Capítulo 4

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Miguel a deixou na sala e foi dormir. Dentro do seu quarto ele se encostou contra a porta e respirou fundo, fechando os olhos. A noite tinha sido completamente diferente do que ele tinha imagino. Pensava que ia jantar, ler uns artigos e dormir, mas agora tinha uma tal de Poderosa se preparando para dormir sem seu sofá. Miguel se afastou da porta, passou as mãos pelo rosto. Caminhou até a cômoda e se olhou no espelho. O homem que via estava melhor ontem.

Ele parecia ter tirado um peso dos ombros ao ajudar essa moça. Não sabia se tinha causado algum impacto na vida dela, mas sentia que aquilo era só o começo.

Na sala, Angélica olhava tudo ao redor em um misto de confusão e alívio. Alívio por aquele homem não ter feito nada com ela, ter a tratado bem, lhe alimentado, dado uma roupa quente para vestir. O travesseiro era macio e o sofá era bem confortável. Há tempos não se sentia tão bem, como se soubesse que sua noite de sono seria a mais perfeita dos últimos meses.

Quando ela terminou de se aconchegar, suspirou. Os olhos fixos no teto, momentos daquela noite passavam na sua frente como um filme. Miguel a havia tratado como nenhum homem a tratou na vida. Foi respeitoso, carinhoso, gentil. Então concluiu que isso era o mais próximo de um príncipe encantando como aqueles que lia nos livros quando criança. Aquele que sua mãe disse não existir e exigiu que ela apagasse essa ideia boba.

Mas Angélica nunca apagou, e tinha os príncipes como seu ideal de homem. Eles eram honestos, corajosos e bonitos. Miguel já era bonito, corajoso também parecia ser algo de sua característica já que deixou uma prostituta sozinha em sua sala. Ela desviou o olhar para a lareira quente, o ambiente inteiro a convidando para descansar. Fechou os olhos e se entregou.

Na manhã seguinte, Miguel acordou bem cedo, como de costume. Apesar de ter sido difícil pegar no sono, seu descanso foi tranquilo. Levantou devagar, coçando as costas nuas. Se lembrou que tinha visita, logo tratou de vestir uma camiseta antes de sair do quarto. Não queria assustar a moça.

Ele caminhou em passos silenciosos até a sala.

Lá a imagem que viu deu o primeiro toque de humor no seu dia.

Poderosa estava total torta dormindo em seu sofá, uma perna pra fora da coberta, um braço acima da cabeça, a boca levemente aberta. Sorriu, ele nunca tinha visto nada tão adorável. Se aproximou dela devagar e percebeu que a peruca tinha saído completamente de lugar, expondo os fios ruivos. Seus dedos não resistiram passear pela maciez dos fios. Ela era bem mais bonita sem a peruca.

Miguel percebeu que ela estava acordando, seu corpo se esticando preguiçosamente. Ele se afastou rapidamente e agiu como se estivesse chegando na sala agora, com um sorriso no rosto.

— Bom dia. — ele disse. — Dormiu bem?

— Muito bem, seu sofá é bem gostoso. — ela disse em uma voz rouca. — Mas ainda está muito cedo, não?

Ele sorriu ao notar um certo mau humor acompanhar essa última frase dela.

— Está, mas eu acordo cedo mesmo. — ele olhou para o relógio na parede antes de continuar. — Tenho que estar no trabalhando em algumas horas.

Angélica percebeu que talvez ali fosse à parte que ela deveria ir embora.

— Claro. — ela falou, um pouco mais desperta, se sentando no sofá. — Pode me dar uma carona até o posto?

Ele a olhou intrigado antes dela continuar:

— Preciso encontrar a Furacão, minha amiga. — ela explicou e ele concordou um pouco contrariado.

Miguel então concordou e se afastou para a cozinha. Angélica não tinha muito o que falar, pegou suas roupas da noite anterior e foi para o banheiro se trocar.

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