Dose número 23

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AMANDA

1 semana depois...

30 minutos.
30 minutos de atraso e 30 minutos a mais sentada naquela espelunca.

Aperto meus olhos em direção à galinha depenada, pendurada na minúscula janela que separava a cozinha do restante do restaurante e me pergunto quanto tempo a mais eu deveria aguentar aquele bando de gente pobre berrando em meu ouvido.

Tudo ali fedia à gordura e suor e o espaço enfumaçado encobria boa parte da decoração bizarra. A trilha sonora não poderia ser mais a minha cara: forró no volume máximo com a participação especial de uma família barraqueira enquanto discutiam sobre a pensão de uma das crianças.

Era só o que me faltava.

A revista de fofoca do Nelson, descoberta horas antes em uma banca de jornal, queimava dentro da minha bolsa e incendiava meus pensamentos. Era óbvio que aquela matéria se tornaria viral. A madre Teresa de Calcutá havia se tornado o centro das atenções na internet e todo mundo queria saber quem era a nova namorada do Marcos. Abaixei minhas mãos até o amontoado de papéis e folheei até encontrar a publicação. Eu poderia relê-la a noite inteira, se necessário, só para elevar ainda mais o meu ódio e me encorajar a atear fogo naquela garota.

Seu perfume doce me irritava e aquela carinha de sonsa estampada em seu rosto enganava muito bem. Isabela era um livro aberto, fácil de desvendar e não havia nada mais prazeroso do que vê-la passando vergonha enquanto falava. O seu carro era velho: um Fusca rosa desbotado que mal funcionava. Suas roupas eram cafonas, provavelmente originadas de um brechó e sua estatura de nível 1,59 era tão comum quanto o carpete daquele restaurante fedido.

Mas que diabos o Marcos viu nessa menina?

Era isso que eu me perguntava todos os dias.

Era isso que eu me perguntava todos os dias

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