– Eu adoraria ir com você - Ele sorri, e não posso evitar de sorrir de volta, aquela visão é deslumbrante. - Sabe de uma coisa? Você devia sorrir com mais frequência. Tem um sorriso tão bonito, mas esconde ele atrás dessa cara de mau que está sempre usando.
– Eu não faço cara de mau - Ele insinua ainda sorrindo e vai até a porta da frente, sigo ao seu lado.
– Sim, faz sim.
– Minha expressão facial é sempre profissional.
– Um profissional de mau humor, então. - Eu o ouço resmungar atrás de mim e esconder uma risada.
Ao sair da cabana, andamos tranquilamente até uma pequena lanchonete. Parecia familiar, como se todos ali se conhecessem e fosse o lugar de encontro da cidade. Entramos discretamente, apesar de Sam me assegurar que ninguém me reconheceria, não precisávamos tentar a sorte. Nos sentamos em uma das mesas do canto e nos mergulhamos na comida e na nossa conversa.
– Ainda acho que você está usando o seu trabalho como desculpa - Disse a ele enquanto mergulhava uma batata frita no ketchup.
– Não mesmo
– Ah, fala sério. Quando foi a última vez que você saiu de férias?
– Eu não tiro férias. Sou o chefe de segurança por um motivo
– Sinceramente, não sei como consegue
– O que? Salvar a vida das pessoas?
– E a sua própria vida? Você não quer aquela casa com a cerca branca que todos os casais sonham em ter?
– Não é isso que todos sonham
– Tá, tenho que concordar. Mas não entendo como ainda não se cansou
– É simples. Eu sou bom no que faço
– Desculpa ai James Bond. - Brinco e ele sorri anasaladamente - Além de ser casado com o seu trabalho, você se interessa por outras coisas?
– Não sou casado com meu trabalho
– Não fuja da pergunta - Finjo ameaçá-lo com a faca de manteiga que tinha na mesa. Ele levanta as mãos em rendição, entrando na brincadeira e logo responde
– Tá bom, eu gosto de ler
– Olha só, agora fiquei intrigada. Que tipo de coisa você lê? - Por um segundo, quase parece que o Warren ficou envergonhado.
– Livros. - E voltamos as respostas enigmáticas.
– Livros? - Pergunto com a sobrancelha levantada.
Ele apenas acena positivamente e dá uma mordida no seu lanche. Me seguro para não revirar os olhos.
– Certo...Que tipo de livros? - Insisto
– Normalmente os longos.
– Você se acha engraçadão, né?
– Eu nunca brinco
Eu resmungo e estendo a mão para tomar um gole da minha bebida.
– Tá bem, tá bem. Eu gosto de ler historias de romance
Eu quase me engasgo com o suco. Por essa eu não esperava.
– Viu? É por isso que eu não queria te contar.
– Eu não estava rindo - Seguro o sorriso malicioso e ele me olha desconfiado
– Claro que estava
– Eu nunca iria rir...Tá, eu riria...Mas, prometo que não estava rindo, só fiquei surpresa, eu acho.
– O que tem de tão surpreendente num homem que lê romances?
– Você é tão sério e desapegado. Eu não esperava que fosse do tipo romântico.
– Só porque estou solteiro não significa que nunca me apaixonei.
- Então você estava apaixonado ou ainda está?
– Passado. Foi há muito tempo. A gente ficou junto por quase quatro anos.
– É bastante tempo
– É. Agora o único romance que tenho são das necessitadas, se é que voce me entende. - Ele me diz com cara de nojo e balanço a cabeça afastando a risada
– Ah, então devo sentir pena do grande Sam por ter várias mulheres se jogando pra você. Lembro que Victor adorava a atenção e a competição feminina.
– Eu não sou como seu marido, Annie. - Ele diz sério e me olha no fundo dos olhos. - Quando me envolvo com alguém, é sério. Não tem mais ninguém.
– São palavras bonitas, mas Victor me disse a mesma coisa antes do nosso casamento. - Sinto as lembranças voltando, a esperança de que tudo ia ser como um conto de fadas. Mexo o canudo em volta da minha bebida. - Com o tempo as coisas mudam. Com o tempo, ele fica mais tarde no trabalho ou não volta para casa todas as noites. Com o tempo, você simplesmente para de ligar, de perguntar, de se importar.
– É assim que você se sente? - A pergunta dele me assusta e percebo o que acabei de falar.
– O que? Ai meu Deus, eu não quis dizer isso. - Eu tento rir disso, mas mesmo para os meus próprios ouvidos, a risada sai vazia.
Quando olho pra cima, vejo Sam me olhando com gentileza.
– É tão ruim assim? - A pergunta me faz encolher os ombros
– No início não era assim, eu acho. Mas se eu olhar para trás, não acho que existia paixão entre mim e o Victor. Talvez nós dois tivéssemos metas parecidas na vida, mas numa certa altura as metas dele se tornaram as minhas enquanto eu esquecia quem eu era. Eu estudei em Harvard, sabia? Eu estava estudando para ser advogada. Até me formei com grande honra.
– O que aconteceu? - Sua surpresa me provoca um sorriso irônico.
– Voce já tentou discutir com o meu marido? Ele é bastante político. O Victor tem um jeito de convencer as pessoas a fazer o que ele quer e depois faz elas acreditarem que foi tudo ideia delas. Ele manda muito bem nisso, sério.
– Não entendo por que você ainda não terminou com ele. Você merece muito mais, Annie. - Sam parecia surpreso com suas próprias palavras e rapidamente tentou mudar de assunto. - Terminou de comer? Vou pagar a conta e depois vamos indo.
Sam se levanta antes mesmo que eu possa responder e se afasta da mesa, me deixando completamente atordoada.
Quando voltamos para a cabana, o sol está quase se pondo. Eu não tinha percebido há quanto tempo a gente tinha saído, mas gostei de ter voltado. A caminhada até a casa foi silenciosa , para dizer o mínimo. Tentei fazer mais perguntas ao Sam sobre sua vida, mas ele só me dava respostas de uma palavra ou desviava das perguntas.
Ao chegar na varanda, noto uma moto estacionada do lado da cabana.
– De quem é aquela moto?
– Que moto?
– Como assim, "que moto"? Aquela ali do lado da cabana! - Exclamo já ficando nervosa por ele não saber do que eu estou falando.
– Ah, aquela moto.
Sam vai até a cabana e eu sigo logo atrás dele.
– É...minha.
– Mas quando você teve tempo de colocar ela aqui? Espera, como foi que você trouxe ela até aqui pra começo de conversa? - Sinto o loiro hesitar antes de responder com relutancia
– Esta cabana na verdade é minha
– Ah. Por que você me trouxe para sua cabana?
– Você com certeza faz muitas perguntas
– E você com certeza evita me dar uma resposta direta
– Eu achei que esse fosse o lugar mais seguro para cuidar de você
– Então acho que você tinha razão
– Sobre o que?
– Eu me sinto segura aqui. Com você.
Sam se prepara para responder, mas de repente escutamos um barulho na rua.
– Tem alguém lá fora! - Sam anuncia e me agarra já empurrando para trás dele.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Meu guarda-costas
RomanceSair de uma graduação em Harvard para uma esposa troféu, é de se envergonhar. Isso é o que Annie Laurent Mazza acha de si mesma, porém, não tem como se divorciar do marido, pois deve se preocupar com uma coisa mais importante, sua vida, que está cor...