Capítulo 20

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NOS CAPÍTULOS ANTERIORES, foi descoberto que Harold Pittorch estava por trás dos ataques que Shirley sofreu no Mundo Mortal. Segundo o vampiro, ela é descendente da família Ghuven, vampiros pertencentes à Ordem Sangrenta que 15 anos antes haviam feito o Massacre das Brocas. Quando essa nova informação é revelada, Pittorch avança para tentar matar Shirley, mas é impedido por Todd e, depois, Dewie. Uma batalha acontece, Ryan chega para ajudar a garota a escapar, mas acaba sendo atingido pela criatura demoníaca que Pittorch invocou para lutar. Num surto de poder, Shirley destrói a criatura sozinha e vê Harold ir embora impressionado. Depois, ela vai ajudar Ryan, que está seriamente ferido. Quando os dois trocam um beijo quase de despedida, eles percebem que a bênção de Shirley foi passada para o garoto, que tem a vida salva. Quais serão os segredos que a Bênção do Dragão ainda guarda? 

Boa leitura!!

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CAPÍTULO 20: POR UM BEIJO E UMA MORDIDA

(escrito por BERNARDO CORRÊA)

Um cheiro forte penetrou as narinas do garoto quando ele acordou. Ryan abriu os olhos devagar, a cabeça ainda girando, tentando se situar. No ar, o aroma de desodorante masculino, suor e pelo molhado fazia-o se sentir num vestiário da escola, como se estivesse tendo um daqueles típicos pesadelos de adolescente sobre despertar no meio do colégio só de pijamas. Pôs a mão sobre a testa e piscou os olhos, vislumbrando sua posição: estava no que parecia ser um quarto, arrumado as pressas, onde havia uma cama para solteiro, um armário de madeira faltando uma das portas, alguns pôsteres com garotas bonitas em posições sexy nas paredes e uma televisão de tubo pendurada num suporte de aço. Havia algumas garrafas de bebida alcóolica no chão, a um canto, a maior parte vazias. A lâmpada no teto era elétrica, diferente de como era na maioria das casas no Submundo, emitindo uma luz branca sobre o recinto, deixando-o claro. Não havia nenhuma janela.

Ryan sentou-se sobre o colchão, tentando se lembrar o que havia acontecido. Ao olhar para baixo e se deparar com uma faixa branca enrolada em seu abdômen, relembrou com facilidade toda aquela cena à beira do Lago dos Diamantes Rosa. O ponto onde havia sido atingido pela criatura demoníaca não estava mais doendo tanto, mas ainda havia alguma ardência naquela região. Passou os dedos por cima e, de fato, sentiu um breve latejar, mas soube no mesmo instante que não era nada de muito gritante. Estava bem, são e salvo, apesar de ter tido certeza que morreria. Graças a ela, o rapaz continuava vivo.

Ele subiu as sobrancelhas, impressionado, e logo sentiu um medo irradiar do peito. Onde está Shirley?, pensou imediatamente. A última coisa de que se lembrava era do beijo, o que fazia o vampiro sentir uma torrente de emoções de uma vez: estava contente, ao mesmo tempo que preocupado e terrivelmente constrangido. O pensamento de que aquele havia sido o seu primeiro beijo não tardou a aparecer, fazendo-o morder um lábio. Não sabia como era esquisita a sensação de ter outra boca se derramando sobre a sua e temeu o que a menina teria pensado de seu desempenho. Droga, por que eu tô pensando nessas coisas? Eram os hormônios, diria sua mãe. Nem mesmo os vampiros escapavam desses danadinhos.

O rapaz se colocou de pé sem dificuldade, sentindo os pés descalços contra o chão. Estava vestido apenas com a calça de antes, mas encontrou a camisa pendurada no encosto de uma cadeira ao lado da cama. Como o tecido dela era escuro, quase não dava para perceber tanto a enorme mancha de sangue na altura da barriga, misturando-se à cor natural da blusa. Vestiu-a, fechando os botões até a metade e depois encontrou os tênis num canto, calçando os pés também. Assim que terminou de amarrá-los, ouviu o som de vozes em algum outro cômodo, dando a entender que havia gente naquele lugar junto com ele. Deve ser o pessoal, deduziu, imaginando que Keyla, Dewie e Shirley o teriam trazido até ali após todo aquele movimento em Crow Woods. Não saberia dizer o que teria acontecido com Todd.

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