Manoela Gavassi
2017
O quarto estava uma completa bagunça. Roupas jogadas pelo chão, produtos de beleza desorganizados em cima da cama e a grande parte de suas maquiagens abertas em cima da escrivaninha. Parecia uma tarefa quase impossível encontrar o que queria no meio daquilo tudo, a única solução era arrumar e então rezar para encontrar as coisas que precisaria usar.
Mas não tinha tempo, em meia hora a garota que conheceu no museu estacionaria o carro em frente ao seu prédio e buzinaria para chama-la, Manoela já deveria estar de banho tomado e com a mochila organizada no momento que aquilo acontecesse.
O convite tinha sido estranho, tudo que ela havia dito era para que Manu arrumasse uma mochila com algumas mudas de roupa, um biquíni e uma escova de dentes, sem localizações ou a menor pista que denunciasse os planos que a misteriosa mulher tinha para o resto do dia.
Catarina, a mataria se descobrisse, passaria horas falando sobre o perigo de sair com estranhos e não avisar a ninguém, a chamaria de irresponsável enquanto compraria uma passagem para o primeiro voo de volta para São Paulo.
Era loucura, não podia se dar ao luxo de negar, fazia apenas três semanas que se conheciam e dois dias que haviam trocado números de telefone, nunca se encontraram em outro lugar fora do museu e agora ela havia surgido com esse passeio misterioso. Mas talvez tivesse sido aquilo que excitou Manoela, o mistério que envolvia a relação das duas, a tensão, não apenas sexual, que conseguia ser papável no ambiente que frequentavam com certa frequência.
O pior de tudo, e talvez o mais perigoso, é que continuavam no joguinho de nomes, Manoela continuava sendo Afrodite e a mulher continuava sendo apenas Ella. Não que aquilo fosse culpa da paulistana, sempre tentou de alguma maneira conseguir ao menos um apelido mas todos os seus esforços eram em vão. Entretanto, Manu não havia falado o seu também, o que tornava o jogo que criaram bem mais interessante, como se nenhuma das duas quisesse ceder facilmente a outra, mesmo se fosse apenas o próprio nome.
O celular apitou com uma mensagem de Catarina perguntando sobre seu sumiço repentino durante a tarde, não querendo causar desconfianças, Manoela inventou que estava com dor de cabeça e evitando ficar de frente para a tela luminosa do celular para não piorar a situação. A desculpa pareceu funcionar, já que nenhuma mensagem chegou de volta, porém, pegar o celular talvez tivesse sido um erro, ao levar os olhos até o horário percebeu que tinha gastado quinze minutos girando pelo quarto quando deveria ao menos já ter arrumado a mochila.
Quase como se tivesse tomado uma injeção de adrenalina, Manoela correu pelo cômodo pequeno e apertado, pegando do chão e de cima dos móveis algumas peças que poderiam servir, as empurrou dentro da mochila junto ao biquíni e a escova de dentes, correndo para o banheiro em seguida.
O banho foi rápido, ainda precisava escolher uma roupa e arrumar o cabelo, ao terminar não conseguia parar de rir do seu desespero para não causar uma má impressão em Ella, que agora chegaria a qualquer momento. Ouviu um barulho fraco de buzina no momento que terminava de ajeitar os óculos no rosto, mesmo sabendo que iriam para um lugar com bastante água, devido ao biquíni, dispensou as lentes de contato pois seus olhos sempre ficavam irritados ao colocá-las.
Jogando a mochila nas costas, trancou a porta do apartamento e mandou uma rápida mensagem dizendo que já estava indo enquanto descia as escadas. Ao chegar no térreo do prédio, parou alguns segundos e controlou a respiração ofegante devido a pressa em descer as escadas, arrumou alguns fios de cabelo revoltos e só então saiu para encontrar a mulher que tanto andava ocupando todos os seus pensamentos.
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Second Chance [Ranu]
Fiksi PenggemarHerdeira de um dos maiores hospitais do país, Rafaella Kalimann tinha a vida perfeita e deixava os pais extremamente orgulhosos. Porém, viu essa realidade se desmanchar ao sofrer um grave acidente onde teve a memória afetada. Agora, tendo que difere...