Rafaella Kalimann
2021
Se eu precisasse definir qual o momento que finalmente me sentir viva depois de toda a bagunça que o acidente causou na minha vida, com certeza responderia que aconteceu quando beijei Manoela. Foi como se estivesse me afogando, em meio à águas turvas, escuras e geladas, implorando por alguns segundos a mais de tempo enquanto sentia meu corpo sucumbir à falta de oxigênio, e então ela me puxasse para fora da água, envolvendo-me no calor que seu corpo exalava e me permitindo sentir toda a segurança que um salva-vidas pudesse passar.
Beija-la foi como se eu estivesse me afogando, e finalmente alcançasse a superfície.
O beijo não havia sido planejado, mas isso não queria dizer que me arrependia, muito pelo contrário, tudo o que mais quero é ter aquelas sensações novamente. Fui do inferno ao céu dentro de dez segundos, o desespero tomava conta do meu corpo e da minha mente ao notar que Manoela estava tendo um ataque de pânico na minha frente, precisava puxá-la de volta para a realidade e quando dei por mim estava com a boca encaixada na dela.
Se fechasse os olhos ainda podia sentir o gosto salgado de sua lágrimas misturados com o hálito quente de sua boca, as mãos apertando minha camisa social como se eu fosse uma tábua de salvação. Meu coração acelerado, a respiração dela ofegante, o barulho da chuva do lado de fora misturado com os trovões que aos poucos foram desmanchando a imagem de vilões.
Poderia passar o resto da minha existência ali, beijando-a no banco do meu carro, sem me importar com mais nada que não fosse a boca dela na minha e os pequenos suspiros que ela soltava quando nossas línguas se tocavam.
Beijar Manoela era como desbravar o universo, descobrindo planetas novos, ecossistemas diversos, histórias de civilizações recentes e outras milhares já extintas, aprender suas línguas, histórias e culturas. Viajar por cada canto de cada planeta já descoberto. Tudo isso sem tirar os pés do chão.
E se existir uma força superior que rege tudo o que conhecemos, ou caso o famoso destino seja de fato uma entidade consciente, tenho certeza que Ele foi o responsável por orquestrar cada momento de nossas vidas para que acabássemos no meu carro, no meio da chuva, onde eu acalmaria um ataque de pânico dela com um beijo.
Percebendo, então, que estava inevitavelmente apaixonada por Manoela Gavassi.
— Já faz quinze minutos que ela tá assim. — Bianca sussurrou, fazendo Babu rir, revirei os olhos apoiando os cotovelos no balcão e suspirando. — Não acha que deveríamos leva-la até a emergência?
— Paixão não é sintoma de doença Bia. — Babu brincou, tomando mais um gole de café, o cheiro de sua cafeína me lembrava Manoela, e aquilo me fez suspirar novamente, sem ligar para o que ele havia dito. — Bem, na maioria dos casos, não é. Acredito que no caso da Rafa é até bom, acho que nunca vi ela assim.
— O brilho dos olhos dela estão me cegando, será que ela não percebe que tá com cara de pateta? — resmungou novamente, balancei a cabeça olhando a hora no relógio, faltavam quase meia hora que Manoela chegasse, estava adiantada para esperá-la, mas não me importava nem um pouco. — Manu! Chegou mais cedo hoje de novo?
Virei tão rápido na direção que Bianca olhava que quase torci o pescoço e cai do banco alto do balcão, recuperei o equilíbrio enquanto procurava com o olhar por Manoela na entrada do refeitório. Para meu azar, ela não estava lá, só um trio de enfermeiras e o zelador haviam chegado, a gargalhada dos meus dois amigos idiotas tomou o ambiente e só então percebi que eles estavam tirando uma com minha cara.
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Second Chance [Ranu]
FanficHerdeira de um dos maiores hospitais do país, Rafaella Kalimann tinha a vida perfeita e deixava os pais extremamente orgulhosos. Porém, viu essa realidade se desmanchar ao sofrer um grave acidente onde teve a memória afetada. Agora, tendo que difere...