Dose número 22

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Naquela noite, eu sequer consegui adormecer. Marcos tinha o dom de me tirar de órbita e todos os sentimentos ficaram pairando sob minha cabeça, enquanto eu tentava colocá-los novamente em ordem. Eu não conseguia parar de pensar naquele beijo e na forma que eu me deixei levar, tão facilmente, como se fôssemos só eu e ele. Mas apesar da felicidade que inundava o meu corpo, a culpa também pairava sobre mim por estar mentindo sobre quem era a Cinderela. Ele merecia saber, e todo o fogo em seu olhar naquela noite foi o suficiente para me sentir culpada por estar escondendo algo tão importante. E foi assim que a insônia chegou, de mansinho, me obrigando a fazer a única coisa que eu podia: escrever. 

Como eu estava sem nootbook, resolvi rabiscar alí mesmo, em folhas soltas que eu havia encontrado na cômoda. Era a única forma de expressar meus sentimentos e uma parte de mim queria torná-los vivos por meio da escrita. Não sei quando foi que adormeci mas me lembro muito bem do desespero que senti quando vi Marcos parado bem a minha frente, me encarando, com aquele  sorriso bobo no rosto.

Aaaaaaah.

Dei um pulo da cadeira enquanto ajeitava minha cara amassada. Eu devia estar horrível e acabei soltando um gemido quando me lembrei das olheiras e do meu cabelo rebelde que era semelhante à um ninho de passarinho, todas as manhãs.

Minhas mãos foram de encontro aos papéis, antes que seus olhos curiosos colocassem tudo a perder.

— Bom dia bela adormecida, passei aqui mais cedo pra te chamar pro café mas você estava dormindo tão bem que acabei desistindo — Ele me puxou para um beijo e eu me encolhi. — Precisa de um beijo pra acordar?

Meu Deus, isso é mesmo verdade?

— O tratamento vip está incluído na hospedagem?— perguntei, atônita.— Ou terei que pagar por ele?

— Ainda não decidi— sorriu. — Talvez eu desconte do seu salário….

—Vai pro inferno — respondi, jogando a primeira almofada que encontrei contra o seu corpo.

Marcos me puxou para mais perto e começou a traçar uma trilha de beijos que vinham do pescoço até à minha boca. Em apenas 2 minutos comecei a sentir as mesmas sensações da noite passada e me obriguei a criar forças suficientes para protestar.

—Marcos...

—Hum— murmurou contra minha pele.

—Eu preciso ir pra editora— reclamei, por fim. — Já são 8 da manhã, tô atrasada 1 hora e sabe, meu chefe não é um dos melhores.

Ele sorriu.

Estávamos eu, ele e uma cama. E isso definitivamente não me ajudava a controlar os meus instintos. Marcos mordiscou uma das minhas orelhas, me provocando feito o diabo. 

— Ah é? Quem é esse babaca?— Sua expressão se tornou leve e divertida quando ele me encarou— Vêm, eu te levo.

Parei atônita.

— Como assim me leva? 

Ok.

Eu realmente pensei que não teria como piorar minha situação catastrófica, mas toda a minha certeza se esvaiu quando chegamos no trabalho.

Eu encarei a entrada do edifício antes que meus olhos pudessem ser atraídos para o nono andar. Um pequeno alvoroço se formou entre os funcionários da editora que tentavam visualizar, por fora da janela, aquilo que eu tanto tentava esconder. Eu sabia muito bem as consequências que eu teria se eu aceitasse a carona do meu chefe, só não imaginava que o meu sim me levaria novamente de volta ao colegial. Eu observei os olhares tortos em minha direção enquanto o seguia para dentro do hall.

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