Guns, rackets and foxes

Capítulo 8: Uma verdade por outra

Neil guardou a lâmina no bolso e deu outro trago no cigarro, olhando em volta.

-Está muito cheio aqui, vamos conversar em um lugar menos barulhento-disse a Andrew.

De algum jeito Andrew havia conseguido uma garrafa inteira de vodka e agora bebia o líquido transparente pelo gargalo.

-O que te faz pensar que eu quero conversar com você?

-Você veio até mim, o que mais quer que eu pense?

Andrew abaixou a garrafa e se levantou.

-Me siga.

Neil pressionou o cigarro contra a mesa, apagando-o e o colocou no bolso para mais tarde.

Eles não precisaram passar pela multidão para chegar a uma porta, nela estava escrito "somente para funcionários", Andrew ignorou o aviso e empurrou a porta que dava para um corredor curto.

-Você parece conhecer esse lugar muito bem-Neil disse, observando o corredor. Eles foram até outra porta escrito "saída". Neil aceitou de bom grado o ar frio que soprou em seu rosto e entrou em seus pulmões.

-Eu já trabalhei aqui-disse Andrew, indo até o meio fio e se sentando.

A porta dos fundos havia dado em um beco sem saída e estava totalmente vazio, com exceção da grande caçamba de lixo ao lado da porta. Neil foi até o meio fio e se sentou ao lado de Andrew deixando uma distância confortável entre eles.

-Isso foi antes ou depois de você ser sentenciado no tribunal?

-Você parece achar que sabe muitas coisas sobre mim-disse Amdrew, com a voz apática enquanto bebia a vodka.

-O tribunal sabe que você não está tomando seus remédios e em vez disso bebe e fuma para amenizar os efeitos da abstinência?

-Já foram duas perguntas, Josten, essa não é a sua vez.

-Certo, pergunte o que você quer saber.

-O que você estava fazendo no Castelo Evermore aquele dia?-Andrew perguntou se hesitar, ele parecia saber exatamente o que queria perguntar.

-Eu poderia ser um jogador.

-Você não é.

Neil suspirou.

-De uma maneira simples, vamos dizer que eu estava trabalhando. Eu tinha alguns negócios por lá.

Ele olhou para Andrew que parecia satisfeito com a resposta por mais vaga que tivesse sido.

-Trabalhei aqui depois de sair do reformatório e antes de "ser sentenciado pelo tribunal" como você mesmo disse.

Neil nem tentou fingir surpresa, ele conhecia a ficha criminal de Andrew.

-Você tem uma vida bem agitada.

-Sei que a maioria dos eventos no Castelo Evermore são apenas fachada para algo maior, que tipo de negócios você tem com os Moriyama?

-Você parece bem interessado nesse tipo de coisa-Neil falou, enquanto recuperava o cigarro que estava fumando e o acendia, ele ofereceu o maço para Andrew.-Espero que saiba que esta informação vai custar caro.

Andrew colocou a garrafa de Vodka no chão e pegou um cigarro, Neil tirou um isqueiro do bolso e acendeu o cigarro que Andrew havia colocado na boca, seus olhos nunca deixando os de Andrew.

-Sei-foi a resposta de Andrew, ele desviou o olhar e se concentrou no outro lado da rua.

-Prometa que não vai sair contando aos outros o que ouvir de mim e eu prometo não contar sobre seus segredos.

Andrew soprou a fumaça.

-Tudo bem. Não estou interessado em fofocar, muito menos espalhar segredos que não são meus.

Neil não sabia o que o levou a acreditar em Andrew e dizer verdade, ou parte dela, talvez fosse o fato de que ele realmente estava curioso sobre Andrew e sabia que se o loiro sentisse que ele estava mentido seu jogo acabaria ali.

-São negócios ilegais, é meio óbvio e você não parece surpreso, então Kevin deve ter lhe contando tudo que sabia sobre os Moriyama. Resumindo herdei algumas dividas e agora tenho que pegá-las e é isso.

-Eu tinha que saber ao menos onde estava me metendo antes de aceitar Kevin.

-Isso é outra coisa que me deixa curioso, mas eu vou guardar essa pergunta para depois. Eu quero saber o que mais você esconde sob as braçadeiras além das facas.

Andrew congelou no movimento de levar o cigarro aos lábios, seus ombros ficaram tensos, mas seu rosto continuava desprovido de qualquer emoção.

-Eu disse que ia custar caro.

Andrew deixou o cigarro entre os lábios, e retirou lentamente a braçadeira esquerda e depois a direita, então estendeu os braços com os pusos para cima. A luz do poste refletiu em seus antebraços marcados com cicatrizes antigas de cortes, as cicatrizes eram uniformes. Neil sabia que aquele tipo de corte era para sentir dor,o suficiente para deixar uma cicatriz, mas não tão profundo a ponto de sangrar até a morte. Neil se deteu antes que sua mão fosse até o braço de Andrew e em vez disso levou a mão até o próprio pescoço, onde Andrew havia colocado uma faca e feito pressão o suficiente para tirar um filete de sangue algumas semanas atrás.

Neil desviou o olhar e se forçou a soltar uma pequena risada.

-Isso explica parte da sua habilidade com a faca.

Andrew colocou as braçadeiras de volta.

-Não vai perguntar?

-Não é a minha vez-Neil bufou.

-Como Kevin conhece você?

-Bem-Neil deixou seu cigarro queimar em seus dedos, as cinzas caindo no asfalto-Eu disse sobre a dívida, é uma dívida de anos e quando eu era mais jovem eu passei algum tempo em Evermore, treinando com os Corvos. Você pode não saber, mas jogar com eles era muito bom para aliviar o estresse, com toda aquela brutalidade e crueldade.

-Isso não explica totalmente por que ele parecia prestes a vomitar quando viu você.

-Não, não explica. Mas sei o que está pensando, Minyard. E vou lhe dizer isso de graça: estou pouco me fodendo para Kevin, ele pode fazer o que quiser, e se eu quisesse mata-lo, não seria você a me impedir.

Ele e Andrew voltaram a se encarar, os olhos castanhos claros de Andrew cheios de ameaça.

-Então vou lhe dizer outra coisa de graça, Josten. Não se ache tanto, se um dia você tentar tocar nas minhas coisas eu vou cortar você em pedaços.

Neil sentiu um sorriso feroz aparecer em seu rosto.

-Não me desafie, Minyard, você pode não ser capaz de lidar com as consequências.

Andrew soprou fumaça no rosto de Neil.

-Se está tão confiante por que não tenta, Josten?

Então jogou o cigarro no chão e se lavantou com a garrafa, pisando no cigarro antes de voltar para dentro.

Neil sentiu que Andrew Minyard havia acabado de se tornar ainda mais interessante.