Capítulo 26

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NOS CAPÍTULOS ANTERIORES, Shirley e os outros descobriram que o verdadeiro espírito do Dragão da Alma estava dentro da garota desde a infância dela e que esse era o grande motivo de Pittorch querê-la. Quando este morre atacado por vampiros enviados pela Ordem Sangrenta, a última coisa que revela é o nome do líder dos Sangrentos. Com essa informação, os adolescentes percebem que Ryan pode estar em perigo. O que será que vai acontecer?

Boa leitura!

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CAPÍTULO 26: A CASA DOS MALEDICTUS

(escrito por BERNARDO CORRÊA)

Shirley se segurava no banco duro de Mary Jane, a kombi, chacoalhando através das Brocas vampíricas com o estômago cada vez mais embrulhado. Enquanto Dewie dirigia no lugar de motorista e Keyla o acompanhava no banco da frente, os vampiros compartilhavam o espaço de trás, todos envoltos num desconfortável silêncio. Ninguém precisaria ser um gênio para descobrir o motivo de tanta apreensão: até Todd, que não era exatamente amigo de Ryan, parecia sentir alguma preocupação, mordendo o lábio inferior. As informações que Harold Pittorch havia dado no Cemitério Apócrifo haviam alterado absolutamente tudo e Shirley não conseguia um minuto para parar e pensar sobre o assunto. Ryan pode estar em perigo e a culpa é toda minha, ficava remoendo, incapaz de imaginar coisa diferente. A culpa é toda minha.

No momento em que Pittorch deu seu último suspiro, a garota havia sacado seu telefone e discado o número do rapaz, torcendo com todas as forças para que ele respondesse. O tempo que ficara com o celular ao ouvido, esperando, denunciou que algo realmente estava errado: Ryan não respondia às ligações de nenhum dos amigos, não respondia às mensagens e parecia inteiramente incomunicável. Merda, merda, merda! Algo realmente devia ter acontecido e, se as palavras de Pittorch fossem para ser levadas a sério, só poderia ser algo sombrio. Shirley sentia como se o seu coração tivesse sido retirado do peito e sido esmagado por um martelo grande e pesado, dilacerado em uma porção de micro pedacinhos. Raiva crescia em seu corpo como um vírus, tomando-o por completo junto daquela culpa ardente, fazendo-a sentir as mãos ficarem suadas e a vista meio embaçada. Eu tava com raiva dele, pensava, contagiada por consternação. Eu tava com ódio dele.

Na cabeça da vampira, era toda aquela sua revolta que havia provocado isso agora. De algum modo, o universo a estava castigando, fazendo com que Ryan estivesse em um grande perigo. Quer dizer, era mesmo culpa dela o garoto ter ido até o pai quando os outros se dirigiam ao cemitério e isso não dava para negar. Shirley queria fazê-lo se sentir pequeno e excluído como uma forma de vingança por ter escondido todas aquelas informações, mas só agora conseguia enxergar como tinha sido infantil. Keyla tinha completa razão em dizer que ela estava exagerando, que o menino, apesar de realmente ter cometido erros graves e que impactaram pessoas ao seu redor, não merecia por completo o tratamento que estava recebendo. Se arrependimento matasse, Shirley já estaria enterrada a sete palmos do chão no cemitério.

Mas agora eu tô aqui, pensou a garota, observando a paisagem decrépita das Brocas passando pela janela e lembrando todo o medo que aquele lugar havia lhe provocado na sua primeira visita ao Submundo. De volta aonde tudo começou.

Não se preocupe, Ry. Eu estou chegando.

― Qual é o nosso plano mesmo? ― perguntou Todd, que parecia tão ansioso quanto todo mundo naquela kombi. ― Ou a gente só vai chegar lá e perguntar com educação aonde o nerd tá?

Keyla batucava com os dedos na porta do veículo, pensativa.

― Primeiro a gente se preocupa em achar o lugar. Vamos num passo de cada vez.

A Ordem SangrentaOnde histórias criam vida. Descubra agora