Foi só um beijo.
— Foi só um beijo! — reclamei.
Ayla parou, com o pote de cereal na mão e apoiou a outra na cintura.
— Tá e você tá falando isso pra me convencer ou pra te convencer?
Eu a observei despejando leite em uma tigela, enquanto tentava manter a minha dignidade. De fato, não dava pra me defender. O perfume do meu chefe ainda estava em minha blusa de frio que eu só não havia tirado porque os 40 graus lá fora me impediram. Claro, um resfriado nesse calor não é bem vindo, assim como a expressão "caso perdido" assinada em minha testa.
Ayla incluiu uma mistura intrigante de doce de leite e nutella em seu lanche da noite, digno de quem havia levado um pé na bunda.
— Pelo menos você beijou alguém, mesmo que de mentirinha.
Ayla e Armane estavam namorando há quase um mês e não demorou muito para que ocorresse a primeira discussão. O temperamento explosivo de Ayla e a calmaria do Armane seguiam em perfeita harmonia, até que o sapato voador apareceu, deixando dona Cecília de olho roxo.
Obviamente a relação terminou, por pura pressão familiar. Embora fosse um cara descolado, Armane era completamente ligado à família e depois de se deixar levar pela opinião da mãe, resolveu dar um tempo no relacionamento. Ayla, orgulhosa do jeito que era, não aceitou e foi logo jogando o término em sua cara. Agora, ambos estavam de cara virada e de quebra minha amiga ganhou um sapato assassino.
— Eu só vou devolver aquele trambolho que ela chama de sapato quando ela me pedir desculpas, de joelhos! — resmungou. — Eu já deveria saber — Ela andou de um lado para o outro com as mãos na cintura, concentrada demais em sua própria fúria. — Ele é de Áries Isabela! Como eu fui ficar encanada tanto tempo em alguém de Áries? É completamente incompatível com meu jeitinho doce!
Eu levantei meus olhos para ela e comprimi os lábios, tentando controlar o meu sorriso.
— Jeitinho doce?
— É! — Ela arregalou os olhos para mim como quem acabou de descobrir a cura do câncer. — Exato! Porque raios eu tenho que gostar tanto daquela boca hein?
— Quer mesmo que eu responda? — perguntei, largando o notebook de lado.
A programação da minha noite era vestir o personagem. Depois da fatídica reunião da editora, tudo o que eu estava fazendo era escrever as infinitas adaptações. Não eram muitas mas confesso que minha mente estava longe demais — mais especificamente na boca de alguém — o que dificultava o processo e tornava o trabalho ainda mais entediante.
— Luiz Albareda disse que é só dar um chá de sumiço que os homens voltam! Quanto tempo será que demora, hein? — Ela engoliu uma colher inteira de doce de leite, do tamanho do seu desespero.
— Quem é Luiz Albareda?
— Um guru do amor que eu achei no instagram. Ai Isabela, me ajuda. Diz pra ele me procurar.
Eu sorri. Ayla era a pessoa mais desencanada que eu já tinha conhecido e vê-la daquele jeito pelo Armane indicava que ela finalmente havia encontrado alguém à sua altura.
— Eu vou tentar, ok? Quer que eu lhe diga mais alguma coisa?
— Diz que eu sou muito perfeita pra ser desperdiçada. Que eu não sou qualquer uma e que eu sou muito linda. Eu quero que ele me peça desculpas!
— Porque você não liga pra ele? Não é mais fácil?
— Não! Não é. É o mesmo que você ligar pro Marcos.
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Amor em doses de tequila
RomanceA AUTORA ADVERTE: ESTE POST É CONTRAINDICADO EM CASOS DE SUSPEITA DE UMA PAIXÃO DESENFREADA POR MAUS ELEMENTOS. SE PERSISTIREM OS SINTOMAS A AUTORA DEVERÁ SER CONSULTADA. Caro leitor, eu, jovem, bonita e princesa- digna do nome desse blog - tive o d...