11. How to Save a Life, The Fray

537 49 54
                                    

Rafaella Kalimann

2021

Já fazia bons minutos que andava pela areia da praia, os pés sendo molhados pela água salgada do mar e os cabelos balançando ao vento pela brisa, a maresia abraçava meu corpo trazendo uma sensação reconfortante. Não lembrava a última vez que tinha estado ali, ou algum momento que houvesse parado um pouco de trabalhar para descansar a cabeça.

E talvez tenha sido esse um dos motivos que me fez aceitar o convite de Gizelly, a administração do hospital andava uma loucura por conta do desvio de dinheiro. Meu pai havia ameaçado tirar todos os sócios, e o que me restou foi assumir grande parte do trabalho e ainda ter que investiga-los, e mesmo com a ajuda de Gi, parecia que o culpado do desvio tinha virado pó.

Tentar encontrar o culpado estava sendo o mesmo que andar em círculos ou imitar um cachorrinho correndo atrás do próprio rabo, nunca conseguíamos ir adiante e isso começava a irritar nós duas. Gizelly parecia ainda mais estressada, o medo de perder o estágio por não conseguir me ajudar estava afetando demais ela, a fazendo ler documentos durante as vinte e quatro horas do dia.

Mesmo que tentasse acalma-la, deixando claro que nunca iria demiti-la por isso, a futura advogada ignorava e continuava revirando pastas e mais pastas de documentos, chegando até em alguns mais antigos, às vezes a pegava lendo arquivos de um ano atrás. Mas mesmo com atitudes um tanto suspeitas, era quase impossível desconfiar de Gizelly e seu bom caráter, no final, era só o medo falando mais alto.

O outro motivo de ter aceitado o convite era, sem sombra de dúvidas, Manoela. E mesmo tendo prometido para Gizelly que manteria o máximo de distância possível, não podia simplesmente ignorar a presença da outra dentro da casa. Afinal, a atração que sentia por ela começava a ficar cada vez mais forte, às vezes se tornando até mesmo visível.

Observava o mar atentamente, deixando os olhos se perderem naquele imensidão azul, mesmo com a cabeça lotada de preocupações, estava se tornando fácil relaxar e deixar com que a brisa marítima tornasse tudo mais leve. Porém, a aflição ao lembrar de Manoela passando mal, fazia meu coração apertar, não queria nunca mais sentir o que senti quando vi o quão pálido estava o rosto dela dentro do carro.

Por mais que não tenha apoiado a ida ao hospital, sabia que era imprudente, não era a primeira vez que Manoela passava mal daquele jeito, e a maneira que Gizelly e Marcela se desesperaram deixava isso claro. Ter aquilo em mente só aumentou ainda mais o aperto que sentia, fazendo a culpa invadir cada centímetro do meu corpo.

O que aliviava um pouco era saber que Thelma já estava ciente do que havia acontecido, ela e Marcela ficaram bons minutos no telefone, e sendo guiada pela mais velha, Marcela conseguiu examinar Manu e fazer nós três respirar um pouco mais aliviadas. Quando sair de casa para caminhar pela orla, deixei as três ter um pouco de privacidade para conversar sobre o que tinha acontecido, já que ninguém fazia questão de me encaixar no assunto.

Tentei me livrar daqueles pensamentos enquanto voltava para a casa, caminhando lentamente enquanto chutava montinhos de areia. Da distância que estava agora, conseguia ver a faixada da casa e a varanda do quarto em que Manoela estava.

As cortinas fechadas poderiam dizer que ela ainda estava dormindo, tentando se recuperar do mal estar, ou já havia saído do quarto e estaria na companhia das amigas. Passei alguns segundos parada ali, olhando para a janela, na esperança falha de um vislumbre dela.

Subindo os degraus de dois em dois, logo estava dentro de casa, andei à passos silenciosos até a cozinha e não encontrei Marcela pelo caminho. Já na cozinha estava Gizelly, com o corpo apoiado no balcão enquanto lia atentamente uma pasta de documentos, a mesa de centro da cozinha estava lotada de ingredientes culinários, mas minha estagiária parecia ter esquecido completamente deles.

Second Chance [Ranu]Onde histórias criam vida. Descubra agora