𝗺𝘆 𝗯𝗿𝗼𝘁𝗵𝗲𝗿

vinte

Não sei se foi a melhor ideia ter voltado ao hóquei. Talvez não.

Eu achei que tudo estava normal e bom, achei que se eu voltasse talvez eu iria me sentir bem de novo. Mas talvez eu tenha feito uma coisa errada.

Quando eu entrei no vestiário masculino para deixar minhas coisas, todos os meus amigos do time comemoram por eu ter voltado. Foi uma sensação boa.

— Que bom que está de volta, cara — um deles diz — O time estava uma merda sem você.

Eu não tinha certeza, então apenas sorri.

— May, não precisa voltar agora se não se sentir preparado. Tome o tempo que quiser. — ouço o treinador falar.

— Não, 'tá tudo bem. Acho que eu estou pronto para voltar.

— Tudo bem. Pessoal, daqui a dez minutos começamos o treino.

Guardo minhas coisas no armário e apenas fico ouvindo a conversa do pessoal. Só por ouvir mesmo, eu não tinha o que falar.

— E então, May...

— E então, o quê?

— Como foi com a Hidalgo?

— O que quer dizer com isso?

— Aquilo lá.

— Sabe que pode usar a palavra sequestro, sequestrado e entre outros, não é? — pergunto.

— Achei que ia te ofender.

— Enfim, prossiga.

— Como que foi?

Se eu fosse descrever cada minuto daquele inferno, ele ia pedir para eu parar de falar.

— Um inferno.

— Deve ter sido pior com a Hidalgo.

— O que quer dizer com isso? — perguntei.

Ele deu de ombros. Eu não fazia ideia do que ele estava querendo dizer.

— Imagina, você já estava na merda, com a Hidalgo, você tava fudido.

— Acho melhor você parar por aí, cara.

Eu não ia falar da minha irmã e daquela porra toda que aconteceu para um cara do time. Eu não chegaria a esse ponto.

— Olha, Sebastian, eu não me sinto muito à vontade de falar isso com você. Acho que você entende, 'né.

— Eu só queria saber.

— Mas eu não vou ficar falando da minha irmã para você.

Meu Deus, eu não acredito que eu falei isso. Puta merda, por que eu sou assim?

Merda. Merda. Merda.

— O que você disse?

— Nada.

— A Sabina é sua irmã? É isso que você disse?

Dei de ombros.

— Está falando sério?

— Não conta 'pra ninguém, sério.

— Tudo bem.

Eu sabia que uma hora a escola toda iria ficar sabendo, mas eu preferia deixar do jeito que estava. Ninguém precisava saber ainda.

Quando eu voltei pra casa depois do treino — que por sinal, foi muito bom ter ido — , não sabia como contar a Sabina sobre eu ter contado ao Sebastian sobre ela ser minha irmã. Mas bom, eu iria ter que contar.

— Sabina, preciso te contar uma coisa.

Ela estava dormindo.

— Esquece. Eu te conto amanhã. Boa noite.

Vou para a cama e acabo dormindo.

continua...