O sonho

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De repente, meu estômago ronca de fome. Quando olho o relógio, vejo que já passou do meio-dia. Abro o armário e olho as caixas de cereal sem vontade.

– Posso fazer um almoço para nós. - Ele diz saindo das sombras me fazendo dar um pulo de susto e fazendo meu coração quase sair pela boca.

– Qual é o seu problema? Não chega de fininho quando eu estou puta com você!

– Quando você está puta comigo?

– Isso! Eu não tô nem um pouco feliz com você, então me deixa.

– Então...não quer que eu faça o almoço? - Sua pergunta provoca outro ronco em meu estômago.

– Eu nunca disse isso. Eu só te disse para me deixar sozinha. - Minhas frases sem sentido o fazem rir.

– O que acha de frango agridoce refogado?

– Eu nunca comi

– É uma das minhas especialidades.

– Ah, é? - Meus olhos se fixam nele, e eu o vejo sorrindo. Meu coração quase para com o que vejo. O sorriso dele é magnífico.

– Ainda tá brava comigo?

– O que você fez não foi legal. Você sabe disso, né? - Meu comentário o faz suspirar e esfregar a parte de trás do pescoço.

– Talvez eu tenha exagerado. Eu só estou tentando te proteger.

– Eu entendo, mas existem formas melhores de fazer isso. Você não precisa destruir o meu telefone e queimar tudo na minha frente.

– Aquilo foi um pouco pesado, eu sei. Deixa eu compensar, tá? Vou preparar minha especialidade e depois pode me dizer se ainda está com raiva de mim.

– Não é tão simples assim, Sam.

– Eu não posso deixar nada acontecer com você. Ouvir que eu esqueci de um detalhe tão importante me pegou de surpresa. Eu realmente não estava tentando te magoar, Annie.Entendo por que ficou chateada...Eu só queria saber como resolver.

– Eu aceito suas desculpas. Me desculpa por não ter percebido que o meu celular podia ser usado para me rastrear.

– Eu devia ter checado ele com você antes de a gente sair. Me desculpe por te ofender. Não se culpe por uma falha minha.

– Não sei como descobriu o meu ponto fraco tão rápido. - Mudei de assunto, já era perceptível como ele se culpava por errar, não deveria ser tão duro consigo mesmo.

– Ponto fraco?

– Comida é meu ponto fraco. - Minha confissão o alivia e seu rosto evidencia isso. Ele dá meia volta e começa a tirar os ingredientes da geladeira. - Ah, Sam?

– Sim? - Ele vira em minha direção e eu vou até ele, dou um beijo suave em sua bochecha.

– Obrigada por cuidar de mim. - Meu agradecimento tem efeito nele, suas bochechas ficam vermelhas enquanto ele me olha pensativo, perdido e sem palavras. Me sinto confiante de repente e decido repetir o beijo.

Dessa vez, eu miro no centro, e me aproximo lentamente, dando tempo suficiente a ele para se afastar. Ele não se afasta. Quando nossos lábios se encontram, nossos olhos se fecham automaticamente,e eu o ouço derrubar a sacola de cenouras que ele estava segurando.

As mãos dele, livres agora, seguram o meu rosto suavemente. É um beijo sedutor, intoxicante. Meu corpo todo começa a formigar quando a língua dele separa os meus lábios e encontram a minha.

Conforme as nossas bocas se ocupam em acariciar uma a outra, eu coloco meus braços em torno dele e o puxo para mais perto. Ficamos parados ali, nossos corpos grudados, perdidos no desejo e anseio.

Nossos beijos não são mais lentos e delicados, mas apressados e cheios de paixão. Quando os meus joelhos quase cedem, minhas mãos seguram o tecido da parte de trás da camisa dele. Sam me ergue e me coloca no balcão da cozinha, abrindo as minhas pernas para facilitar o acesso.

Meus batimentos cardíacos se aceleram conforme as minhas coxas se separam, e eu sinto o sangue correr pelas minhas veias. Ele morde o meu lábio inferior para me provocar, e eu não consigo segurar um gemido.

A necessidade que eu tenho desse homem supera qualquer outra, e me deixa tonta. Sem chão. Eu quero mais e mais e mais...

Eu me agito no balcão, sentindo o vazio quase insuportável no meu estômago. E meu joelho roça no volume rígido dele, eu o ouço xingar baixinho. Um segundo depois, ele se afasta, e nós tentamos recuperar o fôlego a uma distância segura um do outro.

– Annie...Eu...- Ele começa ainda ofegante e confuso. Aproveito para pular do balcão, também zonza.

Eu pego a sacola de cenouras caídas displicentemente no chão e a dou para ele.Ele pisca várias vezes ao me ver sorrir.

– Vou deixar você trabalhar, chef. Só me avisa quando tudo estiver pronto. - Passo perto dele, caminhando em direção a sala. Eu adorava deixá-lo sem palavras.

Uma hora depois, escuto meu nome ser chamado na cozinha. Aparentemente ele tinha terminado nosso almoço. Me sento na mesa e vejo o prato lindo que ele havia preparado.

– Onde aprendeu a fazer isso? Tem um sabor incrível! - Digo depois de dar uma garfada.

– Quando se mora sozinho pelo tempo que eu tenho morado, é preciso aprender a cozinhar.

– Quase te invejo. Quando eu era criança, minha família tinha chefs particulares ou jantávamos em restaurantes exclusivos. A comida era ótima, mas o máximo que eu aprendi foi a fazer coisas básicas, como panquecas. Infelizmente, acho que nunca usei o fogão da minha própria cozinha.

– Mas é uma vida tão ruim assim? - Ele pergunta travesso

– Há suas vantagens. Eu costumava amar minha vida...mas agora vejo que não é a melhor para mim.

– O que te fez enxergar isso?

– Sinceramente, estar aqui. Tem algo de encantador em dormir com um fogo ardente na sala...ter que preparar as próprias refeições em vez de pedir o cardápio...Acho que eu gostaria de viver esse tipo de vida com você.

– Comigo?

– Claro. Qual seria a pior coisa que poderia acontecer? A gente se vê pelado de vez em quando? Posso viver com isso

Os olhos de Sam se fixam nos meus.. e fica óbvio que nós dois estamos lembrando do ocorrido no chuveiro. Ele se levanta abruptamente da mesa.

– Esqueci que tinha planejado consertar a minha moto hoje.

– Agora? Mas você não disse que ela estava boa?

– Dá pra melhorar. - Ele diz e sai.

Fico olhando na direção em que ele partiu sem entender sua reação. Estava só brincando...

No entardecer, enquanto Sam toma banho, coloco meu pijama e me deito na cama. Um tempo depois, ele entra no quarto vestindo apenas uma cueca. A água brilha na superfície de sua pele enquanto ele passa a mão pelos cabelos úmidos. Logo, Sam me nota enrolada debaixo das cobertas.

– Annie? Já está na cama? - Ele pergunta, penso em provocá-lo mais um pouco, mas depois da reação de hoje a tarde, prefiro deixá-lo em paz, por enquanto.

Eu bocejo e aceno, então ele me deixa em paz., e tento dormir inquieta.

Horas se passam e ainda não consigo dormir direito. Acordei inúmeras vezes, me contorcendo e me virando, tentando encontrar uma posição confortável, sem sucesso. Olho para Sam e o vejo dormindo tranquilamente. Seus lábios estão um pouco abertos e seu rosto relaxado. Parecia um anjo.

De repente, ouço algo.

– Annie... - Eu congelo ao escutar, me perguntando se eu tinha falado algo em voz alta. Olho de novo para ele, mas continua dormindo.

– Você disse alguma coisa, Sam? - Eu sussurro

– Annie..

– Sim? - Eu o observo curiosa, tentando descobrir o que ele estava dizendo.. quando tudo fica muito claro.

– Annie...Annie...Annie - Ele tá gemendo o meu nome?!

Meu guarda-costasOnde histórias criam vida. Descubra agora