5. Talking To The Moon, Bruno Mars

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Rafa Kalimann

2021

Sempre adorei filmes de super-heróis, isso era um fato. Me maravilhava com a maneira que aqueles grandes universos eram construídos, a forma que funcionava e como tudo sempre se entrelaçava no final. A expansão das histórias de forma ilimitada trazendo cada vez mais conflitos, personagens, e o que mais me fascinava, culturas diferentes de qualquer outra conhecida.

Mas, se naquele momento, todos eles existissem no mundo real, Thor seria o ser vivo mais odiado do universo, nem mesmo seus poderes seriam capazes de parar a minha fúria. O clima do Rio de Janeiro estava péssimo, a chuva torrencial parecia que só iria piorar ao longo da madrugada, trovões e raios tiravam o silêncio que o pequeno apartamento de Manoela estava mergulhado de forma quase agressiva.

Realmente, aceitar o convite da pequena mulher tinha sido a melhor escolha, não conseguia nem imaginar como passaria a noite inteira dentro do carro no meio de um temporal tão forte. Principalmente quando minha cabeça estava prestes a explodir com todos os acontecimentos passados, mesmo estando mais calma e o chá que tomei com Manoela tendo me relaxado, estava longe de conseguir dormir realmente.

E isso não se dava ao fato de que o sofá era um pouco desconfortável e me causaria uma bela dor nas costas no dia seguinte, longe disso, tudo que rondava minha mente naquele momento era Claire. Nem em meus planos mais mirabolantes imaginaria o desfecho que nossa conversa teve, ter a revelação que ela me conhecia bem antes do acidente me deixou com um buraco no meio do estômago e a cabeça repleta de dúvidas.

Meus pais odiavam responder minhas perguntas sobre como eu era antes do acidente, chegaram ao ponto de me proibir de falar a respeito da minha vida passada. Quase como se quisessem apagar o que fui antes, me davam poucas informações, na maioria das vezes só eram relacionadas a minha vida profissional, raramente deixavam escapar algo sobre outra coisa.

Saber que Claire poderia estar falando a verdade, acendeu um tipo diferente de esperança dentro de mim, não relacionada a cura, mas sim a mais informações sobre mim mesma. Talvez encontra-la depois, para apenas conversar, como ela sugeriu, fosse uma boa jogada, poderia fazê-la contar mais sobre como nossa amizade começou.

No meio de toda aquela confusão havia Manoela, não sabia ao certo os sentimentos que ela causava em mim, mas era inegável o fato de que seu nome grudou no meu cérebro desde o dia do atropelamento, quase como um pequeno parasita lembrando-me constantemente da existência dela. Não menti quando a disse que queria ter entrado em contato para saber de sua recuperação, porém, o fato de ter dito a semana cheia era uma grande mentira.

Até mesmo Bianca havia me incentivado na ideia de procura-la, mas sempre que pensava no assunto arrumava mil e uma tarefas para me ocupar e ter a desculpa da falta de tempo. Estava com medo da possibilidade de nunca mais vê-la, mas algo sempre parecia me puxar para trás dizendo que seria uma péssima ideia fazer aquilo.

Agora, com a perna balançando inquietamente enquanto tentava ler alguns emails e adiantar o trabalho, não conseguia direcionar total atenção aos documentos mostrados na tela do celular, já que minha mente viajava sem permissão até o quarto no final do corredor. Era quase uma forma de traição a maneira que minha mente permitia-se ocupar mais com Manu do que com todos os meus outros problemas, talvez até mesmo patético.

Deixando um suspiro irritado escapar, bloqueei a tela do celular, cruzando os braços e deitando no sofá enquanto encarava o teto. Como alguém poderia invadir tanto meus pensamentos quando tinha mil e outras coisas mais importantes e delicadas para pensar? Nada nem ninguém tirava minha atenção do trabalho, e mesmo assim, se fosse pra pensar em outra coisa, seria Claire quem agora ocuparia esse espaço, não Manoela.

Second Chance [Ranu]Onde histórias criam vida. Descubra agora