8. Oh My God, Alec Benjamin

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Rafaella Kalimann

2021

Ainda era cedo, mas a frente do hospital já estava lotada de repórteres. Alguém havia vazado a informação sobre desvio de dinheiro para a mídia durante a madrugada, e agora já estava estampado em inúmeros jornais. Os homens do lado de fora pareciam abutres perseguindo funcionários com suas câmeras e microfones caros, tentando arrancar qualquer coisa diferente do que já tinham.

Quando cheguei, precisei estacionar o carro em um quarteirão antes do hospital, e esperar pacientemente os seguranças expulsarem aquelas pessoas, por mais que precisasse entrar o mais rápido possível, não podia arriscar ser abordada e encurralada com perguntas por um deles. Meus pais sempre preservaram bem minha imagem, mesmo sendo herdeira de tudo aquilo e fazendo parte de uma família bastante conhecida, os dois constantemente me mantinham longe dos holofotes ou qualquer outro contato com mídias sociais.

Era de grande ajuda, minha aparência era pouco conhecida, se não usasse o sobrenome 'Kalimann, poderia passar totalmente despercebida pelos grandes olhos. Parecia ser uma proteção exagerada, mas o fato da perícia ter concluído que o meu acidente de um ano atrás poderia ter sido premeditado, toda aquela proteção se mostrou necessária. Mesmo a conclusão não fazendo muito sentido para mim.

Se quase ninguém sabia minha aparência, como o acidente poderia ter sido proposital?

E era isso que me levava ao o grande quase da minha vida. Quase ninguém significava que poucas pessoas sabiam, e que uma dessas poucas pessoas havia tentado me matar.

Sacudi levemente a cabeça tentando espantar a enxaqueca que começava a surgir, várias dúvidas me rondavam, não apenas sobre minha vida antes do acidente, mas também ele em si. Já fazia um ano que procurava respostas ou alguma pista que me levasse um pouco mais para frente, porém nada vinha.

Tudo que tinha era a lembrança daquela mulher, minha noiva, a mesma que fez todos questionarem minha sanidade mental logo após o acidente. E a mesma que a polícia concluiu não existir, segundos eles, não tinha ninguém no carro comigo.

Ao mesmo tempo que tentava acreditar no que diziam, sentia a memória daquela mulher tão forte em minha cabeça, que era impossível acreditar na ideia que tudo não passou de um fruto da minha imaginação.

Se fechasse os olhos conseguia até mesmo enxergar o sorriso dela, a risada melodiosa e a pele bronzeada pelo sol, lembrava perfeitamente de como ela havia se jogando em cima do meu corpo na tentativa de salvar minha vida antes que tudo fosse uma completa bagunça misturando dois carros.

Meus pais nunca falaram sobre o outro carro envolvido, sempre desviavam do assunto e tentavam ao máximo me fazer esquecer do ocorrido. Segundo eles, a melhor opção era deixar tudo para trás e focar apenas no presente e no futuro.

Com ajuda de Bianca, consegui achar poucas manchetes sobre o que aconteceu, pequenas matérias que informavam um acidente envolvendo a herdeira dos hospitais Kalimann, mas tudo o que falavam era muito vago e sem muitas informações. Em minhas próprias pesquisas, tudo que havia conseguido era o local do acidente e o horário, nem mesmo a quantidade de vítimas dizia.

Talvez acidentes de trânsito eram tão comuns naquele trecho que não tinha tanta importância fazer matérias ou investigações mais profundas, nem mesmo o número de evolvidos era citado, apenas diziam que dois carros tinham colidido em um cruzamento no início da semana ao amanhecer.

Uma leve batida na porta do meu escritório arrancou-me de meus pensamentos, a secretária do meu pai segurava inúmeras pastas e havia passado para me avisar que ele tinha acabado de chegar ao hospital. Foi um pouco tentador olhar pela janela e ver a confusão que se formou com sua chegada, meu pai não era muito fã de multidões, mas dessa vez seria impossível fugir.

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