Meus pés estavam morrendo.
A cada minuto.
E eu já imaginava que não teria mais nenhum dedo quando finalmente pudesse arrancar aqueles malditos sapatos de salto.O fato é que eu não dei a mínima para a nota, escrita em tamanho mínimo logo abaixo do anúncio. A exigência do traje formal foi um dos inúmeros motivos que me fizeram questionar se aquele emprego não era furada, logo pela manhã, quando decidi novamente dar uma bisbilhotada no jornal. Tudo bem, eu não iria aparecer de chinelos e traje de banho, mas eram tantos requisitos que me senti indo cozinhar para o próprio presidente da república.
Eu encarei o retrovisor descontente e levantei uma das sobrancelhas para o taxista que não tirava os olhos do meu rosto, coberto pelo sol da manhã de sábado.
A dor era tanta que eu estava de cara feia durante toda a viagem.— Me desculpe, mas a senhorita está passando mal?
Eu xinguei, desistindo do silêncio, dando lugar à ansiedade.
— Sim, são esses malditos sapatos — Ele me encarou por cima dos óculos. — Me obrigaram a usar, tenho uma entrevista de emprego e esse era um dos requisitos, acredita?
Apoiei os cotovelos no banco da frente enquanto esperava por uma resposta que não veio. O homem apertou fortemente o volante com as mãos e continuou encarando o engarrafamento. Mas era difícil me manter calada, principalmente quando eu estava nervosa.
— Fala sério, quem exige isso de uma cozinheira particular? O que estão achando? Que vou cozinhar todos os finais de semana de salto? É a família real e ninguém me avisou?
O enfeite extravagante do retrovisor me chamou atenção. Mesmo com o carro parado, a vaquinha colorida e gigante balançava demasiadamente enquanto segurava uma plaquinha escrita "seja bem vindo" nas patas.
— Se você não se sente bem, porque aceitou a entrevista?
Eu apertei os olhos para ele, debochada.
— Muito bom Sherlock, acredite ou não, eu preciso desse emprego. Na verdade eu já tenho um emprego, mas esse não me paga tão bem, por enquanto — sorri, deslumbrada. — Sabe, estou quase publicando um livro.
Dei um tapinha de leve em seu braço no mesmo momento que senti um sorriso enorme preencher o meu rosto, mas o homem de um metro e oitenta estava tão mau humorado que ele ficou ali, me observando pela visão periférica com aquele olhar assassino.
Procurando por algo no porta luvas, ele sacudiu as mãos inchadas lá dentro e deixou cair metade dos objetos no chão, quando um caminhão de quase dois metros de altura, parado em nossa frente, ressoou uma buzina extravagante para sabe-se lá quem. Na traseira, a frase “só Deus pode me julgar” apresentava um erro grotesco de ortografia onde o s de Deus foi brutalmente assassinado e substituído pelo z. Voltei a atenção para o celular e encarei as horas, sentindo o meu coração arder dentro do peito.
— Estou 10 minutos atrasada. Não tem um jeito de ir mais depressa?
— Só se eu abrir um buraco no chão — Ele lançou a cabeça em direção ao engarrafamento e acendeu um cigarro, irritado.
— Droga!
— Você pode esperar e perder a grana, ou ir à pé e perder o pé. Qual você prefere?
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Amor em doses de tequila
RomanceA AUTORA ADVERTE: ESTE POST É CONTRAINDICADO EM CASOS DE SUSPEITA DE UMA PAIXÃO DESENFREADA POR MAUS ELEMENTOS. SE PERSISTIREM OS SINTOMAS A AUTORA DEVERÁ SER CONSULTADA. Caro leitor, eu, jovem, bonita e princesa- digna do nome desse blog - tive o d...