16. Coming Down, Halsey

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Manoela Gavassi

2021

O dia havia começado relativamente cedo para mim. Acordar antes do alarme tocar não era costumeiro, na verdade, sempre acabava acordando atrasada, eram raras às vezes que meu relógio biológico funcionava o suficiente para me fazer despertar no horário certo. Sabia que toda aquela ansiedade para começar o dia tinha motivo, e o tal tinha nome e sobrenome.

Hoje era meu primeiro dia de trabalho no hospital Kalimann, bem, na lanchonete do hospital. Mas não era isso de ter que me adaptar em um novo trabalho e rotina que estava me deixando fora dos eixos, e sim o fato de que Rafa iria ser minha carona para lá. Por mais que tentasse, não conseguia conter o calor que se espalhava por meu peito apenas ao saber que a veria novamente em poucas horas.

Para meu azar a manhã não passou de maneira rápida, os minutos pareciam se arrastar e nada do que os professores diziam conseguia prender minha atenção. Tudo que eu fazia era fixar os olhos no relógio e contar cada segundo a menos até o final das aulas, principalmente depois que mandei uma mensagem com minha localização para Rafa, avisando que ela deveria me pegar na entrada da faculdade e não no meu apartamento.

E agora, depois de finalmente terminar minhas aulas do dia,  estava na calçada a sua espera, tentando inutilmente controlar os sintomas de ansiedade que dominavam meu corpo. Gizelly deveria aproveitar a carona também, mas ela iria ficar mais algum tempo em aula devido a apresentação de um seminário e deixou claro que não queria me atrapalhar logo no meu primeiro dia.

Confesso que estranhei um pouco quando ela não pareceu ligar para a informação de que Rafa me buscaria, tão pouco demostrou preocupação com o fato de ficarmos sozinhas durante bons minutos. Talvez ela e Marcela tenha enxergado que as intenções de Rafa eram as melhores possíveis, ou as duas só estavam fazendo-a passar por algum tipo de teste esquisito.

Na dúvida, preferir não insistir muito no assunto, acatando seu desejo para que eu pegasse a carona sozinha e chegasse no hospital no horário certo para encontrar Bianca, minha futura chefe. Sabia pouco sobre a mulher, mas Gi deixou claro o quanto a carioca era simpática e carinhosa, enfatizando o quanto ela parecia sempre estar de bom humor e com piadinhas na ponta da língua.

Estava com medo de Bianca não gostar de mim ou do meu trabalho, e acabar me trocando por uma pessoa que pudesse ficar o horário inteiro ajudando-a, assim como foi no meu antigo emprego. Mesmo tentando não pensar em coisas negativas, meu cérebro sempre conseguia encontrar mil e uma maneira de tudo terminar da pior maneira possível.

— Foi você que pediu um uber? — me assustei quando percebi que um carro estava parado praticamente na minha frente, o veículo escuro estava ao pé da calçada e a janela do motorista estava abaixada, me permitindo ver uma Rafaella sorridente lá dentro. 

— Engraçadinha. — fiz careta para sua piada ruim, ela apenas deu de ombros, apontando com a cabeça para o banco ao seu lado, em um pedido silencioso para que eu entrasse logo. — Está passando muito tempo com a Gi, suas piadas estão ficando ruins igualzinho as dela.

— Nosso humor é diferenciado, você e Marcela que são duas chatas. — ela revirou os olhos, observando-me atentamente enquanto eu entrava no carro, sentando ao seu lado. — Pensei que Gizelly viria junto, pelo menos não precisaria pegar ônibus.

— Ela vai precisar apresentar um seminário, as aulas costumam acabar mais tarde quando isso acontece. — expliquei, me ajeitando no banco com a mochila no colo enquanto afivelava o cinto de segurança, lá dentro estavam umas partituras e alguns documentos que Gizelly me instruiu para levar à Bianca. — Ela iria avisar a você mas acabou esquecendo, tem algum problema dela chegar tarde no estágio?

Second Chance [Ranu]Onde histórias criam vida. Descubra agora