– Tem alguma coisa bloqueando a porta.
– Mas como?
– Não sei.
– Não me lembro de ter nada perto da porta quando a gente veio para cama!
– Isso porque não tinha. - Sam faz uma pausa e se vira em minha direção. - Fica atrás de mim. Tem alguém na casa, e assim que essa porta se abrir, eu preciso te proteger.
Concordo com a cabeça e corro para ficar atrás dele. Depois de mais uma tentativa, o corpo de Sam se joga na porta e ela se solta das dobradiças com um estrondo. Olho horrorizada para a sala que sumiu quase completamente por trás de nuvens espessas de fumaça venenosa. Sinto meus pulmões começarem a queimar enquanto inspiro a fumaça.
– Fica aqui! - Sam pede desaparecendo na fumaça, e eu tenho que fechar bem os olhos para impedi-los de arder. A ideia de esperá-lo aqui é aterrorizante, o invasor pode estar em qualquer lugar da casa e ele pode facilmente se afogar naquele veneno! Eu corro atrás dele.
– Sam! - Eu tusso e aperto os olhos, mal conseguindo distinguir seu vulto em movimento. - Sam, cadê você?
Caio de joelhos e tusso com tanta força que meus olhos começam a lacrimejar. Mal consigo recuperar o fôlego. Sam me levanta do chão, com sua própria respiração destruída por uma tosse dolorosa. Parece que colocaram fogo nos meus pulmões.
– Por que você não esperou no quarto como eu te disse?
– Eu fiquei com medo. O que está acontecendo?
– Alguém acendeu todas as bocas do fogão e... - Suas tosses o interrompem enquanto eu me esforço para ver seu rosto. - Colocaram panos de prato ao redor. Seja lá quem for, sabia o que estava fazendo...e não queria que saíssemos vivos. Vou te levar para fora até que a fumaça diminua.
Concordo com a cabeça, e ele me carrega em direção à porta. Assim que ele pega a maçaneta e a abre, noto um vulto escuro correndo pelo quintal.
– Sam! Olha lá! - Eu aponto, e a cabeça de Sam se vira.
– Fica aqui, Annie! - Sam me coloca no chão e abre a porta. - Pode parar aí mesmo! Nem pense em se mexer!
Olho pelo batente da porta aterrorizada e vejo o vulto se virar para encarar o corpo enorme do Sam. Um brilho do luar reflete algo de metal na mão do homem enquanto ele a levanta na direção de Sam. Meu sangue corre frio.
– Sam, ele está armado! Ele está...- Sam derruba o homem no chão antes que ele consiga atirar ou eu falar.
Eu grito quando o Sam leva um soco no rosto, mas ele não recua. Os dois homens lutam pela vantagem e não fica claro quem está ganhando. Sam está gritando algo para o homem, mas eu não consigo entender o que é. Sam consegue chutá-lo com força nas costelas e enfia a mão no bolso de trás para sacar sua própria arma.
– Eu disse, pro chão! - A voz de Sam ecoa ao redor da floresta silenciosa enquanto aponta a arma firmemente na direção do invasor.
O homem, hesitante, levanta as mãos e fica de pé. Sinto meus ombros relaxarem. Tremo de frio e vejo o Sam caminhando em direção ao homem em passos lentos e controlados, nunca abaixando a arma. O homem permanece imóvel e observa cada movimento do Sam com uma concentração calculada. Assim que Sam tenta agarrar as mãos do homem, ele corre novamente.
– Merda! - Sam pragueja e tiros ecoam no meio da noite, eu cubro meus ouvidos por causa do som.
Depois do quinto disparo, vejo os ombros de Sam caírem em derrota antes que ele se vire e volte para a casa.
– Você está bem? - Eu pergunto quando ele finalmente chega até mim.
– To bem.
– Como que isso foi acontecer? Como nos encontraram?
– Não sei. - Sam admite e se aproxima de mim envolvendo seus braços protetores em volta da minha cintura, me puxando para perto. A preocupação em seu tom de voz me faz tremer. - Seja lá quem for, acabou de tentar nos matar.
– Mas...por que? Como?
– Tá vendo o fogão e todos os panos de prato ali? Fogões a gás propano emitem monóxido de carbono, que é basicamente um assassino silencioso. É um gás sem cor e sem cheiro.
– Então por que tinha fumaça?
– Minha teoria é que ele esperava que os panos de prato pegassem fogo, o que acabaria com o lugar. E se não desse certo, no fim o gás teria nos matado durante o sono.
Meus olhos se arregalaram em choque.
– Isso é tão assustador. Se a gente não tivesse ouvido aquele barulho, poderíamos estar mortos agora.
O aceno de Sam é sombrio.
– A gente não está mais seguro aqui.
– Mas pra onde a gente pode ir? Tem outra casa segura em algum lugar? O Victor falou que teríamos de mudar em dois dias, então já pensaram onde né?
– Não, ele só combinou quanto tempo ficar aqui, não para onde iríamos, mas até agora não estava com tanta pressa. Talvez eu consiga entrar em contato com alguns dos meus contatos antigos, mas isso pode levar uns dias.
– A gente não tem todo esse tempo. Aquele homem pode voltar e pode ter cúmplices.
– Eu sei, agora que sabe que o vimos, ele pode ficar mais violento. - Ele diz coçando a nuca e suspirando nervoso. Ele olha na minha direção, subitamente hesitante - O Victor ter vindo aqui na noite passada...isso não pode ser uma coincidência. Alguém deve ter seguido ele.
– Acho que você tem razão. Ele provavelmente não tomou tanto cuidado quanto imaginou. Bom, levando isso em consideração...será que a gente conta para ele?
– Não. Se ele souber, pode acabar dando uma pista para eles. Não dá para dizer a ele para onde vamos até ter certeza que é seguro. Não quero fazer nada que te coloque em risco.
– Certo, então vamos embora sem dizer nada?
– Isso vai nos dar a vantagem que a gente precisa. Tem algum lugar onde o Victor jamais pensaria em procurar?
– Não consigo pensar em lugar nenhum, pra ser sincera. Eu não costumo sair sem ele.
– Que tal um lugar onde ele pensasse que você nunca iria por escolha própria?
Faço uma pausa para pensar no que ele disse.
– Bom...por mais que eu odeie dizer isso, tem um lugar. Mas eu realmente não quero ir lá. - Meu comentário faz os olhos de Sam se iluminarem quando ele me olha com expectativa. - Não falo com eles desde o meu casamento com o Victor. Duvido que ele nos deixariam ficar lá depois de tudo o que aconteceu.
– Quem são "eles"?
– Meus pais.

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Meu guarda-costas
Roman d'amourSair de uma graduação em Harvard para uma esposa troféu, é de se envergonhar. Isso é o que Annie Laurent Mazza acha de si mesma, porém, não tem como se divorciar do marido, pois deve se preocupar com uma coisa mais importante, sua vida, que está cor...