Rafa Kalimann
2021
Sempre achei a ideia de destino um tanto fantasiosa, até mesmo uma grande desculpa para ser utilizada quando tudo saísse do controle ou fugisse completamente dos planos originais. Acreditar que uma força maior tem o total controle da minha vida, roubando descaradamente toda minha autonomia e força de vontade, chegava a ser um pouco assustador.
Mas o que explicaria o fato de agora estar praticamente correndo pelos corredores do hospital dos meus pais em busca de uma das únicas pessoas que confio ali dentro e que poderia me ajudar na grande burrada que havia cometido?
Minhas mãos tremiam e meu cérebro parecia ainda estar em alerta, era a primeira vez que experimentava dirigir sozinha depois de um ano e havia atropelado uma pessoa. Se não fosse a necessidade de procurar um médico para cuidar dos ferimentos dela, com toda certeza, eu estaria trancada no almoxarifado tendo um ataque de pânico.
O ambiente hospitalar também não ajudava muito, não gostava nem um pouco de andar por aqueles corredores lotados de médicos. Aquilo tudo me embrulhava o estômago, e talvez meus pais estivessem certos, nunca havia me recuperado totalmente do acidente.
— Desculpe, você sabe onde o Dr. Santana está? — parei uma das inúmeras pessoas de jaleco ali, a mulher me olhou um tanto curiosa, provavelmente estranhando minha presença.
— No consultório dele. — respondeu como se fosse óbvio, ela pareceu perceber que eu não fazia a miníma ideia de onde o consultório ficava o que me poupou de perguntar. — Só seguir aquele corredor, terceira porta a direita.
Agradeci rapidamente, seguindo pelo caminho indicado, apertava minhas mãos uma na outra e sentia uma fina camada de suor começar a se formar em meu rosto. Tenho certeza que os médicos que me olhava estavam prontos para me socorrer achando que eu teria um ataque cardíaco, não os julgo, também pensaria o mesmo se estivesse no lugar deles.
Ao chegar em frente ao consultório, não hesitei em entrar sem bater, para minha sorte a porta estava aberta e não tinha nenhum paciente ali com ele. Apoiei o corpo na parede e fechei os olhos com força, sentido a cabeça latejar, engolindo a vontade de chorar forcei minha mente a jogar qualquer sentimento para parte de trás do cérebro.
— Rafa? Qual a cor do alerta para você estar parada no meio do meu consultório? — Babu me segurou pelos ombros, parecendo extremamente preocupado, só bastou olhar seu rosto para as lágrimas marejarem meus olhos. — Rafa?
— Preciso da sua ajuda. — minha voz tremeu e aquilo só serviu para deixa-lo ainda mais em alerta, engoli em seco tentando amenizar o nó crescente na garganta e sacudi a cabeça. — Uma pessoa que estar comigo precisa da sua ajuda.
— Se ela tiver até quinze anos não me importarei em ajudar. — brincou, tentando aliviar minha tensão, ajudou um pouco, mas não o suficiente, tudo que vinha na cabeça era a imagem da minha blusa encharcada com o sangue da garota que atropelei. — Esqueceu que sou pediatra?
— Ela tem a altura de quem tá nessa idade, serve? — perguntei retoricamente, Babu uniu as sobrancelhas em total confusão e ali soube que não tinha como esconder nada dele. — Atropelei uma garota e ela machucou o queixo feio, tá sangrando bastante.
— Meu Deus! Onde ela está? — Babu parecia levemente assustado, mas tentava ao máximo esconder, ele sabia o quanto aquilo deveria estar me afetando psicologicamente mas escolheu o caminho certo em se preocupar primeiro com quem tinha machucados físicos.
— Deixei ela na emergência e vim buscar você, não consigo deixar com que outra pessoa cuide disso. — confessei baixinho observando ele vestir o jaleco. — Eu tô apavorada.
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Second Chance [Ranu]
FanfictionHerdeira de um dos maiores hospitais do país, Rafaella Kalimann tinha a vida perfeita e deixava os pais extremamente orgulhosos. Porém, viu essa realidade se desmanchar ao sofrer um grave acidente onde teve a memória afetada. Agora, tendo que difere...