Capítulo 25

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NOS CAPÍTULOS ANTERIORES, Shirley, Keyla, Todd, Dewie e Ryan concordaram num plano para descobrir os planos da Ordem Sangrenta: os adolescentes, com exceção do último, iriam até onde os Sangrentos haviam combinado de se encontrar com Pittorch, no cemitério. O que será que eles vão descobrir ao assistir esse encontro entre os supostos vilões da história? Será que Ryan irá se sair bem em contactar o pai em busca de ajuda?

Boa leitura!

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CAPÍTULO 25: SUSSURROS NO CEMITÉRIO

(escrito por BERNARDO CORRÊA)


Keyla não era muito fã de cemitérios. Por algum motivo, a ideia de que havia um monte de gente morta sobre o chão onde estava caminhando agora mesmo era uma noção que embrulhava seu estômago, mas ela estava dando o máximo de si para fingir que não se importava. A noite estava fria no Submundo, regada por uma fraca garoa. Uma das primeiras coisas que a bruxa tinha colocado em seu inventário havia sido o casaco grosso de couro que a protegeria do frio, além de um pequeno galho tirado de uma árvore de Crow Woods, comprado numa venda por um preço bastante exorbitante. Precisaria de todo poder e energia que pudesse encontrar, sabendo não poder contar apenas com a magia presente no próprio corpo, que era muito mais do que finita. Não era a única, é claro, preocupada em fazer com que tudo estivesse pronto para dar certo hoje à noite, já que a vida de todos podia estar na linha. Não poderia haver erros no cemitério.

― Eu já agradeci pela ideia de eu trazer outras roupas na mochila, Keysis? ― murmurou Dewie enquanto os adolescentes se esgueiravam entre as lápides, escondidos pela névoa e pelo breu. Eles andavam em fila indiana: Todd na frente, depois Keyla, o transmorfo e, enfim, Shirley. ― Assim eu posso me transformar sem me preocupar em, você sabe, rasgar as roupas que tô usando.

A bruxa deu um sorriso.

― De nada, irmãozinho. Ninguém quer te ver só de cueca.

Os outros deram risinhos, muito baixos, contentes em ter alguma descontração. Podiam não estar falando, mas o medo era presente em cada um, como se fosse uma presença inescapável. Keyla não parava de pensar no pior, imaginando escapes para possíveis encrencas em que eles se metessem, mania que aprendera durante o trabalho como Patrulheira. O Cemitério Apócrifo era um grande campo aberto, longe dos centros comunitários e margeado por árvores de floresta. As criaturas do Submundo, por mais contraditório que isso parecesse, não gostavam de caminhar ao lado da morte, então deixavam seus falecidos praticamente com o próprio bairro. Geralmente, as famílias enterravam os seus em locais próximos, tendo determinadas áreas somente para si. Este era outro motivo para a loira se sentir desconfortável neste lugar, já que sua família biológica era desconhecida. Em algum lugar dali, as pessoas que lhe haviam dado a vida descansavam a morte, completamente alheios a ela.

Este lugar é terrivelmente depressivo.

Nervosismo fazia Keyla roer as unhas. Evitava olhar as lápides, mas tinha de admitir ser difícil não fazê-lo, devido ao tamanho delas: grandes pedras brancas com inscrições rebuscadas, homenagens a pessoas que não estavam mais aqui para ver. Poucas faziam menções aos demônios, tipo de crença que com o tempo se tornou cada vez mais tabu, mas ainda assim era notório ver algumas esculturas de seres com chifres curvados e asas de morcego todo aqui e ali, guardando os defuntos. A bruxa costumava se considerar cética com relação a esses seres, mas sua opinião havia mudado drasticamente desde Crow Woods: não só sua amiga havia sido afetada pela bênção de uma criatura dessas (dragões eram considerados um tipo de demônio), como seu ex-chefe havia se revelado um devoto, usando os bizarros poderes demoníacos que Keyla sequer sabia ser possível de existirem.

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