Manu Gavassi
2021
Segunda-feira. Para alguns só o início de uma semana, para outros, o começo de uma nova jornada, mais uma oportunidade para pôr em prática todos os gloriosos planos pessoais ou quem sabe continuar a missão terrena que cada ser é destinado a ter desde o seu nascimento.
Bem, para mim, era apenas o primeiro dia de mais cinco em que passaria apenas aguardando ansiosamente a chegada do domingo, o único dia da semana em que poderia dormir mais de seis horas. Não era segredo para ninguém o quanto odiava segundas-feiras, poderia facilmente banir aquele dia de todos os calendários do mundo, e tinha certeza que ninguém sentiria falta.
Estava atrasada para a primeira aula do dia, sabia disso, mas não me sentia nem um pouco culpada, mesmo sabendo que se tivesse aberto mão de enrolar na cama com preguiça de levantar, apenas aproveitando o calor dos lençóis, provavelmente chegaria pontualmente no campus da faculdade. O cochilo de dez minutos a mais era merecido, fiz hora extra no trabalho durante o fim de semana inteiro e ainda precisei madrugar estudando para provas, então dormir foi um dos poucos prazeres que a vida havia me proporcionado naqueles últimos dias.
Não tinha nada de decente para comer na geladeira ou dentro dos armários, e quando procurei o pó do café para preparar a bebida que seria capaz de me manter acordada durante o dia, só encontrei o pacote vazio jogado de qualquer jeito dentro da gaveta.
Precisava fazer compras, mas pagar aluguel, me sustentar e arcar com as despesas da faculdade estava se tornando um peso grande demais para meus ombros, e fazia meu pequeno salário sumir como se fosse areia ao vento.
Desviei minha atenção do grande problema financeiro quando senti algo quente e macio se enrolar na minha perna, Liho havia acordado junto comigo e parecia mais carente do que de costume. Abaixei até que conseguisse pega-lá no colo, pressionado o corpo dela contra o meu e deixando meus dedos se perderem entre seu pelo negro e macio.
— É, amiga, hoje não vamos almoçar juntas. — suspirei deixando-a em cima do balcão para que pudesse encher seu potinho com a ração recém comprada, Liho pulou do balcão quando viu a refeição sendo posta. — Hoje perdermos a guerra, mas prometo que logo voltaremos a ter nosso encontro na hora do almoço.
A única solução para tentar contornar o problema com gastos era começar a comer no refeitório da faculdade, o almoço custava apenas alguns centavos e aquilo era uma fonte de comida (quase) grátis. Mesmo tendo evitado aquela opção por um bom tempo, agora enquanto fechava os armários vazios e jogava o pacote do café no lixo sob o olhar curioso de Liho, percebi que talvez fosse realmente necessário.
Estava cursando o sexto semestre de música, o curso já era o terceiro na minha lista de tentativas, e agora finalmente sentia que estava fazendo o que realmente queria. Quase vinte e cinco anos e já havia cursado direito e medicina, ambos abandonados em semestres diferentes.
Depois de uma pequena viagem à pé, resistindo com todas as forças ao desejo de voltar para a cama e passar o resto da manhã dormindo com Liho, cheguei ao meu lugar favorito do mundo. Sempre amei andar pelo campus e apreciar os diferentes tipos de pessoas e histórias que passavam por aquele lugar, adorava a maneira que todos pareciam ganhar mais vida quando estavam andando pelos corredores.
Era impossível conter o sorriso que nascia em meu rosto a cada aula assistida, e mesmo estando cansada, minha ânsia por aprender e o amor pela música era maior do que qualquer sentimento ruim que a vida andava me enviando nos últimos dias. Mas também era difícil ignorar os problemas, já que aquilo começava a afetar meu desempenho, trabalhava durante a tarde inteira e uma boa parte da noite, com isso só me restava o período da madrugada para revisar matérias e organizar meus projetos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Second Chance [Ranu]
FanfictionHerdeira de um dos maiores hospitais do país, Rafaella Kalimann tinha a vida perfeita e deixava os pais extremamente orgulhosos. Porém, viu essa realidade se desmanchar ao sofrer um grave acidente onde teve a memória afetada. Agora, tendo que difere...