Perdão

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Na manhã seguinte, estou ajudando a minha mãe a preparar o almoço.

– Foi...muito gentil da sua parte dar um dia de folga para a chef.

– Bom, não posso esperar que ela trabalhe todos os dias do mês, posso?

– Claro que não. Mas nunca vi você chegar a essa conclusão antes.

Minha mãe estreitou os olhos para mim.

– Não sou uma soberana arrogante e rica que não se importa com as pessoas que trabalham para mim. Eu dou quatro dias de folga por mês!

– Quatro dias? Que gentileza a sua, mãe. - Eu rio e ela joga um pedaço de pão em mim. - Ei!

– Eu pago quase três salários mínimos, senhorita! Ninguém pode dizer que eu não cuido da minha equipe.

– Só estou brincando com você, mãe. - Eu cutuco com o cotovelo e ela finalmente sorri.

Enquanto continuamos preparando o almoço, sinto a curiosidade dela atingir o ponto de ebulição. Posso afirmar que não falar sobre o Sam está matando ela. Infelizmente, não posso evitar o assunto para sempre.

– Então... - Ela começa e eu a interrompo.

– Pergunta de uma vez, mãe.

– Perguntar o que?

– Você sabe muito bem.

– Tá, tá bom! Ele parece...legal.

– Ele É legal.

– E forte também.

– Aham.

– Ele é definitivamente um homem com bons costumes. Já estava na hora de você achar um desses.

– Mãe...- Eu tento repreendê-la, mas ela continua.

– Talvez dessa vez você tenha o bom senso de ficar com ele.

– O que isso quer dizer?

Minha mãe encolhe os ombros e se ocupa pegando algo na geladeira.

– O que eu quero dizer é que gosto dele.

Ficamos em silêncio e continuamos preparando a comida. Mais tarde, sentados na mesa, meu pai se pronuncia depois de beber um gole do vinho.

– Eu tenho que dizer, que bom que você está aqui, Annie. Essa refeição não ficou tão ruim. Sempre que sua mãe tenta cozinhar, geralmente acabamos pedindo pizza.

– Richard! - Minha mãe o repreende.

– Eu achei delicioso, Sra. Laurent.

Minha mãe dá um sorriso satisfeito para Sam.

– Viu, Richard, é assim que os verdadeiros cavalheiros devem agir.

– Legal, Garcia, você tinha que queimar o meu filme.

Meu pai dá um tapinha nas costas de Sam, enquanto minha mãe revira os olhos.

– Sinceramente, você podia aprender uma coisa ou duas com ele. Parece que ele sabe como tratar uma mulher com respeito. Talvez eu saia e arranje um guarda-costas, se todos forem assim.

– Para que você precisaria de um guarda-costas? - Meu pai se vira para minha mãe

– Acho que fui sortuda com o Sam. - Todos os olhares se voltam para mim e eu paro com o garfo levantado na boca - O que?

Um sorrisinho brilha nos lábios do Sam, mas ele fica quieto.

– Então, quais são os seus planos agora, Annie? - Meu pai muda de assunto.

– Como assim?

– Bom, você vai espalhar pro mundo que está viva?

– Acho que nem pensei muito nisso.

Meus pais trocam olhares e seus rostos parecem ficar sérios.

– Parece...surreal ter você aqui, Annie. - Meu pai admite e minha mãe adiciona.

– A gente não quer que você se vá.

Meu pai estende a mão para agarrar a mão da minha mãe. Ela morde o lábio e acena para ele.

– Sua mãe e eu conversamos, e vamos te ajudar como der. Se você precisar de um lugar para ficar, se precisar de comida ou roupas... é só falar. Posso até te ajudar a achar um emprego, se precisar.

– E com a conexão do seu pai com o governo, a gente podia conseguir até uma nova identidade se você quiser começar do zero.

– Por que tudo isso? - Eu pergunto surpresa

– A gente te ama, Annie. Só queremos fazer parte da sua vida de novo. Deixar você partir anos atrás foi o maior erro das nossas vidas. Nós nunca vamos nos perdoar por isso. Não dá para voltar no tempo...mas podemos tentar compensar. Perdemos tantos anos juntos. Tantos aniversários, tantos natais... - Meu pai declara e minha mãe complementa.

– Você nos aceitaria de volta em sua vida? Deixa a gente te ajudar?

– Claro, mãe! Amo muito vocês dois. Como não aceitaria? - Me levanto e abraço os dois e quando me afasto, vejo lágrimas nos olhos deles.

– Nós também te amamos. - Minha mãe diz me abraçando novamente.

– Vou dar uns telefonemas hoje à tarde. Vamos arranjar uma casa para vocês o mais rápido possível, mas, enquanto isso, adoraríamos que vocês ficassem aqui.

– Eu adoraria. Mas tenho que pensar um pouco sobre isso. Não sei ao certo quais serão os próximos passos. Parece que eu estou sempre olhando desconfiada. Eu e Sam mal saímos na rua desde que toda essa perseguição começou.

– Olha, talvez tenha uma solução para isso. - Minha mãe começa a falar com o rosto iluminado, indicando que havia tido uma ideia. - E o parque de diversões?

– Que parque de diversões? - Eu pergunto confusa.

– O do Halloween que a cidade recebe todos os anos. Você adorava ir quando era mais nova.

– Não sei se é uma boa ideia. Mas é sempre tão cheio, né?

– É Halloween nesse fim de semana, então duvido que alguém te reconheça usando uma fantasia!

– Sei lá, mãe - Dou de ombros mas Sam logo se pronuncia.

– Parece uma boa ideia você sair um pouco de casa.

– Uma boa ideia para vocês dois! - Mamãe fica mais animada por ver Sam concordando com sua ideia.

– Vocês tem máscaras aqui? - Sam pergunta e o rosto da minha mãe cai um pouco, mas ela não deixa que isso a detenha.

– Não, mas tenho certeza de que podemos encontrar algo que sirva.

– Bom, se alguém me perguntar quem eu sou...Posso apenas dizer: "Sou a esposa morta daquele senador". - Eu brinco e sinto os dois se segurando para não rir.

Meu guarda-costasOnde histórias criam vida. Descubra agora