12. Clementine, Halsey

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Rafaella Kalimann

2021

A manhã do segundo dia de viagem foi calma, me trouxe uma sensação boa de acolhimento, fazia bastante tempo que não sentava à mesa apenas para tomar café da manhã com alguém. Manoela havia acordado totalmente renovada e nem parecia que tinha passado mal no dia anterior, estava bem mais sociável e esperta, sempre soltando piadinhas para o casal de amigas.

O clima que havíamos criado no café da manhã estava tão bom que Gizelly e Marcela acabaram perdendo a hora marcada no spa e precisei ligar para informar que elas iriam no começo da tarde. As duas relutaram um pouco no início, dizendo que não havia necessidade, mas logo cederam ao perceber que eu não iria aceitar qualquer desculpa.

Gizelly e Manu aproveitaram o tempo a mais para andar um pouco pela orla da praia, enquanto Marcela finalizava um trabalho para a faculdade. Estranhei um pouco aquilo, mas ela logo tratou de dizer que a namorada não havia dito que viajariam o fim de semana inteiro, então não se importou de deixar algumas pendências na faculdade.

Já eu, contrariando o que havia dito para Gizelly no dia anterior, peguei a pasta de documentos que ela havia trazido e tratei de lê-los novamente, revisando algumas anotações que havíamos feito no escritório e tentando ao máximo anular qualquer erro que tenhamos cometido.

Só parei quase no horário do almoço, quando decidir tomar um banho antes de sair do quarto. Guardei a pasta dentro de uma das gavetas da cômoda ao lado da cama e fui para o banheiro, acabei perdendo um pouco a noção do tempo, deixando o banho mais longo do que planejava no início.

Terminava de me vestir quando ouvi uma batida na porta, que logo se tornou desesperada, aquilo me fez pensar que algo tinha acontecido durante meu banho longo. E logo o mal estar de Manoela voltou a minha cabeça, fazendo-me ficar com o corpo tenso e inundado minha mente com preocupações.

Porém, logo tudo aquilo foi substituído pela raiva de abrir a porta e encontrar Gizelly com um enorme sorriso no rosto, minha estagiária sabia muito bem o efeito que causou em mim e não conseguiu conter a gargalhada.

— Sangue do cordeiro, Gizelly! — bufei, respirando fundo para me recuperar do susto, entrando novamente no quarto. — Pensei que tinha acontecido alguma coisa!

— Viu como é legal assustar os outros? — a capixaba riu, encostando-se no batente da porta, enquanto me observava andar pelo quarto. — Marcela e eu estamos indo agora, cadê a chave do carro?

— Espero que meu carro volte inteirinho, sem um vislumbre de arranhão. — brinquei, procurando a chave do carro dentro da bolsa, logo a encontrei, jogando para Gizelly que continuava parada na porta. — Como foi o passeio na praia?

— Foi ótimo! Manu adorou a paisagem, e eu mal vejo a hora de entrar no mar. Hoje vamos chegar já a noite, mas amanhã o dia na praia tá garantido! — se animou, dando pulinhos, ri de sua espontaneidade. — Você tem preocupações muito maiores do que só o carro. Tipo fazer alguma coisa para vocês comerem enquanto estivermos fora, se for esperar pela Manoela é capaz da gente chegar e encontrar as duas desmaiadas.

— Sou ótima cozinhando, sem problemas. — dou de ombros. — Manoela não sabe cozinhar?

— Ela se vira bem, mas segue uma dieta bem rígida e sempre quer dar uma escapadinha. — revirou os olhos, a citação da tal restrição alimentar me trouxe dúvidas novamente, precisava muito saber o porquê daquilo. — Então deixei tudo anotado em uma caderneta em cima da mesa, lá tem tudo que ela pode ou não comer, só segue o que tem no papel.

— Tudo bem. — balancei a cabeça, sentando na cama e a encarando.

— Ela também é teimosa e nunca diz quando tá sentindo alguma coisa, deu pra perceber ontem, então sempre presta atenção nela. — orientou novamente, tive que segurar a vontade de revirar os olhos. — A gente não vai desligar o celular em nenhum momento, qualquer coisa que acontecer é só ligar.

Second Chance [Ranu]Onde histórias criam vida. Descubra agora