Dose número 3

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Tudo o que eu menos precisava era ver o Bruno no meu local de trabalho com um carro de som. Aquele maldito carro de som com balões vermelhos, um alto falante e luzes LED de proporções inimagináveis teria sido capaz de me fazer cavar um buraco, só pra me enfiar dentro. 
Bêbado e com a mentira estampada no rosto, ele ainda esperava que eu me arrastasse em sua direção como se ele fosse o único homem do mundo. Cruzei os braços em torno do meu peito tentando parecer segura demais para quem descobriu o noivo com outra e repeti pela milésima vez pausadamente para ver se ele entendia.

— Bruno acabou, ok? Vai embora!

Seu Paulo, o porteiro do prédio, me olhou pelo canto do olho e vi quando ele segurou um porrete, o mesmo que ele usava em ocasiões especiais.

E essa era uma ocasião especial.

— Mas Isabela, eu te amo, não consigo viver sem você — O cheiro do álcool invadiu minhas narinas rápido demais para pensar em uma resposta mais elaborada.

— Tá bom, e você descobriu isso antes ou depois de eu te pegar dentro do decote da Sueli? — reclamei.

— Gata, eu juro que eu não queria ter feito aquilo, foi um acidente. Você sabe, ela se jogou pra cima de mim e eu não pude resistir.

Eu bufei.
Que cara de pau!

—  Bruno! Ela era a sua prima! Nem a sua prima você deixou escapar!

— De segundo grau — Se adiantou. Bruno me encarou com os olhos marejados de lágrimas falsas patrocinadas por algum tipo de colírio barato. — Sem falar que você sabe... você nem me deixava encostar em você...

Eu arregalei meus olhos surpresa com a audácia.

Eu não acredito que ele disse isso.
Sim, eu era virgem e Bruno foi o primeiro a me mostrar como os homens podem ser idiotas quando querem algo. Eu não me sentia preparada, muito menos confortável mas isso não era o suficiente para que ele parasse de insistir evitasse as chantagens emocionais. Como eu não dei o que ele quis, ele decidiu ir procurar no colo da prima loira oxigenada.

— Isabela, se quiser bater papo, sugiro que faça no seu dia de folga — gritou uma voz que eu conhecia muito bem.

Beleza seu Paulo, traz mais um porrete pra mim que eu irei precisar.

Eu nem me virei pra saber que Marcos estava bem atrás de mim com aqueles cabelos bagunçados e aquela cara amarrada de sempre. A própria visão do caos, queimando todo o ambiente com aquele ar de arrogância e prepotência, quando tudo o que eu queria era um pouco de paz. Mas Isabela não merece paz, não. Ela, um monstro de 26 anos carregando uma cruz maior do que a muralha da China, merecia o chefe maluco e o ex namorado tarado, no mesmo ambiente.
Bruno o encarou e riu logo em seguida.

— E você, quem é? — perguntou.

— Não te interessa, quero que saia da merda da porta do prédio e deixe a minha funcionária trabalhar. Não pago meus funcionários pra ficar jogando conversa fora — esbravejou. — Vamos Isabela.

Bruno tinha a expressão mais pavorosa que eu já tinha visto e eu já sentia toda a sua fúria se irradiando pelo ar, feito um vírus contagioso capaz de te derrubar por semanas. Mas entre ficar ali e perder o emprego ou subir e ainda ter um salário pra chamar de meu, eu preferia mil vezes ter minha conta recheadinha no fim do mês. Então eu ignorei aquela sensação e segui Marcos que já estava perto do elevador.

— Então é isso? — gritou, enquanto nos distanciávamos. A julgar pelo temperamento do meu chefe e pela lentidão que era aquele maldito elevador, seu Paulo corria um grande risco de se tornar a testemunha chave de um crime. — Comigo você não quer conversar, mas quando ele te chama você corre atrás, é isso mesmo? VOCÊ TÁ DORMINDO COM ESSE CARA?

Amor em doses de tequila Onde histórias criam vida. Descubra agora