Capítulo 22

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NOS CAPÍTULOS ANTERIORES, Shirley acabou de descobrir sobre todas as coisas que Ryan escondeu, após eles terem se beijado pela primeira e segunda vez. Agora ela os amigos estão alojados no apartamento dos amigos de Dewie, querendo ficar escondidos, já que Harold Pittorch poderia ir atrás da garota. Como será que ela vai lidar com todas essas mudanças e emoções? O que isso tudo vai provocar nela?

Boa leitura!

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CAPÍTULO 22: SANGUE E OLHO-MORTO

(escrito por ALÍDIA PACHECO)


O turbilhão de emoções na cabeça de Shirley só poderia ser descrito assim: como um turbilhão. Como ela podia ter sido tão estúpida esse tempo todo? Estúpida, inocente, boba... Uma completa otária. Se frustração matasse, a garota já estaria enterrada sete palmos abaixo da terra. Não apenas precisava superar emocionalmente a ideia de que seus pais eram mesmo aqueles criminosos Ghuven e que a Ordem Sangrenta estava atrás de si para usá-la a fins escusos, como agora tinha de engolir e compreender o fato de que o garoto que a estava supostamente ajudando esse tempo todo era na verdade um mentiroso em busca apenas de satisfazer as próprias ambições. A dor que batia no peito da vampira não era apenas a da traição ou a da decepção, porém uma muito mais profunda, ardente e incrivelmente gélida: era a tonteante dor da solidão. Eu tenho apenas a mim mesma agora, concluía a garota, se assustando. Todos ao meu redor só estão interessados na maldita Bênção.

Era pelo menos metade verdade. Pittorch, que inicialmente havia sido alguém em quem Shirley confiara, havia se revelado apenas interessado em arrancar aquela bênção de dentro da menina, assim como a Ordem Sangrenta da qual ele fazia parte. A garota se lembrou da maneira como o velho a havia feito prometer que não contaria a ninguém sobre a família Ghuven, o que na época havia soado um pouco esquisito: Harold queria, com isso, não permitir que ninguém soubesse quem Shirley era de verdade, o que seria perfeito para o seu plano. Era por isso também que ele a fizera ficar no Submundo, onde ele tinha muito mais poder e influência: suas duas tentativas anteriores de apanhar a vampira haviam dado errado no Mundo Mortal, logo era lógico que a melhor opção era trazer o seu alvo mais para perto. Os adolescentes terem ido atrás de Korloch talvez tivesse sido uma grande coincidência que acabou por favorecer o vampiro Mentis, que a aproveitou quase à perfeição. Não fosse pelos amigos de Shirley.

Eu estou mesmo sozinha?

Certo, talvez esse sentimento de solidão fosse infundado. Afinal, não fosse Keyla e Dewie, a garota provavelmente nem estaria mais viva. Mesmo a conhecendo a tão pouco tempo, aqueles dois haviam lutado bravamente para protegê-la e, pelo que parecia, haviam se machucado durante toda aquela loucura também. O apartamento onde ela estava agora pertencia aos amigos do transmorfo, dando à garota alguns momentos de tranquilidade para pensar e digerir todas as reviravoltas que estavam sendo jogadas em seu caminho. Havia ainda Todd, que a menina não entendia ainda por que a havia ajudado em Crow Woods. Pelo que sabia, ele era alguém que só se importava consigo mesmo e com o status de sua família, mas talvez essa percepção estivesse equivocada também. Se Dewie não tivesse aparecido no último momento, ele teria morrido tentando me salvar. A vampira queria entendê-lo melhor, saber o que realmente motivava aquele garoto.

Talvez eu não esteja mesmo tão sozinha.

Shirley estava agora deitada na cama daquela garota Piper, os braços recolhidos num abraço e as pernas esticadas por cima do colchão, sem força para mantê-la de pé. Ela olhou os próprios membros, suas mãos longilíneas, pensando como seu eu vinha se transformando durante esse último mês. Não fazia muito tempo que ela pensava que o máximo que conseguiria este ano seria entrar pro time de luta da escola, mas agora sabia ter poderes muito maiores e surpreendentes. Além de Keyla e Dewie, esta era outra companhia com que a jovem tinha de se conciliar: o monstro vivendo dentro de seu corpo, o seu lado vampira. Quanto medo eu tive de você, pensou a menina, como se pudesse conversar com sua identidade maléfica. Quanto medo eu tenho.

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