Dose número 9

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Eu não queria ir naquele baile e ter que encarar o meu chefe depois de tudo o que aconteceu. Eu ainda podia sentir os seus beijos em mim quando cheguei em casa naquele dia e Ayla obviamente notou a diferença alegando que eu estava "reluzindo". É, eu estava mesmo e por um momento me senti novamente como aquela estagiária cheia de esperança e apaixonada pelo grande Marcos Tavieira. Mas agora tudo parecia distante. Nossas vidas tomaram rumos diferentes, não nos dávamos bem e eu ainda estava mentindo sobre a identidade da Cinderela, que graças ao meu esforço, causou uma impressão tão ruim a ponto de quase ser barrada naquela editora.  

Marcos tinha aquela estranha mania de sempre complicar a minha vida e depois do Bruno, eu preferia ficar sozinha, jogada no sofá comendo meus nuggets de sempre. Isso seria de fato levado ao pé da letra se eu não tivesse aberto a minha boca gigante e contado para minha amiga eufórica. Obviamente Ayla surtou, me obrigou a ir na festa e ainda "tentar parecer provocante", nas palavras dela. 

Fazia um bom tempo que eu não me arrumava pra valer e eu odiava ter que concordar com a minha mãe, mas ela estava certa: Bruno conseguiu mudar bastante coisas em mim que eu involuntariamente deixei. Eu encarei a garota que o espelho refletia e arrumei o vestido vermelho que praticamente gritava "ei gatinho, estou aqui". Não foi tão ruim, na verdade eu estava feliz, muito. Talvez estivesse mais se não fossem por aqueles malditos saltos que eu sabia que em algum momento me obrigariam a largá-los para trás, mas de alguma forma eu me sentia viva de novo e desejável.

Naquele momento, uma briga interna surgia dentro de mim e Ayla piorava tudo com os seus comentários. O seu apoio exagerado ao novo casal me deixava tão ansiosa quanto estressada. Eu queria encontrá-lo naquele evento, tirá-lo para dançar e provocar o suficiente para que rolasse um beijo porém, a minha cabeça, sempre coberta de razão, me impedia de sequer olhar naqueles olhos. De qualquer forma, toda esperança se esvaiu assim que cheguei na festa e vi Amanda tentando jogar todo o seu charme para Marcos. Ele sorriu pelo canto da boca e eu comecei a sentir o efeito do salgadinho da esquina, o mesmo que eu havia comido minutos atrás.

Então ele tenta me beijar e depois vai direto chorar no colo da aranha pevertida?

Eu não estava nada bem e foi assim que comecei a beber. Na verdade nem me lembrava mais quando foi que dei o primeiro gole. Depois daquela festa de fim de ano, eu tinha prometido que nunca mais beberia na vida e só agora pude me lembrar de que depois do primeiro copo, a tequila parece água.

Eu encarei Marcos novamente se desviando da aranha venenosa enquanto ela corria atrás.

Dane-se ele, hoje quero ser o centro das atenções.

E pronto, a bomba para a noite desastrosa já tinha sido implantada.

Joguei meus cabelos para o lado enquanto eu rebolava no ritmo da música e ondulava os meus quadris. Não era tão difícil. A batida envolveu o meu corpo tão rápido que, aos poucos, comecei a sentir os olhares ao meu redor e o efeito do álcool que eu havia ingerido. Eu estava bêbada, e esse era o meu gás.

Volta e meia Ayla me encarava de longe dando uma rápida conferida no meu estado. Eu desci até o chão quando o ritmo do funk alcançou os meus ouvidos e gargalhei jogando a cabeça para trás. 

Que sensação maravilhosa, porque eu nunca tinha feito isso antes?

Eu não sentia mais os meus pés doloridos e apertados com os saltos. Eu só queria ser levada pela música e cair na minha cama no fim da noite esperando pela ressaca de amanhã e o mau humor do meu chefe idiota e gostosão. Eu balancei mais uma vez o meu quadril quando alguém me cutucou pelo ombro.

— Senhorita — chamou o garçom.

Ele trazia em uma das suas mãos uma bandeja cheia de bebidas e eu comecei a me perguntar o motivo dele ter interrompido o meu show.

Amor em doses de tequila Onde histórias criam vida. Descubra agora