Second Chance [Ranu]

23. Finally//Beautiful Stranger, Halsey

"Lindo desconhecido, aqui está você
em meus braços, e eu acho que é
finalmente seguro para eu me
apaixonar."

Manoela Gavassi

 2021

A morte dos meus pais acelerou diversos processos dentro de mim, e por mais só tivesse sete anos e não entendesse muito bem o que tinha acontecido ou como as coisas seriam dali para frente, a primeira coisa que me veio a cabeça foi Catarina. Sabia que precisava cuidar da minha irmãzinha como meus pais costumavam cuidar de nós, foi pensar nela que me fez parar de chorar, levantar do gramado molhado e entender que a vida não iria esperar minha dor passar para continuar.

Um pensamento muito forte para uma criança de sete anos, e talvez isso tenha me levado à terapia alguns meses depois, mas não vejo essa atitude como um malefício. Alguém precisava tomar as rédeas da situação, e mesmo que minha vó materna tivesse com nossa guarda, no fundo sentia que era eu quem deveria cuidar de Catarina.

Infelizmente isso me trouxe algumas pequenas travas, não conseguia relaxar completamente, sempre me preparava para o pior cenário possível, decidindo por muitas vezes seguir o caminho mais seguro sem me arriscar muito e acabar transformando nossas vidas novamente. E isso se refletiu em meus (curtos) relacionamentos, era mais fácil aceitar o fracasso de um namoro do que lidar com as mudanças que ele poderia acarretar na minha vida.

Isso durou muitos anos, até que eu finalmente conseguisse me entregar de verdade para alguém, porém foi a minha pior escolha. O fim do meu último relacionamento me trouxe devolta para a jaula que me cérebro havia criado, predendo-me atrás de grossas grades de ferro, que estavam começando a serem amolecidas novamente pelo calor que Rafa me propocionava.

Não estava nos meus planos encontrar alguém novamente, pelo menos não por agora, estava bem passando os domingos à noite assistindo comédias românticas com Liho no colo. Mas o destino tinha outros planos para mim, fazendo-me cruzar com aqueles belos olhos verdes que sempre me tiravam de órbita com uma facilidade assustadora.

Era impossível negar o que sentia por Rafa, mas levando em conta tudo que já havia passado também não era fácil entregar-me ao sentimento. Por isso me sentir tão pressionada com o jantar marcado por Gizelly, Rafa e eu estamos sim nos conhecendo melhor, mas não ao ponto de já ter que apresenta-la como namorada para minhas duas melhores amigas e minha irmã.

— A Rafa adora peixes e frutos do mar, porquê você não se poupa do trabalho de cozinhar e só pede um delivery de sushi? — Bianca questionou, pela milésima vez, estavamos no supermercado e ela não parecia feliz com minha seleção para o cardápio do meu jantar com Rafa. — Assim você poderia gastar mais tempo em uma decoraçãozinha mais... Romântica?

— Primeiro que o objetivo não é ser algo romântico. — revirei os olhos, mas guardei sua dica sobre a preferencia de Rafa e me direcionei para a sessão de frios do supermercado. — É só uma maneira de escapar dessa armadilha que a Titchela e a Mar estava tramando, sério! Quem marca um jantar assim? Até a Catarina riu quando contei para ela.

— Catarina é bem mais moderna do que o casal Gicela, mas não foi você mesma que interrogou o namorado da sua irmã? — Bia arqueou a sobracelha, ela tinha um ótimo argumento, porém...

— Isso é completamente diferente, Catarina é minha irmã mais nova e eu nem sabia quem era o Alan quando os dois começaram a namorar. — bufei, fazendo ela rir. — Sei que elas são superprotetora, mas você também não achou isso extremamente precipitado?

— Talvez... Mas eu entendo. — Bianca suspirou, virei-me para ela, achando um pouco estranho seu ato, e estava certa, a carioca tinha os ombros levemente curvados e me encarava com complacência. — Elas só querem ter certeza que nada vai dar extremamente errado entre você e a Rafa, e bem... Esse também é o motivo de eu ter fechado a lachonete mais cedo só para vim até o supermercado com você para ajudar nesse jantar. Só queremos que vocês duas tenham todas as chaves para que evitem se machucar.