Capítulo 28

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NOS CAPÍTULOS ANTERIORES, Shirley e os outros adentraram a fazenda da Ordem Sangrenta e descobriram algo horrível: pessoas mortais tendo seu sangue drenado por máquinas, como se fossem animais. Ao serem emboscados pela caótica Moyra Crichy, os adolescentes testemunham a morte de Thomas Dernot e Shirley é instruída a prosseguir para uma outra câmara se quisesse salvar a vida de Ryan. Que outras surpresas terríveis a Ordem estará guardando? 

Boa leitura!

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CAPÍTULO 28: A FILOSOFIA DOS MONSTROS

(escrito por BERNARDO CORRÊA)

A cabeça de Ryan estava dolorida. Ele tentou abrir os olhos, sem saber exatamente o que tinha acontecido, e só encontrou o breu. Ótimo, falou em sua cabeça. Vou precisar de óculos pra longe também agora. Colocou-se de pé e olhou ao redor, ainda tentando enxergar alguma coisa. Estava escuro e frio, mas também não havia som vindo de lugar algum, como se houvesse headphones sobre seus ouvidos. Tá, talvez não seja a minha visão de velhinho falhando outra vez, deduziu, cada vez mais incomodado. Por que parece que de repente eu estou no meio de um vácuo?

Então ele se lembrou: a emboscada!

Tinha sido tão rápido que ele não conseguira tempo de absorver o que havia acontecido. Como combinado com os outros, Ryan tinha se separado deles para ir até em casa, querendo alertar o pai sobre os eventos que estariam acontecendo no Cemitério Apócrifo. Assim que desceu da Carruagem Infernal e colocou os pés na Magimenium Village, percebeu que havia alguém o seguindo. Antes que pudesse improvisar algum truque para se esconder e fugir, sentiu alguma coisa dura batendo na cabeça e escorregou para o chão. A última coisa que lembrava de ver era um rosto feioso de homem com as presas para fora.

Que maravilha, Ryan, você foi raptado! Parabéns!

Certo, ele se lembrava do que havia acontecido, mas isso não explicava por que estava no meio do nada agora. Será que seus captores o haviam feito consumir algum tipo de alucinógeno enquanto ele ainda estava desacordado? Nunca havia provado nenhum tipo de droga, mas sabia que alguns vampiros metidos a descolados gostavam de adulterar o sangue que consumiam para obterem efeitos alucinados; não era nada exatamente ilegal, mas também não era o tipo de coisa que alguém certinho como ele deveria fazer. Então é assim que é se sentir drogado? Tá bom, eu nunca que vou atrás de droga nenhuma, aprendi minha lição.

Mas alguma coisa o dizia que não era essa a resposta.

Continuou a tentar enxergar alguma coisa naquele breu inebriante, a ponto de fazer a cabeça doer. O frio fazia-o se abraçar no casaco, o que era uma experiência à qual ele não estava acostumado. Aliás, havia um monte de coisas às quais ele não estava acostumado. Não fazia ideia de que ser um mortal pudesse ser tão difícil: quer dizer, comer por exemplo era uma tarefa muito mais complicada quando o seu estômago estava acostumado a receber somente sangue de animais pequenos! Aparentemente os mortais retinham gases dentro dos próprios corpos que, de vez em quando, saíam pelo traseiro num enorme PUM!. Ryan estava certo de que jamais esqueceria o seu primeiro peido.

― Por que você tem pensamentos tão constrangedores? ― uma voz conhecida o fez se sobressaltar, no que o garoto se virou para trás imediatamente. Os olhos de Ryan se arregalaram tanto que doeu. Não é possível, pensou, abrindo a boca num perfeito "O". ― É claro que é possível, esquisitão ― disse à pessoa à sua frente num tom impaciente. ― Ou você ficou cego de repente?

Ryan não estava cego, apenas cético de que seus olhos podiam estar vendo aquilo. O garoto que tinha acabado de conversar consigo era alto e magricelo. Seus cabelos negros como a noite estavam bagunçados na cabeça e caíam lisos sobre a testa, formando uma pequena franja. As roupas no corpo eram comuns: calça, tênis, camisa de botões e um suéter azul marinho batido. Os olhos, meio enevoados e distantes, eram castanhos e muito escuros, de certa forma bonitos até. Lábios finos, quase imperceptíveis, junto à pele excessivamente pálida, lembrando um papel fino e fácil de rasgar. Se Ryan estivesse olhando no espelho, não haveria nada de anormal: aquele cara na sua frente era igualzinho a ele.

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