Medo

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Apesar de quente e relaxante, meu banho não fez nada para acalmar meus nervos à flor da pele. Não vejo meus pais há anos. Não sei nem se eles querem me ver.

Balanço a cabeça e tento não pensar no passado. Pego minha mala na sala e encontro o Sam já me esperando.

– Vamos? - Eu pergunto chamando sua atenção, que estava voltada para seu celular.

– Só tem uma coisa para fazer antes de ir.

– Que seria?

– Precisamos virar esse lugar do avesso. - Seu comentário me faz olhar confusa em sua direção, ele continua. - Não dá para deixar nada que possa indicar a sua presença. E também deve parecer que ninguém vem aqui há um bom tempo.

– Faz sentido. Eu não tinha pensado nisso. Então, por onde vamos começar?

– Eu vou cuidar da cozinha, e você pode decidir qual cômodo vai bagunçar. Só...- Ele olha para mim e coça a nuca. - Por favor, não destrua nada muito valioso, tá? Porque ainda é minha casa.

– Então, nada de quebrar a TV? - Eu brinco e seus olhos se arregalaram.

– De jeito nenhum.

– E as janelas?

– Se fizer isso, eu a deixo aqui.

– Você é muito sem graça. - Eu cruzo os braços e ele faz uma careta.

– Eu estou te deixando bagunçar a minha casa, já estou sendo muito legal. - Reviro os olhos e solto uma risada quando ele entra na cozinha sem dar outra palavra.

Meus olhos se concentram nas quatro cortinas separadas penduradas na sala. Quando chego na primeira, puxo devagar só para ter uma ideia do quanto vou ter que forçar. Esse negócio parece resistente. Levanto a mão e puxo com força a cortina.

Ela cai com um estalo perceptível, e a haste quase cai bem na minha cabeça. Eu salto para fora do caminho e ouço uma risada distante vindo do outro cômodo. Decidindo ignorar o Sam, continuo com as outras cortinas.

Continuo rasgando-as, até que todas as quatro estejam caídas no chão. Enquanto fico observando a sala, Sam aparece na sala e examina os danos.

– Impressionante, Annie.

– Obrigada.

– Sabe...eu nunca gostei muito desse sofá. Que tal você me dar um motivo para eu comprar um novo?

– Tem certeza?

– Absoluta. Além disso, depois da noite passada, ele não vai ter muita serventia mesmo. - Ele diz com um sorriso malicioso e eu fico vermelha com as palavras dele.

– Bom, pensando por esse lado...

– Me dá um segundo. - Sam volta para cozinha e chega cinco segundos depois com uma faca grande. Ele me dá ela. - Divirta-se.

– Pode deixar.

Pego a faca e a enfio no estofado do sofá. A faca afunda com tanta precisão e que atinge a armação do sofá, e quando a arrasto para a direita, um sol alto sai preenchendo a cabana. Eu espalho algumas penas que voaram do estofado enquanto o Sam me observa.

– Você pode fazer mais do que isso.

– Tem certeza de que quer dizer algo para uma mulher segurando uma arma perigosa? - Eu o ameaço.

– É uma faca de manteiga para mim.

– Concentre-se na palavra "faca"! - Minhas palavras o fazem rir tanto que sua cabeça é jogada inconscientemente para trás.

Meu guarda-costasOnde histórias criam vida. Descubra agora