1x11 - O Peão (Parte I)

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- O que estavam aprontando dessa vez, molecada? - perguntou Barnabé.

As carinhas suspeitas entregavam a mais recente traquinagem, mas a verdade era que, naquele momento, a questão pouco preocupava a Barnabé. Sua atenção continuava voltada para o outro peão, aquele que acabava de sumir de sua vista, carregando consigo seu recado secreto.

- Nada. - disse Narizinho. - Só o Pedrinho que tá te procurando a manhã toda.

- É mesmo?

- Aham. A gente foi até a casa da Tia'Nastácia.

Pedrinho estacou, desconcertado pela súbita revelação de Narizinho. Por um breve instante, sem que os dois percebessem, os olhos de Barnabé fitaram o vazio.

- Não tem problema contar pro Barnabé. - continuou ela. - Ele é nosso amigo, né, Barnabé?

- Claro que sou. - respondeu Barnabé, engolindo em seco. - Lugar de criança é correndo solta por aí, não dentro de casa. E a Narizinho já conhece esse sítio melhor do que eu.

Narizinho esticou um sorriso convencido e arqueou as sobrancelhas para Pedrinho.

- Mas... - acrescentou o peão. - Já tá quase na hora do almoço, e se pegam vocês dois aqui proseando fiado comigo vai sobrar é pra mim. Ainda mais depois do susto que vocês deram na gente ontem. Vamos, vamos que tá bom de brincadeira por agora.

Com essas palavras, Barnabé conduziu Pedrinho e Narizinho pelos poucos passos que restavam até a Casa Grande. Pedrinho sentiu-se aliviado. Ao menos a presença de Barnabé evitaria que tivessem que combinar alguma desculpa, caso Dona Benta ou Néia já estivessem esperando pelos dois com uma bronca.

- Ah, queria falar comigo, Pedrinho? O que foi? - perguntou Barnabé, enquanto contornavam o jardim.

- Nada. - mentiu ele. - Nada não.

- Como nada? - estranhou Narizinho. - Por que passou a manhã toda atrás dele, então?

- Nada importante. Já esqueci. Depois eu lembro.

Pedrinho sabia que não ia ter tempo de fazer todas as perguntas que queria antes que chegassem à casa e aos ouvidos atentos de Néia. Precisava de mais tempo a sós com Barnabé.

Mal sabia ele que a oportunidade perfeita estava prestes a se apresentar.

- Tudo bem. - disse Barnabé. - Pedrinho, amanhã de manhã eu vou precisar dar um pulo ali na cidade vizinha, pra cobrar algumas notas pra Dona Benta. Quer ir comigo? Você pode me ajudar vigiando a carroça enquanto eu falo com os comerciantes.

- Quero sim! - concordou Pedrinho, na mesma hora. Enchia-lhe de ânimo a perspectiva de poder ter horas e horas de papo com Barnabé e, ao mesmo tempo, fugir da rotina de mato (e de monstros) do sítio, voltar a ver lojas, prédios, carros, e tudo o mais que estava acostumado a ver em sua cidade natal.

- Ahh.. eu também quero ir! - disse Narizinho, cheia de manha.

- Não pode, Narizinho. - disse Barnabé, sorrindo. - Se eu tirar vocês dois daqui e deixar a Néia sozinha, ela arranca meu couro fora. Nem sei se a Dona Benta vai deixar que eu leve o Pedrinho, quanto mais você também.

- Pois tomara que ela não deixe! - inconformada, Narizinho abraçava Emília com força.

- Narizinho, não seja egoísta, vai. Além disso, você já foi a Montes Calmos comigo uma vez, esqueceu? Agora é a vez do Pedrinho.

E foi a vez de Pedrinho sorrir e arquear as sobrancelhas, irritando ainda mais sua prima de consideração. Narizinho passou à frente de Pedrinho e de Barnabé e subiu batendo os pés pelos degraus da Casa Grande. Abriu a porta da sala com força, sem se incomodar em fechá-la.

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