Quatro horas depois, Ayla apareceu do outro lado da tela do notebook, enfiada no prédio do namorado, com uma gosma branca cobrindo todo o rosto. Suas mãos apalparam o líquido antes de xingar baixinho, com os olhos voltados para o espelho.
— Droga, não tá dando certo.
— Que merda é essa Ayla?
—É leite. Leite com maizena e clara de ovo, vi num site de fofoca que ajuda a controlar as linhas de expressão — Ela fitou a câmera do seu computador e me encarou pela primeira vez, parecendo uma múmia desenterrada. — UAU, se eu não gostasse tanto do Armane eu casava com você! Você está espetacular!
Meus cabelos estavam soltos, divididos em múltiplas ondas e eu estava com uma maquiagem leve, embora o batom vermelho destacasse em minha boca. O vestido não era novo mas tinha os seus encantos e marcava boa parte do meu corpo. Embora dona Lúcia tivesse preferência pelas roupas decotadas, eu sabia que ela estaria orgulhosa de mim, depois de me ver anos longe dos holofotes enquanto me escondia atrás das T-shirts e da famigerada calça jeans.
Ayla puxou a gosma do seu rosto, desconectando um fio bem longo do restante da máscara.
— Como você se sente?
— Me sinto como um boi, um boi indo pro abate — Minha voz tremeu.
Eu estava mais nervosa do que quando fiz minha primeira entrevista de emprego, aos 15 anos, numa confeitaria do meu bairro.
— Ah é — gargalhou. — Com certeza pro abate.
Estreitei meus olhos e ela rapidamente deu um jeito em sua risada histérica.
Alguns minutos depois, lá estava eu, me arrastando pelo corredor do prédio do meu chefe. Confesso que apesar do medo, não pude conter meu sorriso quando o vi abrir a porta com um avental nos ombros. Seus cabelos estavam bagunçados, os olhos mais claros do que o normal e o perfume amadeirado me embriagou no mesmo tempo que o cheiro que vinha da cozinha. As mangas da sua camisa estavam cuidadosamente dobradas até os cotovelos e aquelas covinhas destruidoras de coração apareceram em seu rosto assim que ele sorriu. Ergui meus olhos para os dele quando vi o desejo e a entrega escancarada em sua íris.
— Você está linda.
— Obrigada — respondi, entrando no apartamento.
Que por sinal, era infinitamente mais agradável e amplo do que o nosso. Mas de fato, não foi a decoração que me chamou atenção. Observei atentamente cada uma das velas distribuídas sob os móveis, as únicas responsáveis por cortar a escuridão. Marcos era um romântico, afinal, e confesso que tal descoberta me deixou surpresa, depois de anos convivendo com o seu lado badboy narcisista.
— Tá tentando me impressionar?— apontei para o avental e ele sorriu enquanto fechava a porta.
— Talvez mais tarde.
Tá aí, uma frase ambígua que meu cérebro acabou não processando muito bem.
Tinhoso do jeito que era, Marcos se afastou com aquele sorriso despretensioso no rosto, me deixando à mercê dos meus pensamentos conflituosos. Talvez ele estivesse falando da sobremesa, ou talvez a sobremesa fosse eu! Arregalei os olhos, assustada e irritada por estar pensando na sua tentativa barata em me seduzir quando meu chefe resolveu me tirar à força dos meus devaneios.
— Quer uma taça?— perguntou ele, atraindo minha atenção para o vinho jogado sob a ilha da cozinha.
A grosso modo, em termos estéticos, a bebida parecia ser uma daquelas extravagantemente caras, provavelmente originada de algum cantão da Itália e conservada por 1200 anos, na adega de um porão de um colecionador fanático.
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Amor em doses de tequila
RomanceA AUTORA ADVERTE: ESTE POST É CONTRAINDICADO EM CASOS DE SUSPEITA DE UMA PAIXÃO DESENFREADA POR MAUS ELEMENTOS. SE PERSISTIREM OS SINTOMAS A AUTORA DEVERÁ SER CONSULTADA. Caro leitor, eu, jovem, bonita e princesa- digna do nome desse blog - tive o d...