Dose número 5

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Mais tarde a justiça divina caiu sobre mim, só pra me mostrar que a mentira realmente tinha perna curta.

Eu era igualzinha à uma doença autoimune prontinha pra destruir a mim mesma. E quanto mais eu tentava consertar as coisas, mais eu me afundava. Depois do desastre daquela reunião, todo o universo resolveu conspirar contra mim mandando a minha mãe direto pro único lugar que ela não deveria estar.

Eu a segurei na porta do prédio tentando impedir que ela subisse. Nada seria tão desastroso quanto isso.

— Mas Bela, eu tenho que ir pessoalmente convidá-lo para o jantar. Não quero que ele pense que sou mal educada.

— Mãe, ele não vai pensar isso, juro, deixa que eu falo com ele — Eu levantei minhas mãos impedindo a sua passagem quando vi sua expressão mudar. Ela cruzou os braços insatisfeita e começou a bater o salto contra o chão.

— Bela, se você não me deixar subir, vou achar que você está mentindo a respeito desse namoro.

— Mãe, não é mentira, mas se você ainda não percebeu, estamos nessa discussão há uma hora. Ele está em uma reunião que não vai terminar tão cedo e eu tenho muito trabalho pra fazer. Então eu vou pedir encarecidamente que você volte outro dia, ok?— Ela apertou os olhos para mim desconfiada. — Agora eu vou subir e você não virá atrás de mim! Vai pra casa!

Eu me afastei, torcendo pra que minhas desculpas fossem o suficiente. Mas ela ainda estava lá, parada, feito uma estátua enquanto me observava chamar o elevador. Eu queria sair o mais rápido dali, sentar na minha mesa e finalmente poder respirar, mesmo que por pouco tempo. O fato é que minha mãe não se contentaria com a minha mentira e dia ou menos dia ela iria dar um jeito de se encontrar com ele.

Meus olhos encararam o seu rosto decepcionado quando escutei as portas do elevador se abrirem.

Santo deus, finalmente.

Eu me aproximei rapidamente, observando os movimentos da dona Lúcia quando bati em algo. Marcos xingou baixinho, pegou o celular do chão e depois apertou os olhos para mim, não muito amigável.

— As pessoas possuem um sistema que elas usam pra evitar de se esbarrar nas outras, eu não sei se você sabe disso. Se chama olhos. Você tem dois inclusive.

— Marcos! — gritou a minha mãe.

Um nó se formou em meu estômago e inevitavelmente minhas mãos foram de encontro ao seu corpo, empurrando-o novamente para dentro do elevador. Eu pressionei o botão de subida e as portas se fecharam antes do encontro.

— Mas que merda é essa? Eu preciso descer — reclamou.

Seus dedos pressionaram novamente o térreo, mas eu o impedi, travando o elevador.

— NÃO! — gritei. — Preciso conversar com você antes.

— E precisa ser aqui? Céus, você é impossível — Ele enfiou as mãos nos bolsos da calça constrangido e suspirou lançando aqueles olhos azuis em minha direção. — Você tem 1 minuto.

— Ok, vou ser bem direta e preciso que você seja compreensível — falei, prendendo a respiração. — Preciso que você seja meu namorado.

Marcos não respondeu.
Seus olhos piscaram para mim por alguns instantes antes de soltar uma gargalhada estridente.

— Vai Isabela, deixa eu descer.

Confesso que foi estranho metralhar aquele pedido absurdo, tão rapidamente.
Muito.
Mas o desespero era grande demais para que eu estendesse este pensamento por mais de dois segundos.

Amor em doses de tequila Onde histórias criam vida. Descubra agora