não ouviu nada do que eu disse sobre Moriyamas, máfia e Nova Iorque, idiota? Você é uma Raposa agora.

—Você também disse que eles não se metem nos negócios da Segunda Família. Eu não sou ninguém para eles, treinador.

—Escuta aqui, garoto...—Wymack se levantou, mas parou o movimento quando percebeu que Neil tinha dado dois passos involuntários para trás, colando suas costas na parede.

Wymack congelou, seu ficou perigosamente pálido. Neil baixou os olhos, mas tendo cuidado de não desviar muito o olhar de Wymack, ele precisava ver quando Wymack começasse a se mover novamente. Esperou que o treinador dissesse alguma coisa, mas depois de um silêncio interminável, percebeu que Wymack não falaria.

—Não me chame assim—Neil finalmente disse em um tom afiado, recuperando sua compostura

Neil. Neil Josten que estava tão perto de quem ele era de verdade, podia mostrar tudo que Nathaniel Wesninski não podia: vulnerabilidade. Podia ceder aos seus instintos mais primitivos e se afastar quando um homem adulto mostrava algum tipo de agressividade, podia estremecer e deixar que vissem o quanto aquilo o afetava quando alguém o chama de garoto. Ser Nathaniel por muito tempo fazia esquecer que ele ainda poderia sentir. Não que Neil Josten fosse alguém de verdade, ele era apenas mais um personagem que Neil apresentava as pessoas comuns, um personagem que havia pegado a melhor parte de Nathaniel e Abram, um pouco do temperamento do pai, a língua afiada e construído uma nova personalidade, mas ainda assim, um personagem.

—Quero que você entenda uma coisa—disse Wymack.—Eu sou velho, mal-humorado, que gosta de gritar e jogar coisas, mas eu não distribuo socos, a menos que algum idiota seja burro o suficiente para tentar primeiro. Eu nunca, nunca acertei alguém sem provocação, tenho certeza que não vou começar por você. Me ouviu?

—Sim, treinador—Neil respondeu, apenas para não prolongar mais o assunto. Ele viu que aquilo não daria em nada, mas não importava, ele não tinha ido ali com a real intenção de pedir a permissão de Wymack, ele iria a Nova Iorque, gostasse o treinador ou não.

—Estou falando sério—continuou Wymack.— Não ouse ter mais medo de mim do que de Andrew.

—Eu não tenho medo do Andrew—Neil retrucou, quase ofendido.

—Oh, sério?—a voz alegre de Andrew flutuou até seus ouvidos quando ele escancarou a porta e entrou na sala—Parece que não estou fazendo meu trabalho direito, então. Vou ter que me esforçar mais.

Guns, rackets and foxesOnde histórias criam vida. Descubra agora