Second Chance [Ranu]

9. Break My Heart, Dua Lipa

Rafaella Kalimann

2021

Meus pés pareciam grudados no chão e meu estômago embrulhava como se tivesse comido algo estragado, as mãos começaram a suar frio e qualquer pensamento que surgia na minha cabeça parecia confuso demais para me dar ao trabalho de entender-lo. Não sabia o motivo do meu corpo ter todas aquelas reações tão exageradas, mas estava tendo-as, e era melhor controla-las logo.

Respirando fundo, acalmei-me e já estava pronta para andar até onde Manoela e Gizelly estava, mas parei subitamente ao ter os grandes olhos castanhos da pequena mulher fixados em mim. Apenas aquele olhar foi capaz de trazer arrepios à minha espinha, e ao mesmo tempo, formar um grande sorriso em meu rosto, mesmo sem intenção.

Manoela estava sentada de braços cruzados na maca azul claro, os olhos marejados e um biquinho nos lábios, usava um pijama tie dye rosa com branco e pantufas de bichinhos, o cabelo curto estava bagunçado e a cara de sono denunciava que algo sério havia acontecido para que ela parasse ali na emergência quando parecia ter acabado de acordar.

Criando coragem para me aproximar mais, debatia internamente o que falaria primeiro para a dupla, se era melhor perguntar o que tinha feito Gizelly preferir ficar ali à trabalhar no grande problema que o desvio de dinheiro causou ou se tudo estava bem com Manoela.

Algo me dizia que a resposta para as duas perguntas estavam interligadas.

— Já falei pra chamar a Dra. Thelma Regina! — a impaciência de Gizelly me surpreendeu, era a primeira vez que a via tão irritada. Aquilo não só me assustou, como todos que estavam por perto também, logo não era só eu que assistia a cena à distância.

— Pela milésima vez, senhorita Bicalho. A Dra. Thelma está atrasada, e não podemos esperar por ela para examinar sua amiga. — a emergencista usava toda a sua calma para tentar convencer Gizelly a deixei-la cuidar de Manu, mas minha estagiária parecia determinada a recusar qualquer pessoa que não fosse Thelma. — Prometo que sua amiga estará em boas mãos.

— Mas ela que é a médica da Manu, e só ela sabe o que aconteceu. — Gizelly insistiu, começando a falar alto demais e atraindo ainda mais olhares, percebendo isso, logo tratei de me aproximar do trio com a intenção de tirar as atenções dali e evitar uma possível discussão.

— Gizelly... — chamei em tom baixo e abrindo mão das formalidades, mas aquilo não evitou que a futura advogada me enviasse um olhar assustado e, ao mesmo tempo, envergonhado. Tentando tranquiliza-la, abri um pequeno sorriso. — Tudo bem? Pode me explicar o motivo dessa confusão toda?

— Peço perdão pelo alvoroço. — ela murmurou envergonhada. — A médica da Manu é a Dra. Thelma Regina, e não gosto quando desconhecidos tratam dela sem o conhecimento completo do que ela tem. Não queria causar isso, mas não é algo para uma emergentista.

Tive que conter a surpresa de saber que Gizelly e Manu se conheciam, a coincidência daquilo estava me deixando levemente tonta. A amiga advogada que Manoela tanto falava, era ninguém mais, ninguém menos, do que minha estagiária.

— Só esqueceu de dizer que a Dra. Thelma trabalha em dois hospitais e que hoje ela não está aqui. — a emergencista rebateu parecendo irritada com a relutância de Gizelly. — E pela confusão que tá o trânsito aqui perto, vai acabar demorando pra conseguir chegar.

— Certo, tudo bem, vamos nos acalmar. — tomei a frente da discussão, e puxei minha estagiária pelo braço, deixando-a longe da emergencista, em seguida deixei minha atenção se dirigir a figura quieta de Manoela. — Acha que vai ficar bem até que sua médica chegue?