Marcos
Ela tinha borboletas nos pés e andava como se o mundo fosse só dela. Seus passos eram largos enquanto distribuía sorrisos para qualquer um que lhe lançasse um olhar atravessado e sua aparência parecia a de uma adolescente pop que saiu dos anos 2000.
Eu sempre escutei que os melhores escritores estavam escondidos dentro das pessoas mais improváveis e apesar de achar uma expressão boba, hoje eu tive a confirmação.
Não era só uma reunião. E isso ficou muito claro quando o motivo de todo aquele show se jogou na cadeira da minha sala, cruzou as pernas e começou a mascar um chiclete, provocando um barulho azucrinante, que eu sabia que era de propósito.
Cinderela mordeu a boca rosada antes de arquear uma das sobrancelhas sob o olhar entediado e eu comecei a me perguntar onde é que eu estava com a cabeça quando decidi marcar aquela maldita reunião.- Então...- Ela apoiou o rosto em uma das mãos e inclinou a cabeça para o lado. - Eu vim aqui só pra você me olhar ou tem algo importante pra me dizer?
Sonsa.
Eu apertei os olhos pra ela tentando ignorar aquele sorrisinho irritante e me lembrar dos motivos daquele encontro. Mas era impossível com toda aquela alegoria espalhafatosa sentada em minha sala. Cabelo rosa, óculos escuros, meia-arrastão e um visual despojado, tão despojado que parecia ter saído de um bordel. Nada me tirava da cabeça o desmatch instantâneo assim que vi aquele poço de soberba sair de dentro do elevador e a dor de saber que o futuro daquela editora estava em suas mãos.
Ah sim, não poderia deixar de falar daquelas mãos.
Pequenas o suficiente para causar uma guerra nuclear.Eu abaixei o olhar para elas, dispostas sob a mesa e a observei martelar as unhas vermelhas e afiadas contra o vidro, de cinco em cinco segundos.
- Acredite ou não, eu preferia estar dançando nu, de mãos dadas com Nelson do que estar aqui, resolvendo essa merda! Quer por favor parar com essa porcaria?- reclamei e ela parou.
- Então, o que o doutorzinho quer comigo?
- Marcos, meu nome é Marcos!
- Doutorzinho Marcos, qual o problema?
Você!
Pensei. Só Deus sabe como eu me arrependia daquela reunião.- Primeiro que você não pode sair por aí falando mal do meu relacionamento!
- Eu citei seu nome?- Cinderela puxou o chiclete entre os dedos e encarou a goma, indiferente.
- Não - Respondi e ela sorriu.
E então percebi que a guerra já estava perdida. Não dava pra ter uma conversa decente com ela. Eu avaliei aquele projeto de gente, curioso, enquanto via o dejavú bater à minha porta. Sua ousadia e estilo me levaram de volta à 5 anos atrás, perdido em um carro velho com a única pessoa capaz de me irritar tanto quanto aquela garota: Isabela.
- Segundo, precisamos discutir alguns termos antes de você assinar o contrato. Disponibilizamos o seu post nas redes sociais e se ele for bem aceito, podemos trabalhar juntos na próxima publicação. Não costumamos fazer isso com autores iniciantes, mas se tudo der certo, pensei em lançar o teu livro na bienal do Rio, no final do ano.
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Amor em doses de tequila
RomanceA AUTORA ADVERTE: ESTE POST É CONTRAINDICADO EM CASOS DE SUSPEITA DE UMA PAIXÃO DESENFREADA POR MAUS ELEMENTOS. SE PERSISTIREM OS SINTOMAS A AUTORA DEVERÁ SER CONSULTADA. Caro leitor, eu, jovem, bonita e princesa- digna do nome desse blog - tive o d...