Rafaella Kalimann
2021
Pequenos arrepios se espalhavam por meu corpo, resultado da brisa fria que soprava desde do início da noite, mesmo que estivesse com uma jaqueta de mangas compridas ainda conseguia sentir o frio noturno abraçando-me. Mas aquilo não me incomodava, pelo contrário, trazia uma sensação gostosa e de aconchego, deixando o clima perfeito para quem gostava de andar à noite ou só observar o céu do jardim de casa.
A ideia de deitar na grama do meu jardim, e só deixar minha mente viajar pelos pontos luminosos no céu, era tentadora, porém um imã puxou meu corpo até aquele bairro de aparência simples, fazendo-me parar em frente ao prédio de tintura desgastada. E aquele magnetismo quase imaginário era bem mais forte do que o desejo de passar a noite apenas observando estrelas.
Já estava ali à bons minutos, criando coragem para subir e bater na porta da mulher que tanto confundiu meus pensamentos e tirou meu sono durante o fim de semana. Mas a vergonha de aparecer ali de repente e sem nenhum motivo fazia a vontade de entrar no carro e voltar imediatamente para casa aumentar cada vez mais.
Infelizmente, ou felizmente, antes que pudesse desistir e só pisar no acelerador, avistei ao longe a pequena mulher andando distraída na calçada. O casaco amarelo cobrindo a camiseta branca e um pouco da calça jeans que ela usava, o cabelo curto e escuro sendo embaraçado pelo vento, e os olhos castanhos parecendo cansados mas ainda sim brilhantes. Linda.
Manoela não era uma mulher que tinha o corpo que homens caçavam, mas suas curvas chamavam a atenção das pessoas certas. E mesmo não sendo o que muitos procuravam, uma coisa era certa, homens haviam entrado em guerras por corpos menos atraentes que o dela.
Bem, não que fosse apenas aquilo que me interessava, longe disso. O jeito espontâneo, o sorriso fácil e a maneira que ela não conseguia esconder os próprios sentimentos, haviam me ganhado antes mesmo que meus olhos viajassem por seu corpo. E talvez fosse aquilo um dos motivos de não conseguir sossegar a mente desde a manhã seguinte a tempestade, a maneira que Manoela saiu de casa cedo me deixou inquieta.
Era quase como se ela estivesse fugindo de mim, o sentimento de culpa juntamente com insegurança começavam a crescer dentro do meu peito. O medo de ter feito algo errado para que ela não quisesse me acordar, e preferisse sair sem ser notada, só aumentava.
E talvez fosse aquilo que me fez vim parar aqui. Em frente ao prédio dela.
Foi engraçado quando Manoela finalmente me notou parada com os braços cruzados, ela quase tropeçou nos próprios pés e as bochechas adquiriram um tom avermelhado junto com a expressão de confusão que tomou seu rosto. O cenho franzido e os olhos analisando-me minuciosamente, Manu parecia extremamente surpresa e confusa, era fácil perceber que ela buscava algum motivo para me ver aqui.
Descruzando os braços e ajeitando a camisa social azul claro que estava amarrotada embaixo da jaqueta, aproximei-me com passos lentos deixando Manoela ainda mais constrangida do que já aparentava estar. Talvez fosse a surpresa de me ter ali ou o fato de meus olhos demorarem a atenção no girassol que estava no bolso do seu casaco, algo fez com que seu rosto começasse a ficar vermelho e ela desse um passinho para trás.
— Minha amiga fez a salada de frutas e queria muito saber se você gostou, então me obrigou a vim até aqui. — menti descaradamente, Bianca nem sabia o destino da salada, umedeci os lábios antes de continuar. — Já notei que gostou do girassol, mas sem água ele vai morrer.
Maneei a cabeça em direção a pequena flor no bolso dela, seu rosto se contorceu em culpa, deixei uma risadinha escapar ao notar tão facilmente aquele sentimento dela, Manoela era transparente demais.
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Second Chance [Ranu]
FanfictionHerdeira de um dos maiores hospitais do país, Rafaella Kalimann tinha a vida perfeita e deixava os pais extremamente orgulhosos. Porém, viu essa realidade se desmanchar ao sofrer um grave acidente onde teve a memória afetada. Agora, tendo que difere...