Rafa Kalimann
2021
Sempre valorizei minha amizade com Babu, seus bons concelhos, puxões de orelha e abraços calorosos. A presença dele foi essencial nos dias que passei internada após o acidente, me sentia sozinha e ao mesmo tempo não conseguia me conectar com a vida que fui apresentada, nem meus pais conseguiam entender a confusão que minha cabeça se tornou.
Então ele chegou, vestindo um jaleco amassado e com um nariz de palhaço no rosto, trazia flores e balões, me informando que só sairia dali quando a paciente mais chata do hospital abrisse ao menos um sorriso. Dez minutos depois e minha barriga já doía de tanto rir das piadas ruins e ações exageradas, me sentia melhor com um desconhecido do que com minha própria família.
Nossa amizade só cresceu cada vez mais, e ele acabou assumindo o papel de pai que tanto sentir falta após perder a memória. Era pra ele que corria quando tinha dúvidas ou quando um dia era extremamente esmagador, era seu abraço que procurava quando me sentia vazia e sem rumo.
E como um bom pai, era ótimo tentando me proteger de mim mesma. O único problema era minha teimosia gigante e a ânsia de estar sempre certa, mas Babu parecia contornar tudo aquilo tentando me vencer pelo cansaço. Infelizmente, para o azar dele nunca estive tão convicta de uma decisão como estava agora.
— Seus pais sabem disso? — questionou, emburrado, já estávamos há minutos nessa discussão e parecia que nunca chegaríamos ao fim. O principal problema da nossa amizade eram as personalidades idênticas, éramos dois cabeças duras que odiavam perder uma briga. — Contou pra Bianca?
— Não, pra nenhuma das duas perguntas. — suspirei, encostando-me na mesa do escritório e cruzando os braços, Babu me olhava com um olhar duro, o mesmo que um pai dá para uma criança mal criada. — Que eu saiba você deveria estar de plantão, e não na minha sala tentando me fazer desistir de uma coisa que nós dois sabemos o quanto é importante para mim.
— O problema é que você fugiu de mim por uma semana depois do atropelamento, só sei que as coisas ficaram bem porque Bianca me contou. — desviei do olhar dele, completamente envergonhada, fugir de Babu por tanto tempo foi difícil mas não conseguiria olhar para o rosto dele e mentir, sem falar que ele me conhecia bem demais para saber quando estava tentando engana-lo. — Para onde estava indo quando atropelou a Manu?
— Já sabe a resposta, bisbilhotou minha agenda inteira, pra quê quer que eu fale? — bati o pé irritada, ele apenas maneou a cabeça, parecendo cansado, levantou do pequeno sofá no canto do escritório e veio até mim, parando na minha frente e analisando meu rosto. — Vai colocar um detector de mentiras no meu dedo?
— Não quero que se machuque, Rafa. — tomou fôlego, encarando-me profundamente, em seu olhar vi a enorme preocupação que o afligia e por um momento me sentir mal por ser a causadora daquele sentimento. — Nós dois sabemos o quanto dói quando um médico fala que a situação de um paciente é irreversível. Você ouviu isso dezenas de vezes, chorou e sofreu em cada uma delas, pra quê ouvir de novo? Por que se machucar assim?
— Ela não é qualquer médico. É Claire Browne, uma das melhores neurocirurgiãs, a única que leu meus emails, viu uma brecha nos exames e me deu um fio de esperança. — me aproximei dele, segurando suas mãos, Babu ainda me olhava da mesma maneira, mas agora podia sentir um pouco de pena em seu olhar, aquilo me causou uma sensação estranha. — Não quero saber sua opinião e estou longe de pedir permissão, mas ficaria grata se você ao menos tivesse um pouco de esperança, assim como eu tenho.
— Onde irão se encontrar? — sua pergunta me fez sorrir largo, puxando-o para um abraço apertado, aquela pequena frase era a maneira dele de mostrar que mesmo não concordando com minha escolha iria apoia-la. — Não gosto da maneira que está fazendo tudo escondido, mas se quer tanto vê-la, o que posso fazer para impedir?
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Second Chance [Ranu]
FanfictionHerdeira de um dos maiores hospitais do país, Rafaella Kalimann tinha a vida perfeita e deixava os pais extremamente orgulhosos. Porém, viu essa realidade se desmanchar ao sofrer um grave acidente onde teve a memória afetada. Agora, tendo que difere...