14. Love Lies, Khalid & Normani

533 48 59
                                    

Rafaella Kalimann

2021

Era bastante rotineiro acordar na cama com alguma mulher, principalmente depois de uma noite regada à álcool, porém dessa vez algo parecia diferente, e não era apenas pelo fato de só termos dormido. Talvez fosse a maneira que ela se agarrava a minha blusa ou como nossos corpos pareciam se encaixar perfeitamente, seu cheiro me inebriava e a última coisa que passava por minha cabeça agora era levantar dali.

Mesmo de olhos fechados pude notar que havíamos esquecido de fechar a cortina do quarto, então o cômodo estava sendo iluminado apenas pela luz solar, mas graças ao ar-condicionado a temperatura se mantinha agradável. Enrosquei nossas pernas, sentido-a mais presa à mim, suas mãos aumentaram o aperto em minha blusa e sua cabeça afundou mais em meu pescoço.

Manoela era pequena, segura-la em meus braços era quase como ter um pequeno coala agarrado à mim, sua respiração batia contra meu pescoço e, mesmo não querendo, conseguia sentir o leve cheiro de álcool que isso exalava. Tentei não me sentir mal por aquilo, havíamos trocando histórias importantes para ambas, ela havia confiado em mim ao ponto de desabar na minha frente.

Com ajuda do álcool ou não, estava feliz de finalmente conhecer um pouco mais sobre sua história. Deixando-a também conhecer um pouco da minha.

Sem conseguir resistir a tentação de olhar seu rosto, abri os olhos, minha vista estava embaçada e minha cabeça latejou, vinho não era uma das minhas bebidas favoritas exatamente por esse motivo, sempre ficava com uma bela ressaca mesmo bebendo pouco, o que não foi bem o caso da noite anterior. Apertei os olhos e consegui mantê-los abertos na segunda tentativa, suspirei afastando um pouco nossos corpos, a fim de olhar para Manoela que ainda dormia serenamente.

Seu rosto estava inchado pelo choro, o cabelo bagunçado ainda com o laço que ela usava constantemente, o nariz levemente enrugado e a boca entreaberta. Seus traços eram delicados, quase como se exalassem uma paz a quem tivesse o prazer de apreciar aquela cena, vez ou outra suas sobrancelhas franziam me fazendo imaginar o que ela deveria estar sonhando.

Não sei quanto tempo fiquei velando seu sono, e muito menos sabia o porquê de ainda não ter levantando para evitar acordar junto dela, seu estado frágil na noite anterior ativou algum tipo de proteção em mim e mesmo estando bêbada não foi fácil vê-la naquelas condições. Agora entendia Gizelly um pouco, era quase impossível ver Manu sofrendo por algo e não sentir o coração afundar em desespero, desde seu mal estar no carro até sua crise de choro noite passada.

Gizelly era um dos fortes motivos que deveriam me fazer levantar dali e correr para meu quarto, tirando a dor de cabeça insuportável e a náusea, se minha estagiária abrisse aquela porta e nos encontrasse dormindo juntas daquela maneira, eu com certeza seria uma mulher morta. Mas sempre gostei do perigo e tinha grande apreço por cães de guarda, então nem mesmo o medo de levar um soco da futura advogada me faria largar o corpo de Manu antes que ela acordasse.

Tentando ao máximo fazer movimentos leves para evitar desperta-lá, tirei uma de minhas mãos de sua cintura e levei até seu rosto, onde com toda a delicadeza que conseguia retirei os fios rebeldes de cabelo que o cobriam. Não queria sair nunca dali, não queria que aquele momento acabasse, e só então me dei conta que só me senti relaxada daquela maneira quando tive a primeira lembrança relacionada a minha noiva.

E então uma sensação ruim me atingiu, o ar fugiu de meus pulmões com a constatação de meu cérebro e minha boca ficou seca. O pensamento me fez afastar do aconchego que ela me proporcionava como se a pele dela fosse brasa queimando a minha, o bile me subiu à garganta e no desespero de me afastar acabei caindo de bunda no chão.

Second Chance [Ranu]Onde histórias criam vida. Descubra agora