Capítulo 63 ( Família Park)

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Sandara.

Com meus olhos fechados, apoio minha cabeça no banco do carro e fico lembrando das palavras da Hyolyn, cheias de acusações e mágoas.

Eu conheci Somin assim como o Jimin conheceu seus amigos, na escola para ômegas.

Eu sempre fui muito insegura e Somin sempre teve uma personalidade gentil, e sempre sabia como agir em todas as situações. Mesmo sendo ainda uma menina, já carregava esse jeito de mãezona, que adora cuidar de todos, se preocupando se os coleguinhas se alimentaram, se estavam cobertos, ou se calçaram as meias nos dias frios. Ela sempre teve vocação para ser mãe, e eu adorava me acolher em seus braços recebendo um carinho que nunca havia recebido em casa, por Hwasa exigir demais da atenção dos meus pais, sempre arrumando problemas por onde fosse.

Ao me lembrar disso vejo o quanto Rosé puxou a personalidade da minha irmã.

Quando eu voltei da maternidade, estava louca de saudades do meu filho, queria sentir seu cheirinho gostoso, ouvir suas risadas e as muitas historinhas que ele adorava contar. Eu tinha certeza  ele também estava morrendo de saudades, mas ao chegar em casa e não encontrá-los, me deixou preocupada.

Saímos à procura da minha irmã, mas não a encontramos em sua casa, que estava fechada e os vizinhos disseram que fazia muito tempo que ela não aparecia em casa, a partir daí tudo começou a desmoronar, o desespero bateu forte, por não saber mais o que fazer ou onde procurá-los.

Ao descobrirmos o bilhete que Hwasa deixou, eu chorei muito, sentindo meu medo e minha dor aumentar ao ponto de me tirar o ar, tive uma crise severa de ansiedade depois de tanto tempo sem ter uma crise.

A cada dia minha dor criava raízes me tirando a vontade de viver. Eu passava mais tempo no quartinho do meu filho, sentindo seu cheirinho gostoso em suas roupinhas que ficaram, enquanto eu chorava.

A alegria do meu pequeno lobo era meu combustível, e viver sem ele era como morrer um pouco todos os dias..

Eu sabia que tinha uma bebê que dependia da minha atenção, eu fazia o que podia para cumprir minhas obrigações, mas eu cuidava dela no automático, cumprindo minha função de cuidadora e não de mãe, sem dar o carinho que minha filha precisava, não por maldade, não intencional, mas a cada dia a dor da perda me fazia sucumbir, me tirando totalmente o ânimo. Eu não conseguia dormir, e quando conseguia pelo cansaço do choro, acordava assustada com os pesadelos apavorantes.

Por duas vezes estivemos na Alcatéia Sul em busca de ajuda, mas não os encontramos. Antes mesmo de entrarmos na Alcatéia, fomos informados que eles haviam viajado e não tinham previsão de retorno. Estávamos tão desesperados que sequer pensamos em perguntar para onde eles tinham ido.

Só quem já passou por algo parecido consegue entender a dor e o desespero que sentimos por nao saber o quê estava acontecendo com nosso filho, dos pensamentos apavorantes que a crise de ansiedade criava me fazendo adoecer cada dia mais, me afundando ainda mais na depressão.

Eu não conseguia ver minha filha crescendo, não conseguia ver meu marido tentando suprir minha ausência na vida dela, não conseguia ver que minha dor estava judiando dos que também dependiam do meu amor, eu só via minha perda, minha dor pela ausência do meu filho.

Sem sua presença naquela casa, minha vida perdeu todo o sentido, a cor...

Quando Rosé foi para a escola, Hyung-Sik caiu numa tristeza profunda assim como eu estava vivendo, como se nossa filha tivesse sido sua âncora até aquele momento.

No ápice da minha dor, o pensamento de suicídio passou a povoar minha mente, por diversas vezes eu pensei em acabar com minha dor, mas desistia ao me forçar a acreditar que o encontraria novamente. Eu suportei por muito tempo, até que chegou um momento que eu não tinha mais forças para lutar e numa madrugada, após acordar de um pesadelo apavorante, totalmente tomada pela dor, sai do quarto e fui para a cozinha, peguei uma faca na intenção de tirar minha vida, mas meu marido chegou na hora exata  em que eu iniciava o corte, ele me abraçou forte depois de tirar a faca da minha mão. Nos sentamos no chão e ficamos ali chorando por muito tempo.

Diante da dor que eu estava vivendo, eu não conseguia mais enxergar a solução, não conseguia pensar em nada além da minha dor, do meu sofrimento.

O tempo foi passando, e eu aprendi a conviver com a dor, não que ela tivesse diminuído, só me acostumei com ela.

É fácil julgar as atitudes dos outros quando não sentimos a dor na pele, pois só quem sofre sabe o quanto é difícil sobreviver todos os dias carregando essa dor.

Quando encontramos nosso filho, depois de quase dezoito anos, soubemos que Rosé já conhecia e maltratava o irmão, não só ele, mas os ômegas machos da escola sofriam com as maldades dela.

Foi num momento de descontrole que acabei batendo em seu rosto, após ouvir diversas acusações da minha filha, não que ela estivesse errada em relação a meu distanciamento durante toda sua vida, mas pelo que ela disse sobre seu irmão, o ódio em suas palavras e a falta de respeito.

Somin e Wonwoo fizeram uma reunião conosco, falando sobre nossas falhas na educação da Rosé, e aí eu percebi o quão mal eu fiz a ela. Porém minha filha não estava mais disponível para tentar compreender nossos motivos, não queria mais uma aproximação, só via tudo isso como uma oportunidade de fazer o irmão sofrer — Só agora eu percebi isso — Ela passou a exigir cada vez mais da nossa atenção.

No hospital, depois dela tentar prejudicar o Jimin, eu tive outro ataque de fúria ao descobrir a verdade.

Eu acabei cuidando demais da Rosé por saber que Jimin estava sendo bem cuidado pelos sogros e o marido, mesmo querendo estar ao seu lado, cuidando dele, participando de cada etapa da gestação...

Por fim, eu já não sabia mais o que fazer, estava confusa, e assustada com tudo aquilo

De um lado estava meu filho, de quem eu senti tanta falta e queria a todo custo mimar, beijar, sentir seu cheiro, demonstrar para ele o quanto eu estava feliz por tê-lo encontrado; do outro lado estava Rosé, que exigia muito da nossa atenção, somada a culpa por não ter dado a ela o amor que ela precisava. Ao meu redor, no meio de toda essa bagunça, haviam as pessoas que cobravam de mim uma posição de mãe para ambos os filhos, e dentro da minha cabeça, um emaranhado de informações, cobranças e obrigações... Agora juntem tudo isso numa cabeça que sofre de transtorno de ansiedade e me diga se é fácil.

Sem falar do desespero que senti ao ver a Rosé encurralada na sala onde estavam os ninhos, com três ômegas enfurecidos, eu senti muito medo por ela.

Ao vê-la fugir com Somin a seguindo, eu não pensei em outra coisa além de ir atrás na tentativa de convencer minha amiga a não tomar nenhuma atitude drástica, no entanto no momento em que eu tentava impedi-la de se aproximar da Rosé, não vimos quando Hyolyn chegou, e ao ouvir seu grunhido desesperado, eu olhei na direção em que ela deveria estar, mas o que eu via era ainda mais desesperador... A Hyolyn toda suja de sangue e o corpo da minha filha caindo aos meus pés... Uma cena traumatizante demais para qualquer pessoa, imagine para uma mãe. Por mais errada que eu tenha sido, era minha filha que estava ali caída aos meus pés com sua cabeça separada do corpo.

Depois de tudo tive que ouvir todas aquelas coisas que ela disse, não tive outra atitude além de me deitar no chão e chorar.

𝙇𝙤𝙗𝙤𝙨 (𝐉𝐢𝐤𝐨𝐨𝐤) Onde histórias criam vida. Descubra agora