Manoela Gavassi
2021
(...)
Os trovões ficavam cada vez mais fortes, era possível ouvir as gotas grossas de chuva batendo no vidro das janelas e as árvores balançando com a força dos ventos. Estava escondida debaixo dos cobertores, abraçando o pequeno corpo de Catarina. A mais nova choramingava sempre que um raio ou trovão rasgava o céu violentamente, era inútil tentar dormir ou se distrair por conta dos sons, então apenas deitamos juntas.
Sempre adorei brincar na chuva ou sentir o vento frio preenchendo o quarto quando a janela ficava meio aberta, mas especialmente naquele dia, estava com uma sensação ruim e por isso tinha aceitado de bom agrado quando Catarina subiu na minha cama e se enroscou no meu corpo.
Cantei uma música de ninar até que ela dormisse profundamente em meu colo, parecendo não se importar mais com os barulhos causados pelo forte temporal. Mas não tive a mesma sorte, sempre que tentava cair no sono ou chegava perto, era acordada bruscamente pelos trovões.
E foi quando estava quase dormindo que tudo aconteceu, um trovão seguido por um estalo alto foram ouvidos, com medo de puxar a coberta e olhar o que estava acontecendo, apenas apertei mais o corpo de Catarina contra o meu. Quando ouvi o barulho de coisas caindo e quebrando soube que algo estava muito errado, meu instinto protetor fez com que cobrisse Catarina com meu próprio corpo, sabendo que tinha feito o certo segundos depois quando senti algo pesado bater contra minhas costas.
— Mamãe! — meu grito foi desesperado, dor e medo misturados com o barulho alto dos trovões lá fora.
(...)
Meu corpo se elevou na cama de uma vez, a respiração ofegante e o coração batendo na garganta, demorei alguns segundos para me situar e perceber que tudo não passou de um sonho. Ainda atordoada, tateei a cômoda ao lado da cama em busca do meu celular, mas a primeira coisa que meus dedos encontraram foi barquinho de papel que estava debaixo do travesseiro quando chegamos.
Quase como um calmante, só de ter tocado a folha amarelada senti aquela sensação ruim sumir, meu corpo deixou a tensão se dissipar e aos poucos meu coração voltou ao normal. Trouxe o pequeno barco para mais perto e observei cada detalhe, algumas manchinhas escuras e marcas de dobras enfeitavam toda a sua extensão, uma frase também estava escrita ali, mas a letra borrada tornava quase impossível de ler.
Fechei os olhos, respirando fundo e deixando os dedos passearem pelo formato do barco, permitindo que minha mente limpasse a sensação de medo que ainda sentia graças ao sonho ruim que tive. Bem, era mais uma lembrança do que um sonho, porém era mais fácil acreditar que aquilo não passava de fruto da minha imaginação, doía menos pensar assim.
Ao abrir os olhos, notei que o quarto era clareado apenas pela luz do sol lá fora, e só então as memórias do dia anterior surgiram em minha mente. Meu dia com Rafaella, o quanto foi interessante assistir um filme ao seu lado, e como minha pele arrepiava sempre que os dedos dela se enroscavam no meu cabelo.
Deixei um suspiro escapar só de lembrar da massagem que ela fez em meu couro cabeludo, como era boa naquilo e conseguiu me fazendo dormir rapidamente, apenas com aquele simples ato. Sorri boba ao perceber que tinha dormido no colo dela, e que provavelmente, Rafa tinha me trazido para a cama, minhas bochechas esquentaram ao lembrar vagamente de sentir um beijo pressionado contra meu rosto durante o sono.
Teria passado mais tempo relembrando todas as sensações do dia anterior, mas a fome logo começou a chegar e decidi levantar por mais que ainda parecesse cedo. Tomei um banho longo e relaxante, tentando manter longe qualquer pensamento que o sonho tentava trazer, mas era uma tarefa um pouco difícil.
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Second Chance [Ranu]
FanfictionHerdeira de um dos maiores hospitais do país, Rafaella Kalimann tinha a vida perfeita e deixava os pais extremamente orgulhosos. Porém, viu essa realidade se desmanchar ao sofrer um grave acidente onde teve a memória afetada. Agora, tendo que difere...