1x13 - Pedro (Parte II)

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- Uns ladrões tentaram roubar a carroça do Barnabé.

- Meu Deus! - exclamou Ângela. - Aqui, em Montes Calmos? Ele está bem? Avisaram a polícia?

- Não sei. Acho que sim... não vi direito. Foi a hora em que eu fugi. Ia tentar pegar o ônibus e ir pra casa da minha avó.

- Por que não tentou voltar pro sítio? Com certeza algum carroceiro daqui conhece Dona Benta e ficaria feliz em lhe ajudar.

Havia, na verdade, dois motivos. Um era o esforço e o risco ao qual Barnabé se expusera arquitetando sua "fuga", bem como o alerta dado pelo peão. O outro, até então, se mantivera velado no peito do menino, inflando-se gota a gota como uma bexiga a comprimir-lhe o coração, mais e mais, até ser alfinetada pela pergunta de sua professora.

Pedrinho tentou conter a explosão de lágrimas, mas não pôde.

- Porque sinto falta da minha mãe. - disse ele, aos soluços. - Da minha casa.

- Oh, Pedro.. - Ângela arrastou a cadeira para seu lado e o abraçou. - Não tenha dúvida de que sua mãe também sente muito a sua falta. Por isso é tão importante que ela sinta que está seguro com Dona Benta. Mas, se você quiser, pegamos o carro e descemos a estrada até a casa da sua avó. A escolha é sua.

Pedrinho recuou, e seus olhos marejados encontraram os de sua professora.

Uma hora depois, atravessavam de carro a vila da senzala. Não fora sequer uma escolha, de fato. Pedrinho já sabia o bastante para concluir que a ameaçadora sombra que pairava sobre o sítio era real, certeza esta reforçada pelos olhares atravessados que lhe dirigiram alguns dos moradores da vila enquanto passavam.

Logo, por mais que fosse grato pelo gesto de Barnabé, não podia simplesmente ir embora, deixando ele, Dona Benta e, principalmente, Narizinho, entregues à própria sorte. Eram seus amigos, e sentia que devia ajudá-los. Seu medo era grande, mas pela primeira vez sentia que sua coragem era maior.

Pedrinho estava sentado no banco do carona, mesmo lugar ocupado por sua mãe quando chegara ali pela primeira vez. Em algum lugar distante, ela lutava por alguém que amava.

Pedrinho faria o mesmo.

Quando o carro estacionou diante da Casa Grande, Dona Benta desceu correndo as escadas ao seu encontro. Cobriu-lhe de beijos e abraços apertados, antes de voltar-se para Ângela. Como faz criança quando pêga em uma travessura, Pedrinho se colocou de lado, e cabisbaixo ouviu a professora reproduzir, à sua maneira, seus motivos para ter fugido daquela forma.

Sentindo-se observado, Pedrinho ergueu ligeiramente seu olhar. À distância, na passagem que dava para os estábulos, Barnabé o observava. O peão aparentava estar paralisado. Vinha conduzindo pelo cabresto o mesmo cavalo que quase matara os dois na estrada, mas por pouco o laço não lhe escapuliu por entre os dedos quando o animal relinchou e sacudiu o corpo.

- Ah, Pedrinho! - exclamou Dona Benta, quando Ângela concluiu seu relato. Então, dando mais um abraço apertado em Pedrinho, a senhorinha disse, em tom clemente: - Me perdoa! Me perdoa por não ter dado mais atenção... não vi que tinha ficado com tanto medo! Quando o Barnabé chegou aqui sem você... Eu não sabia... Não sabia o que pensar! Por favor, me perdoa!

- Tá tudo bem, Dona Benta. - respondeu Pedrinho. - Eu não devia ter feito isso com a senhora, nem com o Barnabé.

Quando Pedrinho tornou a olhar, o peão já havia desaparecido nos fundos da Casa Grande.

- Que bom que tudo não passou de um susto, afinal. - disse Ângela. - Agora acho que já vou indo, tenho uma longa estrada pela frente.

- Não quer ficar pelo menos pra um café, Ângela? - perguntou Dona Benta. - Tem bolo fresquinho.

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