1x15 - A Promessa (Parte I)

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- O que a Emília fez?

- Fala baixo. Ela não sabe que eu tô aqui.

- O que ela fez? - repetiu Pedrinho, em um tom mais baixo.

- Ela não fez nada! - exclamou Narizinho em resposta, mas alguém que estivesse à porta não conseguiria ouvi-la.

- Então por que tá com tanto medo?

- Eu não tô com medo. É que.. é que..

- É que o quê?

- A Emília tá esquisita e eu não sei por que. Desde que você voltou.

- Esquisita como?

- Às vezes eu falo e ela não responde. Acho que tá chateada.

- Porque eu voltei?

- Não sei. Acho que sim. Ela tinha dito que você não ia voltar nunca mais, mas que era pra eu não ficar triste porque a gente ia ser amiga pra sempre. Mas depois que você apareceu... talvez ela tenha ciúme de você.

- Por que acha isso?

Narizinho hesitou por um segundo. - Por causa de uma coisa que ela disse antes de você chegar aqui a primeira vez.

- Antes... de eu vir morar no sítio? - tempos atrás aquilo poderia ter soado estranho para Pedrinho. - O quê ela disse? Narizinho, fala de uma vez!

- Shhh... tá bom, eu falo! A Emília tinha dito que já que você ia morar aqui a gente tinha que ser muito amigo, muito mesmo, nós três, pra você nunca tentar me separar dela. Mas não foi isso que aconteceu. Então quando você foi embora com o Barnabé, ela disse que a gente teria que ter mais cuidado quando chegasse outra criança, e não gostar dela e nem confiar nela e nem contar pra ela nenhum segredo.

- Mas aí eu voltei.

Narizinho balançou a cabeça.

- Você confia em mim?

- Confio. Se você diz que a gente tá correndo risco eu acredito, mesmo que a Emília diga que é mentira e que ela vai tomar conta de mim. - aquela confissão mexia com os sentimentos da menina. - Eu adoro ela, mas ela não consegue brincar comigo que nem você, e a Tia'Nastácia já tá muito velha pra brincar. O Barnabé também. E ele fede a porco.

Pedrinho deixou escapar uma risada. Fazia tempo que não experimentava aquela sensação.

- Queria que vocês fossem amigos.

- Eu e Emília? - indagou Pedrinho, de alguma forma duvidando que aquilo fosse possível.

- Aham. Não gosto de ficar guardando segredo de vocês.

Um alarme soou na cabeça de Pedrinho. Narizinho estava querendo lhe dizer alguma coisa. Mesmo na penumbra do quarto, ele conseguia perceber isso pela tensão no rosto da menina.

- Aconteceu alguma coisa enquanto eu tava fora, e a Emília não quer que você me conte. Não é isso?

Narizinho baixou a cabeça.

- E se eu deixasse você contar nossos segredos pra ela? Daí não teria problema você me contar os de vocês, né? - sugeriu Pedrinho, sentindo-se mal tão logo acabou de falar.

A impressão que tinha era de que ludibriava Narizinho, e isso lhe incomodava, por mais que soubesse o quanto era necessário descobrir o que ela escondia. E por mais que se achasse tão esperto por ter pensado naquilo.

- Acho que assim tudo bem. - respondeu-lhe Narizinho, por fim. Seu plano dera certo.

A menina pôs a mão dentro do vestido e tirou de dentro uma folha de papel, dobrada desalinhadamente. Estendeu a Pedrinho como se lhe ofertasse um pedaço de seu coração.

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